Capítulo 2

157 23 0
                                    

" Filhos da noite, vida sem rumo
A lua abraça a minha indecisão. Mãe, fica despreocupada, sempre vai se resolver! Se eu me desencontrar, a rua vai me proteger. "
-Rua, por: Jão

✿❀


Os acasos acontecem, de fato. Às vezes são tão raros que, quando surgem, você sente que precisa prestar atenção.


Foi exatamente assim. Meus olhos encontraram os dele e, de repente, um arrepio percorreu minha espinha, descendo até o cóccix. Quase como se meu corpo soubesse antes de mim. Seus olhos — verdes, como um matagal — me prenderam num misto de medo e curiosidade. Era intenso. Meu olhar percorreu cada detalhe do seu rosto. Os lábios carnudos e vermelhos, do tipo que você não consegue ignorar, mesmo que tente. E um sorriso de canto, meio assanhado. Quem diabos era esse garoto, afinal?

— O-oi... — Quebrou o silêncio, ainda sem se mexer. Sua respiração se misturava com a minha, e a proximidade era tão invasiva quanto confortável. O coração dele batia forte, e dava para ouvir claramente, como se estivesse prestes a explodir.

Hugo: O-oi... — Minha resposta foi meio engasgada, e só então percebi que o skate dele tinha batido no meu ombro. Tossi e, tropeçando nas palavras, pedi: — Você... pode sair de cima de mim?

Ele me analisou de cima a baixo, como se tentasse decifrar o que estava acontecendo dentro da minha cabeça. Parecia que ele tinha acabado de encontrar algo valioso, e o brilho nos olhos dele só confirmava isso. Então, bufou e respondeu:

— Bom, até tentaria, se você...sabe, me soltasse!— Olhei para minhas mãos, ainda cravadas na jaqueta dele. Tentei soltá-lo, forcei meu corpo a se afastar, mas era como se minhas mãos tivessem virado pedra.— Ok... — Ele riu de leve, — Acho que vou ter que levantar nós dois. — Com um simples puxão, nos colocou de pé, como se eu não pesasse mais que uma folha de papel. — Muito prazer, garoto das mãos fortes.

Ele disse isso com uma naturalidade que me fez corar. Podia sentir minhas bochechas ficando quente. E os tapinhas que deu nas minhas costas me trouxeram de volta à realidade. Ainda estávamos perto demais.

Hugo: Ahn... — Soltei-o finalmente, sentindo minhas mãos formigarem ao se afastar da jaqueta. — Muito prazer... — Olhei para o skate no chão e o peguei. — Garoto...do skate.

Ele riu. Não uma risada alta, mas o tipo de risada que você sente no peito. E aquilo foi suficiente para perceber que estava ferrado. Ele se abaixou e pegou meus óculos que estavam no chão.

— Acho que é uma troca justa — disse, limpando as lentes na camisa. — Meu skate pelos seus óculos.

Hugo: Não sei se deveria devolver o skate. — Porra, Hugo, que droga foi essa? Por que falei isso? — Vai que você atropela outra pessoa. — Ótimo, saiu outra vez! Estou tentando soar engraçado. Que patético.

Mas, para minha surpresa, ele sorriu de novo. E o sorriso dele... bom, aquele sorriso tinha um charme natural, que me fez querer ver mais.

— Prometo que não vou atropelar mais ninguém, garoto das mãos fortes. — Ele fez uma pose exagerada, como aquela que os personagens de atack on titan fazem, e aquilo me arrancou um sorriso. Ficamos ali, rindo como dois completos idiotas.

O mais estranho é que, mesmo sem saber nada sobre ele — sem saber seu nome, de onde vinha, quem ele era — eu me senti... bem. Ali, parado na saída do estacionamento, com o céu pintado em um degradê incrível de laranja, rosa e roxo, e o som dos carros ao fundo, tudo parecia certo. Como se estivesse no lugar certo, na hora e no momento exato. O vento bagunçava seu cabelo, e eu mal conseguia desviar o olhar.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Onde histórias criam vida. Descubra agora