Carta 2: Café, Pão e Rapadura

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12/07/2017

Cara Elisa,

Sinto saudades de ti, tanto quanto posso lembrar de que o céu é azul ou que as matas são verdes. Sinto muito por não separar os queijos que prometi antes de você sair.
Assumo minha total surpresa ao ter em minhas mãos sua carta e agradeço do fundo do meu coração sua lembrança tão carinhosa ao chegar na França.

Fico feliz que tudo está indo bem e que seu pai finalmente abandonou o vício ao álcool. Sei que seu tratamento será ainda mais produtivo ai na França onde os recursos são melhores e onde tens o sentimento de estar em casa mesmo que não queira ficar.

Sobre Clara e Pedro. Lembro-me das palavras de Clara no verão de 2013 onde jurou que eu cantaria para ela As Rosas Não Falam, do mestre Cartola. Ela disse que era indispensável eu estar na cerimônia para a entrega das alianças.

Quanto a Evelyn, sinto imensa saudade de nossas conversas aos alpendres das casas parisienses. Sinto daqui o cheiro do café e o gosto do croasant que ela assava no forno a lenha. Lembro-me pouco de Emmanuela, mas ainda sinto ser o suficiente para dizer que Evy fez uma ótima escolha. Se acaso elas mudarem de ideia sobre a cerimônia, me avise o quanto antes para que eu possa comparecer ao casório.

Sei que os outros estarão ainda melhores quando receber esta carta e tenho fé de que você também conseguirá ficar melhor da sua complicação.

Para todos os efeitos, sigo esperando atualizações sobre tudo mas falemos um pouco de mim.

Sigo fazendo meus cafés e bolinhos de chuva toda sexta-feira. Minha casa e minha rede sentem saudade de ti e o quarto de hóspedes parece muito vazio sem tuas malas. Me agarro ao dia que você voltará para minha companhia.

Tenho ido a cidade de tempos em tempos para encontrar Abner e Lucyane, para vender queijo e para comprar as coisas que antes eu pedia a Januário para entregar em casa. Me sinto muito feliz sempre que passo pelos lugares e as pessoas me cumprimentam e me perguntam onde estava a menina bonita que andava comigo. Digo, ainda sentindo sua partida, que foi viajar e não tem previsão de volta. Suspiros até mesmo da molecada da rua que você chutava a bola de volta ao campo.

Todos estão bem solícitos a minha presença e sinto-me muito mais a vontade de andar pelas ruas e lugares. Sei que logo estarei com todos igualmente feliz e sorrindo sem esforço algum.

Todos os dias que levanto às 6 , lembro que você deixou uma toalha balançando no quintal para secar durante a noite da tua partida. Ela já desbotou, mas não me atrevo a tirá-la de la na esperança que você volte.

Agora, sinto necessidade de falar de amor. Mais especificamente aquele que não podemos viver.
Sei que Sara está na Alemanha a alguns dias. Recebi um cartão postal de Berlim e a letra dela contaminava o verso com palavras doces. Me atrevo a pensar em saudade, mas meu peito aperta. Tem amores que é melhor manter longe.

Quanto a tua Luna, imagino que seja essa a alcunha que ela mereça. "Tua". Já sinto teu peito palpitar quando leio sobre ela. Quando estive na França, frequentei a Adega de Lampião, comi e bebi tanto quanto pude aguentar. O dono do lugar é um brasileiro chamado Alberto. Tive o imenso prazer de tomar cerveja preta com ele várias vezes.

Mando junto a esta epístola uma linda saudade, um papel com essência de café, o desenho de um pão e um pequeno pedaço de rapadura embrulhado. Espero que te sane um pouco da saudade ao provar o doce da rapadura e sentir o cheiro do café nordestino.

Ostento Amor e Saudade por ti.

Sua Amada,
Elles.

O Que Você Faz As 3 da TardeOnde histórias criam vida. Descubra agora