Morta

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    Olá meus queridos, meu nome é Maria, ou costumava ser antes de minha morte prematura, e ela não foi nada acidental; a não ser que uma bala vindo em minha direção atirada pelo meu próprio marido tenha sido um acidente, o que não é o caso. Ele me maltratou durante vários anos e eu aguentei cada minuto daquele casamento infeliz simplesmente por que caí na burrada de engravidar com 15 anos e fugir com ele, deveria ter ouvido minha mãe.

   Começou com xingamentos, depois vieram o chutes, socos, evitava quase respirar perto dele temendo o irritar, as ameaças de morte eram constantes e me apavoravam, afinal quem cuidaria da minha filha? Felizmente ele nunca tocou nela, eu o mataria se ele o fizesse e deveria tê-lo feito de qualquer forma... Meu destino foi selado no dia em que eu descobri o motivo da agressões, ele tinha outra mas é claro que ela não iria lavar, passar e nem cozinhar pra ele, esse tipo de mulher não faz essas coisas.

    Pensando bem eu tinha uma dívida com ela, apesar de sua existência ser o motivo da minha vida infeliz, desde que a conheceu, cerca de dez anos antes, ele não me tocava, imagina ele me bater e depois querer um "final feliz "comigo? Eu mesma me daria um tiro!

    Então estou aqui no limbo, o lugar pra onde vão as almas perturbadas, não posso nem descansar em paz, portanto passo a eternidade a assombrar meus algozes e o faço com maestria! Entrei na mente da mulher que me roubou o marido e a casa, pois eles ficaram juntos, e a enlouqueci lentamente; deviam ver o estado dela agora: Magra, fraca e desmemoriada.

    Ela surtou e acabou dando àquele canalha exatamente o que ele merecia, dor e sofrimento, sim, pois a morte é pouco pra ele, depois de cair da escada num acidente nada acidental ele ficou paraplégico e vive numa casa de saúde agora. 

    Minha menina vive bem e feliz, alheia à toda essa desgraça, pois antes de morrer, não morri imediatamente, convenci uma enfermeira do hospital a sumir com ela, na época com 9 anos, não me importo absolutamente dela ter sido vendida, pois vive feliz em sua casa de campo em Londres, eu vou visitá-la de vez em quando, ela pensa que sou seu anjo e de certa forma sou.

    E quanto aos meus algozes, esses eu gosto de atormentar, tenho toda uma eternidade pra isso, dizem que eu nunca vou pro céu, pra mim tanto faz, o bom da eternidade é que ela nunca acaba, essa é a beleza.

Contos sombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora