Olho de bruxa

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    Quem nunca ouviu falar em "olho gordo", aquela pessoa invejosa que basta olhar pra algo que a gente tenha e tudo dar errado? Minha mãe jura que uma planta do seu jardim definhou até a morte depois de um elogio despretensioso de uma conhecida; eu particularmente não acredito muito nessas coisas mas enfim...  A história que eu vou contar é algo parecido, um pouco mais sombrio do que uma simples inveja mas o princípio é o mesmo.

    Certa vez num povoado muito distante, numa cidade também muito distante existia uma casa abandonada, as lendas em torno de tal casa povoavam desde sempre o imaginário do lugar, chegou-se a pensar que tal casa seria derrubada, visto que já se encontrava em estado de avançada decomposição! Eis que então uma nova moradora chega na calada da noite e, no que a todos pareceu ser questão de dias a moradia se encontrava reformada como se fosse nova; seu jardim, antes tomado de mato agora vicejava plantas e flores nunca vistas.

    Como em todo povoado distante as regras de etiqueta pediam que fosse dado as devidas boas-vindas à nova moradora, como tudo nessa vida tal ato inocente acabou iniciando uma cadeia de acontecimentos que fugiram totalmente do controle... A natureza humana, como sabem é falha e aquela casa, antes velha e carcomida ter se tornado uma residência perfeita acabou acordando a inveja de alguém, alguém que se arrependeria amargamente disso!

   Numa das muitas visitas que os vizinhos pretensamente acolhedores fizeram, a filha de algum deles se encantou com uma caixinha de música na penteadeira do quarto, no qual a mesma foi parar por engano à procura de um banheiro, de imediato a menina inconsequente furtou a tal caixinha que, pro seu imenso azar, acabou caindo do seu bolso quando ela deixava a casa.

    Seu pai imediatamente pedira mil desculpas e garantiu que sua filha seria devidamente castigada quando chegasse em casa, o verdadeiro castigo no entanto estava por vir pois, o olhar que a dona da casa lhe lançou acabou por adoecê-la; ao dormir a mesma sentiu seu membro formigar, no dia seguinte ela não mais sentia as mãos, tudo o que parava nelas caía como se sua utilidade tivesse acabado.

    Era pior do que uma dor lancinante, era como se as mãos da menina simplesmente tivessem morrido! Seu pai, um homem viúvo, então procurara diversos médicos, organizações religiosas e ninguém foi capaz de descobrir o mal que a assolava, quando o pai, já desesperado, procurou o que pra ele era o último recurso, seu estado já era desesperador! Tal recurso era uma velha senhora versada nas artes antigas da magia, magia branca como ela fazia questão de frisar, dizia-se que ela só não tinha jeito pra morte, sendo algo natural ela não se atrevia a questionar.

    Depois de contar tudo o que acontecera desde que visitou a tal casa e todos os sintomas a velha senhora deu o seu veredito: Foi olho de bruxa, ela disse simplesmente... Segundo ela, se uma bruxa, mesmo com poder latente ainda não manifestado, fosse ofendida numa determinada fase da lua, bastava um olhar para que o causador da ofensa sofresse de um mal imprevisível...  

    Já houve o caso de um homem que perdera a mão depois de roubar o brinquedo de uma criança, a mesma tinha 10 anos e um poder latente tão forte que foi preciso um supressor pra que  seus efeitos fossem reprimidos! Depois de ouvir isso é claro que o pobre pai ficou apavorado, pois sua filha tinha só 14 anos e o sonho de ser pianista, deveria haver um jeito, ele implorara.

    A velha senhora no entanto disse não poder reverter o feitiço, segundo ela somente a bruxa em questão seria capaz de tal ato, pois todo feitiço tem seu contra-feitiço específico e uma tentativa frustrada só faria mais o mal do que o bem; havia no entanto algo possível, bastaria a combalida menina bater à porta da vizinha ofendida e lhe pedir desculpas, talvez assim o feitiço cessasse...

    E assim foi, logo após se humilhar pedindo perdão, com os joelhos tão dobrados que doíam, ela começou a sentir as mãos de novo, ao acordar de manhã elas tomaram sua coloração normal, já se encontrava arroxeada, em uma semana tudo voltara ao normal e a menina inconsequente prometeu a si mesma nunca mais tomar o que não lhe pertence, nunca se sabe a quem vamos ofender, não é mesmo? Nunca se esqueçam disso, até a próxima.

Contos sombriosOnde histórias criam vida. Descubra agora