Capítulo 08

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  O mundo pareceu se tornar menor quando ela foi arrastada da sala do Rei e entregue aos cuidados do seu filho mais novo. Macau guiou os guardas para levá-la até um dos muitos quartos do grande palácio, e ordenou que ficassem de guarda na porta enquanto ele ia atrás de alguém para, como seu pai tinha ordenado, "dar um jeito" na princesa.

Durante o trajeto, Hera ficou imóvel. As palavras ditas pelo rei de Critino ainda ressoavam em sua mente como um maldito lembrete de sua vulnerabilidade.
"Macau, leve Hera daqui e a traga mais apresentável, seu irmão cuidará do nosso outro convidado."

Ela sabia exatamente o que aquilo significava.

Haviam chegado no fim da linha, e a história parecia terminar com Pete morto e ela sendo usada como moeda de negociação entre o rei de Critino e seus familiares.

Hera foi deixada sentada em um sofá confortável, dentro de um quarto relativamente aconchegante. A decoração do cômodo seguia os mesmos padrões que podiam ser observados no castelo, e ela atentamente mentalizou cada detalhe. Suas algemas foram retiradas assim que entrou no quarto.
Não queria levantar, e nem sabia se possuía força suficiente para fugir. Duvidava que, com a alimentação precária que recebeu nos dias em que esteve aprisionada, fosse capaz de correr por mais de cinco minutos sem cambalear e a visão ficar turva. Entretanto, seus olhos teimosos ainda vagavam pelo quarto à procura de algo que pudesse ser usado caso houvesse um confronto. Talvez, sempre buscar algo para lutar e sobreviver estivesse em seu sangue, assim como sempre esteve no de sua mãe.

Porém, nada ali parecia servir. As cortinas eram presas em suportes altos demais para se alcançar sem o auxílio de uma escada. Não havia candelabros nas mesas de cabeceira ou na pequena penteadeira lateral. As gavetas aparentemente estavam fechadas. Sentia-se vulnerável e sem saída, e ter ouvido de Macau que dois guardas guardavam a porta trazia um terror que não tomava conta de seu corpo a anos. Começou a respirar com dificuldade, sentindo o ar faltar nos pulmões. O sol brilhava do lado de fora, mas sua visão ainda não havia se adaptado completamente à nova iluminação. Agora, conseguia sentir claramente os efeitos do tempo em que ficou aprisionada.
A porta foi aberta, e Hera afastou-se instintivamente, temendo o que Macau poderia fazer com ela ali, onde ninguém podia ver.

— Me desculpe pelo atraso, Princesa Hera, mas você ficaria impressionada com a pouca quantidade de servas que estamos tendo ultimamente. Tenho certeza que a senhorita não sofre com isso na Sardônica, não é mesmo? — Ele trouxe consigo um balde cheio de água, e alguns utensílios que a princesa identificou como sendo semelhantes aos que suas criadas usavam para preparar seu banho.

— O que pensa que vai fazer? — Perguntou, a voz falhando em alguns momentos devido à secura na garganta.

Macau adentrou mais o quarto, sem prestar atenção nas palavras de Hera, e o corpo dela ficou enrijecido com a entrada do príncipe. Ela expirava e inspirava com dificuldade, como se a qualquer momento seus pulmões fossem falhar. Com a adrenalina preenchendo seus músculos, ela se levantou e caminhou cuidadosa e silenciosamente até a porta. Quando a alcançou e tentou puxar a maçaneta para abri-la, percebeu que estava trancada, e, se o planejamento desse castelo fosse igual ao do seu, estava trancada pelo lado de fora. O coração começou a palpitar e as mãos suaram. Os olhos esverdeados fitaram a porta do banheiro, enquanto o corpo percorreu todo o cômodo e vasculhou todos os lugares possíveis. Não havia nada cortante ou afiado o suficiente. O que faria caso o Príncipe Macau tentasse algo contra ela? Estava fraca demais e sem nenhum objeto para se proteger.

Por que ele trancou a porta? Eu sou uma mulher, não sou? Não é possível que ele tema que eu seja mais forte. Não tem nada aqui além de móveis… Será que ele esvaziou tudo antes de me trazer aqui? As gentis palavras que me disse anteriormente eram para me manipular e me distrair, afinal, ele obviamente sabia o que o rei pediria para fazer. Ele sabe qual é meu papel aqui. Sabia que ficaria sozinho comigo uma hora ou outra. Portas trancadas. Nenhum objeto cortante ou perfurante. Nenhuma criada sendo designada para cuidar de mim, ele mesmo decidiu fazer isso. Por que? Por que tudo está acontecendo de novo? Por que parece que sempre estou voltando para o lugar de partida, sem ter dado nenhum avanço? Tudo ficaria bem se eu tivesse me casado, por que me tiraram isso também?

Luxúria e poder | VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora