Erosão - Quando Hydro encontra Geo [Zhongchi]

Ato 2 - Reencontro

(...)

Depois de tudo aquilo de seu "contrato para acabar com todos os contratos" ter passado, o relacionamento entre Zhongli e Childe já não era mais o mesmo e o antigo Arconte não tinha mais ninguém para culpar do que a si mesmo. Talvez fosse por causa do que a erosão estava fazendo com sua existência, mas, não podia deixar de pensar em como havia sido injusto com a pessoa que tinha sido tão gentil consigo. 

Ele suspirou, fechando os olhos por um momento, sentindo a brisa marinha do Porto de Liyue contra seu rosto. Sentiu uma mão em seu ombro e a sensação familiar da energia elemental do jovem Fatuus. 

– Bom dia, Childe. – Zhongli falou calmo, abrindo os olhos para olhar os profundos olhos azuis do ruivo.

– Espero não estar atrapalhando em nada. – Ele sorriu, logo se apoiando no parapeito, ao lado do outro.

– De maneira alguma. Eu estava apenas tomando um ar, pois a Diretora me deu essa ordem, pois eu aparentemente estava viajando demais no trabalho? – Zhongli falou, soando de certa forma confuso com as palavras da jovem Diretora. 

O ruivo riu baixinho da maneira que o outro falou, logo olhando para baixo, observando parte da rotina do porto. Eles ficaram ali por um tempo, já era fim de tarde e o porto ainda estava agitado. Zhongli então convidou o ruivo para beber um chá, já que era o único momento em que os dois haviam se encontrado depois de tudo o que havia acontecido. Childe ficou um pouco receoso de aceitar o convite, mas acabou aceitando depois de pensar um pouco, fingindo que tinha uma agenda cheia de tarefas para aquele dia, mas simplesmente não queria parecer que ainda estava de certa forma afetado pelos acontecimentos passados. 

Os dois seguiram até a casa onde Zhongli morava, um lugar onde Childe nunca havia tido a oportunidade de conhecer durante a sua missão em Liyue. O lugar era relativamente simples, parecia de certa forma que ninguém realmente morava ali e só existia por aparência. Zhongli o convidou a se acomodar e disse que iria preparar o chá. O ruivo se sentou à mesa na cozinha, um pouco nervoso de estar ali, o clima entre eles ainda estava um pouco pesado e ele tentou ao máximo não parecer desconfortável.

Logo que o chá ficou pronto, Zhongli preparou as louças finas na mesa para ele e para seu convidado, logo servindo os dois copos em silêncio. Childe agradeceu pela hospitalidade e levou o copo até perto de sua boca, soprando o chá levemente para esfriar um pouco o líquido, que possuía um aroma incrível que rapidamente tomou as narinas do ruivo. Eles não trocaram mais nenhuma palavra por um tempo, só apreciando a bebida em silêncio.

Depois de longos minutos de silêncio, Zhongli bebeu calmamente mais um gole de seu chá, logo apoiando o copo sobre a mesa e se preparou para falar. 

– Childe… Sobre a gnosis, eu… Eu peço perdão pelo o que eu lhe causei naquele dia. Você foi uma parte importante para que tudo funcionasse como o esperado, mas… Eu não considerei o quanto você seria afetado negativamente por uma decisão minha. Eu fui extremamente egoísta por não lhe contar sobre algo que você iria participar, principalmente algo tão grande assim. – Zhongli falou, mantendo os olhos fechados e a cabeça abaixada.

Childe olhou para o mesmo, sentindo-se confuso sobre o que deveria pensar com a cena à sua frente. O grande Rex Lapis se curvando a um mero mortal? Ele poderia se gabar disso e o Ajax de anos atrás iria adorar fazer algo assim, mas ainda havia um gosto amargo em sua boca desde aquele dia. Sim, o sabor da traição. A sensação de ter tudo se despedaçando diante de seus olhos, toda a sua esperança e confiança sendo descartada como se fosse nada. Ele olhou para o chá em seu copo e bebeu o último gole restante, logo abaixando o copo, ainda o segurando entre seus dedos.

– Isso não é algo tão simples de se resolver… Você me usou e quando não precisava mais de mim, você nem olhou na minha cara… Foi uma sensação horrível ter tudo tirado de mim daquele jeito… – Childe deslizou um dedo pela borda do copo, mantendo seu olhar fixo na louça detalhada. – Apesar de eu ter vindo para Liyue em uma missão para tomar a gnosis do Rex Lapis… Eu realmente achei que você era um bom amigo e parceiro de viagem… Suas histórias eram muito interessantes de ouvir e eu adorava ver como você ficava quase que perdido em memórias ao contar elas… – O ruivo riu, ainda olhando para o copo.

Ele levantou o olhar, vendo Zhongli o observar calado, parecendo ainda esperar uma resposta mais concreta. 

– Não tem como apagar essa sensação, nem um jeito que eu possa perdoar você por completo…

Zhongli não pareceu surpreso com a resposta, não esperava algo positivo de qualquer maneira. Antes que pudessem falar mais alguma coisa, o som de fogos de artifício foi ouvido. Childe levantou o olhar até a janela da casa, observando as luzes coloridas se formarem no céu escuro. Era o final do Ritual das Lanternas daquele ano, as comemorações chegavam ao fim com os fogos coloridos iluminando Liyue, levando esperança e alegria aos cidadãos do Porto dos Contratos.

Os dois saíram até a parte exterior da casa, para poderem ver melhor o encerramento do festival. Childe não conseguia parar de olhar para o céu, as luzes eram realmente bonitas. Zhongli, por sua vez, ficou vislumbrado com a expressão que o ruivo fazia e como seus olhos, que normalmente pareciam tão vazios, estavam brilhando ao ver os fogos. 

– Sabe, senhor Zhongli… Eu ainda me lembro de tudo o que você me contou sobre a erosão… – Childe falou, ainda olhando para o céu. – Eu acho que tem uma maneira de diminuir o estrago que a sua traição fez comigo e quem sabe eu até possa te perdoar… 

Zhongli não sabia o que falar, só olhou para o jovem, um pouco confuso da mudança de tom e de decisão do mesmo. 

– Você poderia me deixar ser parte do máximo possível de memórias suas? Assim você não vai me esquecer tão cedo. – Childe olhou na direção do outro, sorrindo.

Aquele era o sorriso mais sincero que o antigo Arconte tinha visto se formar no rosto do jovem Fatuus. Mas as palavras do mesmo… Aquela era uma promessa que ele não poderia fazer. 

Não outra vez. Não para outra pessoa importante que ele iria acabar esquecendo.

"Me perdoe, Ajax.
‎ ‎ ‎‎  ‎‎‎‎ ‎‎                         Guizhong"