O Bilhete

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Novamente, eu o vi entrar pela porta com um aparelho em suas mãos.

Pela tela de seu computador, eu pude ver. Era mesmo o bilhete, aquele maldito bilhete.

" Eu sei onde está Evellyn Jones..."

-- Anônimo desconhecido.

- A senhorita faz alguma ideia de quem pode ter escrito esse bilhete? - Perguntou se sentando a minha frente.

- Olha, essa caligrafia não me é estranha mas eu não posso afirmar nada sem absoluta certeza. - Fui sincera. - aliás, não me passa pela cabeça que não pode estar fazendo esse tipo de brincadeira.

- Bom, eu trabalho com provas. Precisamos de suspeitos. - Fechou computador.

- E vocês não tem nenhum?

- Mas é claro. Sempre temos. - Ele parecia esboçar um sorriso no canto dos lábios.

- Eu não consigo imaginar tamanha atrocidade com uma criança de sete anos... não consigo. - Meu olhos lacrimejaram.

- Acalme-se. Tome, beba. - Estendeu um copo de água para mim. O líquido estava quente, em recipiente não muito higienizado que provavelmente muitos iriam denominar como copo de vidro.

- Obrigada. - Recusei com a cabeça.

- Eu poderia fazer umas perguntas, senhorita Jones?

Até aquele momento ele não havia me chamado pelo meu sobrenome. Todos sabiam que eu odiava ele, simplesmente porque fazia eu me lembrar da Evellyn. E isso era tudo que eu não queria.

- Mas é claro, senhor. - novamente me limitei a responder somente o necessário.

- No dia do tal " Acidente". Se lembra de algo?

- Eu lembro de brinca com Evellyn, e lembro que Kate havia me chamado para me amostrar algumas coisa. - Fiz uma breve pausa. - Eu lembro de ver Evellyn me segurando pelo braço e dizendo " Não vai , Madison. Brinca comigo, por favor..." mas eu simplesmente sai dizendo que não ia demorar.

O homem me encarou por alguns segundos em silêncio, como se pensasse repetidamente em algo. Mas não compartilhou de seu pensamento.

- E depois disso?

- Eu só me lembro de acordar em uma cama fria de hospital. Com vários "tubos" e com a visão turva. E com dificuldade de respirar.
Lembro da minha mãe aparecendo na porta, o olhar dela. Eu me lembro disso todas as noites. - Falei mais como um desabafo do que como um depoimento.

- Tem mais alguma coisa a me dizer, senhorita ?

- Não, senhor. Posso ir? - Me levantei pegando minha bolsa bege de cima da mesa, e colocando sua alça no meu ombro direito.

- Espero que sua tarde seja tranquila. Qualquer coisa, ente em contato. Precisamos saber o motivo disso tudo estar assim.

- Agradeço. Eu lhe avisarei, não se preocupe. Boa tarde, bom trabalho.

Sai pela pela porta que estava entreaberta. Passando por ele não fiz questão nem de olhar pela última vez em sua face.
Não estava com cabeça. Estava aflita.
Depois de onze anos...
Onze anos...
Onze anos...

Essa frase martela em minha mente frequentemente.
Eu precisava fazer algo. Era a memória da minha irmã.
Na verdade eu não só precisava, como eu fiz.

[...]

O Terrível Caso De Evellyn Jones [ Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora