Contos sombrios

Aqui se faz, aqui se paga

    Trinta anos, me olhando no espelho eu mal podia acreditar no tempo em estávamos casados mas o que eu fiz pra que isso acontecesse ninguém imagina, usei magia negra pra matar quem me impedia de ter o que eu queria, o Josh seria meu por bem ou por mal!

    Ainda me lembro como se fosse hoje da festa de 15 anos na qual a aniversariante, minha rival fora possuída e cortara a própria garganta, foi quase horrível de se ver, quase pois a morte dela fora definida por mim muito tempo antes e não me arrependo.

   A vida com ele é quase perfeita, fora o fato de eu nunca ter conseguido ter filhos pois meu corpo expele em questão de semanas qualquer feto que tente crescer dentro dele, ouvi dos médicos termos específicos que não posso entender e de curandeiros, que procurei em momentos de desespero, que eu estaria hipoteticamente pagando por algo que eu fiz nessa ou em outra vida, que bobagem.

   A noite foi perfeita, jantamos fora, dançamos e namoramos muito, apesar do longo tempo juntos a química que há entre nós é quase sobrenatural, só eu sei o quanto... já o dia seguinte não tinha começado nada bem, pra começar, meu celular morreu e perdi a hora da minha caminhada matinal, dormir até tarde já não fazia parte da minha rotina há muito tempo, tudo bem por que estava chovendo.

    Eu ter dormido de mais foi só o começo, sabe aqueles dias em que tudo dá errado? Pois é, minha rinite resolveu dar o ar da graça e passei a tarde toda espirrando, daí descobri que meu antialérgico tinha acabado, o entregador demorou uma era e meu lanche chegou frio e pra coroar a droga de dia que eu estava tendo, meu gato morreu, ele tinha 13 anos mas parecia bem disposto até ontem.

    Dores, elas começaram no início da noite, logo depois do Josh me mandar uma mensagem avisando que chegaria tarde, um embrulho no estômago e os vômitos não tardaram a aparecer, estranho pois sempre tive estômago de ferro mas foi quando comecei a cuspir sangue foi que a coisa piorou mesmo.

    Segundos antes de desmaiar no tapete da sala, depois de ter conseguido sofregamente chamar uma ambulância, eu ouvi uma voz sombria sussurrando no meu ouvido: "Você achou mesmo que eu não viria te buscar?"

Inspirado nos "Contos sinistros" de Mirela Pizani e Bruno Esposti.