04 † Rosto branco

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"Alguns dias eu me sinto mais magro que no outro dia. Às vezes, não sei se meu corpo pertence a mim."

— Cradles, Sub Urban.

E M I L Y F R A N C O

01 de abril
Forks, Washington

Termino meu banho e visto um cropped vermelho de crochê e um short preto, perfeito para o conforto. No momento tenho me permitido relaxar, principalmente após a morte de minha mãe, preciso fazer como Luke me disse, seguir em frente.

Saio do meu quarto para encontrar meus amigos, mas no caminho, posso perceber que o hotel está muito vazio. Não ouço nenhuma voz ou sequer vejo os adolescentes desesperados gritando por aí.

Tenho a estranha sensação de que alguém me observa de longe, calculando meus passos e contando meus batimentos cardíacos descontrolados. E mesmo que eu esteja assustada, algo move meus pés automaticamente, talvez seja minha curiosidade ou uma força maior querendo que eu continue buscando o que está atrás de mim.

Um arrepio percorre todo o meu corpo, trazendo o medo ao sentir um forte aperto em meu ombro. Meu coração salta, e assim que me viro vejo um idiota usando uma máscara branca cobrindo toda sua face.

— Você está louco?! Quem é você?! — Tento recuar, mas ele prende seus braços em volta do meu pescoço, o que me faz entrar em desespero e perder rapidamente a minha respiração.

O homem parece pegar algo que está em sua calça, percebo que é uma faca de porte pequeno. Sua lâmina brilha e agiliza o pulsar do meu coração.

Tento me debater em seus braços, mas ele ousa me machucar cada vez mais. O mascarado é insensível, não se importa de suas mãos estarem me machucando.

— Se você gritar, eu vou foder a sua garganta com a porra desta faca! — Ele afirma com sua voz assustadora. Não consigo reconhecê-lo.

Escolho não gritar, mas este episódio maluco me lembra, de relance, da morte da minha mãe. Isso me teletransporta para o passado, e eu odeio ter que enfrentar o passado.

É doloroso demais.

Não consigo mais me conter, derramo lágrimas lembrando dos momentos torturantes por quais tive que aguentar.

Lembro da minha mãe, de todos os machucados, os sonhos nos quais ela participa, o medo de morrer e fazer parte da terra, assim como ela.

Derramei lágrimas todas as madrugadas, meu travesseiro se encharcava apenas pelo medo de ter o mesmo rumo que mamãe, ou quem sabe pela vontade de me juntar a ela.

Até hoje, meu travesseiro continua sendo meu maior confidente. E eu agradeço por tê-lo ao meu lado, porque de todas as pessoas que existem em minha vida, é apenas ele que sabe sobre meus maiores tormentos. Choros, lágrimas, rios, apenas ele conseguiu secá-las.

Apenas ele sabe o quanto me sinto sozinha, mesmo com tantos amigos me dizendo que estão comigo. Apenas ele sabe o quanto odeio cada parte de mim, mas também sabe o quanto eu me amo e o quanto eu faria qualquer coisa para me ver feliz.

Involuntariamente, acabo perdendo as forças e tropeçando no pé do homem que me segura. Caio de joelhos e me obrigo a olhar para trás, onde ele já não está mais. Porém, acabei machucando meu joelho. Não é um ferimento profundo e nem grave, mas dói.

Eu ainda estou com medo, meus olhos estão marejados, meus lábios tremem e não sei o que fazer. O misterioso apenas desaparece sem deixar rastros, deixando-me confusa do que aconteceu e pensando que foi apenas uma piada sem graça.

Abbadon'sOnde histórias criam vida. Descubra agora