Existe um conceito interessante que é o de "viajar para se encontrar". Eu nunca fiz isso. Eu viajo para me perder. Pego ônibus errados, busco atalhos desconhecidos e faço gastos desnecessários. Pois só se conhece os verdadeiros desejos após uma série de desconfortos. Minha escritora favorita uma vez disse que perder-se também é caminho e ela não poderia estar mais certa. Perder-se exige coragem, e o reencontro nem sempre é o que se espera. Devemos estar dispostos a nos receber bem, independente de estarmos ou não alinhados às nossas expectativas iniciais. Só conhecemos verdadeiramente a nós mesmos depois de nos encontrarmos com aquilo que não somos. Cada erro nos aproxima de uma verdade até então desconhecida, assim como um ônibus errado pode nos levar a um destino necessário, mesmo que desagradável. Inclusive, minha viagem mais longa foi quando peguei um ônibus errado na volta pra casa. Naquele dia, descobri que o retorno pode ser mais complicado do que a partida, seja pela nossa falta de atenção ou até mesmo pela vontade de continuar seguindo. A vida tem dessas. Até mesmo as coisas mais comuns podem ser imprevisíveis. Não é porque um caminho já é conhecido que ele precisa dar sempre no mesmo lugar. E não é porque o lugar é o mesmo que precisamos fazer sempre o mesmo caminho. Se perder não é um erro, é apenas uma maneira diferente de chegar. Afinal, não existem caminhos errados nem destinos errados. Os erros são nossos. Os caminhos apenas existem. E mesmo que não seja o seu caminho, o seu destino, ou mesmo o seu ônibus... ainda vale a pena abrir a janela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Verdades Clandestinas
PoesíaVersos e Prosas ainda sem destino, de uma escritora tentando encontrar seu próprio sentido.
