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Summer Jenner

Ter outras crianças, crianças normais, junto a mim novamente é estranho, mas aconchegante. Sophia e Carl, dois Civis que pediram abrigo em nosso laboratório – uma péssima decisão, brincam comigo no chão da sala de jogos. Montamos uma torre com blocos de montar, encaixando até se tornar enorme.

—— há quanto tempo que você 'tá aqui dentro? — o garoto, Carl, indaga, ainda focado em nosso trabalho.

Eu nunca havia interagido com crianças normais antes. As únicas pessoas da minha idade com quem eu poderia conversar eram as garotas que faziam duplas comigo nos treinamemtos. E mesmo assim, nós nunca fizemos perguntas uma para a outra.

—— Carl. — Sophia o cutucou, como um aviso repreensível.

Rio da maneira em que ela pronuncia seu nome, como se aquilo fosse uma ameaça e ele estivesse acabado de ser proibido de dizer mais alguma coisa pelo resto do dia.

—— tudo bem, Sophia. — coloco o bloco na torre, também sem os olhar. —— eu sempre estive aqui, desde meu nascimento.

Eles me olharam estranho, paralisados. Era como se eu fosse algo bem fora do comum. Porque era mesmo.

—— nunca saiu do CDC?

Dou de ombros, não me importando com este detalhe. Candice sempre me falou que não havia nada para mim lá fora. Minha família estava aqui dentro, então eu tinha tudo. Sei que era uma mentira grandiosa, já que eu não tenho família alguma.

—— nunca.

—— caramba. Deve ser bem triste ficar aqui por estes anos todos. — o garoto comentou, dando de ombros.

Carl ganhou meu olhar sobre ele ao dizer uma palavra até então desconhecida em meu vocabulário. Não conheço muitas coisas do mundo, tenho conhecimento deste fato. Logo, é natural que eu possua curiosidades sobre a fala.

—— triste? — questionei, demonstrando que não sabia sobre o que ele estava falando. —— o que é ser triste?

—— você não sabe o que é? — Sophia pergunta. Nego em um aceno de cabeça. 

—— você já se sentiu mau por nunca ter saído? Tipo, cansou das paredes, dos médicos e de tudo? — ele parecia cauteloso com as palavras, escolhendo a dedo as que ele sabia que eu entenderia. Afirmei com outro aceno. —— você provavelmente estava triste.

Sophia negou com a cabeça e sorriu fraco para o garoto, abanando o ar. Já percebi quem é a mais inteligente por aqui.

—— não é bem assim, Summy. — ergueu um bloco. Me calo diante ao apelido proferido por ela.  —— triste é um sentimento ruim que as vezes aperta aqui — apontou para meu seio esquerdo. —— no coração.

Olho para onde ela apontou, vendo apenas minha camiseta branca, nada além.

—— você se sente estranha, desanimada. E as vezes pode até chorar. É algo normal, na verdade.

—— chorar... — repito, levando o polegar até abaixo dos olhos. —— a água salgada?

Eles riem. Eu falei algo engraçado? Arqueio as sobrancelas em confusão. Fazer amigos é mesmo muito difícil. Principalmente quando eles são diferentes de mim.

—— a água salgada se chama lágrima. — Carl explica.

Com um pouquinho de raciocínio, rapidamente consigo assimilar suas explicações e criar minha teoria. Levanto as sobrancelhas, demonstrando entendimento.

Error 404 - Carl GrimesOnde histórias criam vida. Descubra agora