Já se tornou banal, me sentir mal. Me sinto mal!

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A estrada nunca foi tão curta para Harry como naquela manhã, ele não se lembra de sequer ter obedecido algum sinal vermelho de tanta raiva que sentia. Seu peito subia e descia freneticamente e ele teve a certeza de que seu colapso viria a qualquer momento.

Assim que estacionou em frente a sua casa, ele desceu do carro e abriu a porta da frente jogando sua bolsa e papéis de qualquer jeito, esfregando a mão no rosto e rosnou esperando que seu melhor amigo surgisse para começar o interrogatório.

Mas aquilo não aconteceu.

Era estanho e depois de manter a calma o moreno caminhou pela casa e nenhum sinal de Rony foi visto. Ele só podia ter saído.

E Harry sabia bem onde ele estava.

Dirigindo com mais calma Harry riu ao lembrar da cena em seu trabalho, como um chefe chegava naquele nível de atitude?! Será que ele vinha planejando aquilo há muito?! Muitas perguntas começaram a surgir e nenhuma tinha resposta, mas de qualquer forma, o moreno sabia que aquilo não poderia ser contado a seu irmão.

Já em frente ao seu "antigo" lar, Harry achou estranho que todas as janelas estivessem fechadas, não havia som de criança e quando analisou a garagem, viu que também estava vazia.

Eles não estavam em casa.

Sem paciência ele pegou o celular procurando o número do amigo e esperou que ele atendesse.

Fala cabeçudo... – Harry ergueu uma sobrancelha olhando o visor do celular como se seu amigo pudesse ver sua reação. — Ah não, socorro, um mostro pegou minha perna... Fala Harry, o que você quer? – os "xingamentos" e a gritaria indicava que ele estava com seu sobrinho, mas o moreno estava na frente da casa aquele momento então, onde eles estavam?

— Onde vocês estão? Eu quero ver o Adam. – ele disse depois de alguns minutos e com as risadas ao fundo Rony nem pareceu ter ouvido.

O que disse?! Ah, espera um pouco amor... "é o papai"?... Sim, é o seu pai, mas me deixe só falar com ele um pouco, okay?

Harry sentiu os olhos lacrimejarem e engoliu seco respirando fundo, Rony disse mais algumas coisas antes de finalmente ir para um local aparentemente mais calmo.

O que quer?

— Nossa, quanta educação...

— Se você tá achando que vai me ver de bom humor, tá muito enganado. Agora por favor, diz o que você quer porque o Adam está me esperando.

— Eu quero vê-lo. – retrucou com a voz baixa.

— "Quer vê-lo"?! Se você quisesse mesmo ver o seu filho, não teria saído de casa...

— Ron, espera! – o moreno gritou quando o telefone fez barulho indicando que a ligação seria encerrada. —Meu dia não tá legal, por favor, me deixa ver meu filho...

Rony suspirou enquanto xingava seu irmão com a voz baixa, provavelmente para que Adam não ouvisse; a regra da família era zero palavrões na frente de criança.

— Preciso perguntar ao Draco. – disse por fim e mais algumas vozes foram ouvidas ao fundo antes seu amigo retornar com uma voz entediada. — Tudo bem, estamos na casa do Lucius. – e encerrando a ligação Harry dirigiu até a casa de seu sogro.

Fazia muito tempo que Harry não visitava os Malfoy, na verdade, há vários meses ele e Draco não os visitavam e se deixando levar pelo momento Harry se pegou pensando em o que estava fazendo de sua vida?! Tinha abandonado o lar, seu filho, marido, e tudo pra quê? Pra aproveitar seu trabalho de forma intensa, viajar sem compromissos como se ele fosse solteiro?

Mas ele não era.

Pelo menos, não de papel.

E ao mesmo tempo que pensava em arrependimento, ele pensava que talvez eles dois precisassem mesmo de um tempo. Eram quase seis anos de convivência, seis anos vivendo uma nova vida a dois, sem curtições com os amigos, viagens de final de semana, ele estava se sentindo sufocado.

"Respira Harry, você não pode chorar na frente de seu filho... Você não pode..."

Enquanto repetia seu mantra, Harry desceu do carro e foi até a porta da frente, dessa vez era impossível não ouvir os gritos e risadas de seu filho e quando ergueu a mão para tocar a campainha, a porta se abriu revelando um Draco meio surpreso e visivelmente abalado.

Harry sentiu um nó em seu peito.

— Ah, oi. P-pode entrar, o Adam já está te esperando...

Ele desviou a atenção do moreno e deu passagem para que ele entrasse mas sem conseguir se mexer, Harry permaneceu no mesmo lugar e de forma inesperada ele segurou o braço de Draco o puxando para um beijo.

Não foi algo demorado, nada sexual, era apenas um beijo de saudades, por mais que só fizessem quarentena e oito horas de sua "separação", era como se tivesse sido a vida toda.

— Eu...Eu preciso sair agora, o Adam está lá dentro com meus pais. –a voz de Draco soou fraca e logo depois de ter empurrado Harry delicadamente, ele desceu os degraus da varanda e saiu pela calçada a fora.

Assim que entrou o moreno ouviu o grito animado de seu filho e agachou esticando os braços para recebê-lo.

— Papai você veio! – com as mãozinhas em volta do pescoço de Harry, Adam sentiu seus pés saírem do chão e sorrindo ele esperou que o moreno lhe rodasse no ar como sempre fazia ao chegar em casa.

— Minha nossa, só faz dois dias que sai e você já está pesado desse jeito?!

— Eu tô com mucha fome... – disse esfregando a barriga e novamente Harry sorriu deixando vários beijos em seu rosto.

— Estou vendo...

Oi Harry. – Blaise apareceu sorrindo na sala e meio sem jeito o moreno retribuiu.

Harry não esperava ver o amigo ali, nem lembrava a última vez que tinha conversado de verdade com ele. Sua vida estava uma loucura e fazer um exame de consciência de forma forcada não estava ajudando em nada.

Harry estava vendo um lado da história que fora cego demais pra perceber.

Seu lado imaturo e egoísta.

— Blas...

— O Rony tá no quintal com a Luna... Cadê o Draco?

— Disse que precisava sair. – ele comentou colocando o filho no chão vendo-o se afastar para pegar o que ele deduzia ser algum brinquedo. — Blaise, nós precisamos conversar.

Blaise apesar de tudo, sempre ficava ao lado de Harry, claro que isso não significava que ele não dissesse o que achava de determinadas situações ou mesmo que gritasse com ele em alguns momentos. Mas ainda assim, além de Rony, era com ele que Harry podia contar em seus piores momentos.

O moreno  fez um sinal em direção as escadas e então e eles foram até o quarto de hóspedes onde Blaise sempre ficava quando dormia na casa do amigo, e assim que fechou a porta, Blaise cruzou os braços, o encarando.

— Pode começar.

𝚁𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛𝚝 - 𝙳𝚛𝚊𝚛𝚛𝚢 -Onde histórias criam vida. Descubra agora