Contos sombrios

Almas unidas

    Mais um dia entediante no colégio, por que eu não posso estudar em casa como se faz na Inglaterra e outros países desenvolvidos? Além de ter que pegar ônibus nessa cadeira de rodas idiota, eu ainda tenho que depender da ajuda de estranhos pra subir os degraus por que os ônibus especiais nunca passam por aqui, pois é...

    Ah, esqueci de me apresentar, meu nome é Elisa e sou uma sobrevivente: Sofri um grave acidente de trânsito no qual minha irmã gêmea idêntica acabou morrendo, a gente achou que não tinha problema pegar a moto do nosso pai escondidas, mesmo a gente sendo de menor e portanto, não tendo carteira, quinze anos é uma idade tão inconsequente, não é mesmo?

    Meus pais foram ótimos, sempre insistiram em dizer que não foi minha culpa, mesmo eu estando pilotando, ou tentando, que fora só uma acidente trágico... Mas a verdade é que eu me culpo até hoje, a Beth não está mais comigo e a culpa é só minha!

    Pode parecer estranho mas sinto ela perto de mim, como se sua alma me protegesse, sei lá... Sempre que alguém me irrita, e o bullying é constante, acontece alguma coisa, não que eu ache que a pessoa que me deu uma rasteira me fazendo cair da cadeira merecesse morrer atropelada por um ônibus mas é o que acontece.

     Uma vez um policial foi lá em casa me prender por que uma testemunha jura que me viu empurrando um garoto que costumava me atormentar em frente a um carro, ele ficara em coma por um mês antes de morrer. Ao ver minha condição ele até pediu desculpas e disse que deve ter sido um engano, como alguém poderia ter me visto fazendo tal coisa? Era impossível.

        Pode parecer maluquice mas essas coisas sempre acontecem depois que eu sonho com ela, o que acontece com certa frequência, basta eu estar com algum problema e o sonho vem, nele eu a vejo sorrindo e dizendo que vai cuidar de mim, como era quando estava viva e daí algo acontece.

    Sempre fomos muito ligadas, chegava ao ponto de uma completar a frase da outra, era meio assustador mas pra nós era natural, como se fôssemos uma só alma, só que em corpos separados. No início as mortes me assustavam mas com o tempo decidi que nada poderia fazer, afinal não sou eu que mato essas pessoas, então tá.

    Passou a ser algo tão corriqueiro pra mim que ao sonhar com ela acordei essa manhã lembrando do sonho e cheguei na escola esperando pra saber quem tinha morrido dessa vez; daí soube que aquela professora chata não veio hoje, que bom, ela me odeia e faz de tudo pra me tirar da sala mesmo sem eu fazer nada, acho que ela não gosta de cadeirantes, sei lá.

    Oi gente, desculpem a demora! Espero que gostem desse. <3