Órbitas

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Eis a grande contradição cósmica que chamamos de vida: vivemos andando em círculos e mesmo assim não passamos duas vezes pelas mesmas águas. Nada é, tudo está sendo. Nada de fato faz sentido a não ser que o forcemos. Não tento ser compreendida, apenas estou tentando compreender o que quer que esteja existindo. E estou tentando existir, por mais difícil que isso seja. Muitos falam sobre o ser e o não ser, mas ninguém entende o que é estar sendo. Fala-se tanto sobre inícios e finais que nem existem, mas o Agora continua sendo ignorado, afinal, ele passa tão rápido que só o percebemos adiante. E aí é tarde demais. O mundo não gira ao redor das nossas urgências, e talvez a grande lição proposta pela vida seja aprender a viver os processos. Mas somos ensinados desde cedo a traçar destinos e não caminhos. Aprendemos que o mundo gira, mas ninguém nos ensina a brincar de roda com ele. E quando a vida tenta nos ensinar, estamos ocupados demais para ouvir. Eu não aprendi a parar. Estou o tempo todo sendo e fazendo algo. O que é frustrante, pois o gerúndio dos fatos faz tudo parecer incompleto. Não sabemos lidar com a incompletude, pois desde sempre aprendemos a criar destinos. Mas cada destino nos leva a novos intermédios, e estamos de novo andando em círculos. Eis a grande contradição cósmica que chamamos de vida. Vivemos andando em círculos, mas nunca sabemos onde vamos parar.

Verdades ClandestinasOnde histórias criam vida. Descubra agora