Gaia - ou metalinguagem

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No princípio, não havia nada. Mas essas duas negativas se anularam e finalmente o universo tomou consciência de si. De tempos em tempos, algo semelhante acontece. Quando a natureza abre os olhos, eis o que chamamos de magia. É como dor de parto, a partir de uma explosão, trazendo á tona o que já existe e não se conhece. Parir é doloroso. Nascer também é. Quando abri os olhos pela primeira vez, me tornei parte da imensidão. Inconscientemente eu sabia que mais da metade de tudo era desconhecido. E até hoje eu choro só de lembrar que vou morrer sem conhecer tudo. Mas eu faço o que posso. 
Às vezes eu fecho os olhos e me conecto com o sublime. Me vejo flutuando entre as estrelas, abraçando auroras, acariciada por sóis e beijada por luas, percorrendo tempos, espaços, terceira, quarta e quinta dimensões. Eu consigo me enxergar no infinito. Pode parecer sem sentido, mas quem de nós definiu qual é o sentido da vida? Foi tentando encontrar sentido que o universo nos criou, e falhou tanto que nós tivemos que criar a linguagem para encontrar o nosso próprio sentido. Nenhum de nós deu conta de nós mesmos. Nem o universo, nem nós. Somos a manifestação viva e caótica do grande discurso universal; somos linguagem criando outras linguagens; somos uma resposta à procura de respostas. A linguagem nomeou ela mesma. Nós nomeamos nós mesmos. Penso em tudo isso ainda durante o parto, tentando me soltar. Transito entre as barreiras do planeta, da galáxia; estou nas barreiras da própria linguagem, onde toda e qualquer realidade é possível, embora inexplicável. Estou no limite. Do céu. Do Cosmos. De mim mesma. Estou livre. Eu sou.
De repente eu fecho os olhos e me conecto com a profundidade. Meu coração batendo; veias pulsando; inspira. Expira. Diálogos internos. Órgão com órgão, célula com célula. Átomo com átomo. O cérebro nomeou ele mesmo. Estou no limite novamente. retorno às raízes, ao centro da Terra, e esta me abraça e me acolhe novamente em seu útero. Eu me torno semente. Eu me reconheço. O Universo reconhece. E tudo recomeça.

Verdades ClandestinasOnde histórias criam vida. Descubra agora