Capítulo 3

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" Jogado aos teus pés, baby, baby
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado "
- Exagerado, por: Cazuza

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Quando entrei no meu quarto, vi a chuva lavando o lado de fora pela janela. A luz do poste banhava tudo em um tom amarelo suave, e meu reflexo no vidro me devolveu um sorriso. Sorri porque finalmente, encontrei alguém. Alguém que é massa. Alguém que me faz sentir confortável, como se não precisasse fingir ser outra pessoa. E isso, para mim, é simplesmente esplêndido.

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Em uma dessas tardes escaldantes, Kauã veio me encontrar de bicicleta e decidimos ir à sorveteria. Sempre acabávamos discutindo sobre sabores de sorvete, especificamente sobre o terrível: choco-menta, que ele faz questão de defender com unhas e dentes.

Kauã: Choco-menta é tipo... a melhor combinação ja inventada! Tem a refrescância para um dia terrivelmente quente, como esse! e ainda tem chocolate. É tudo que você precisa!

Hugo: Ah, qual é? — retruquei, torcendo o nariz. — Sorvetes já são refrescante por si só. Pra quê por esse negócio que tem gosto de enxaguante bucal? Sabe qual é o melhor? O bom e velho morango. Clássico, simples, e sem gosto de pasta de dente!

Kauã: Morango? Sério Hugo? Isso é tão básico da sua parte. — Ele riu, me dando um empurrão leve. — Vamos lá, você pode ser melhor que isso.

Esbarrei de volta em seu ombro, rindo também. Kauã sempre insistia em pagar, mesmo quando eu tinha dinheiro. E o cara do caixa já nos conhecia por brigas estúpidas sobre quem iria pagar um sorvete de quatro reais.
Depois, íamos para as praças ou parques, onde uma vez ele tentou me ensinar a andar de skate. Fracasso total.
Também tentamos vôlei, mas descobri que sou um péssimo atleta. Enquanto ele é bom em tudo. Parece que nasceu pra isso.

Kauã está no segundo ano do ensino médio, e estuda em uma escola particular, não muito longe da minha. Toda vez que passávamos de carro, eu e minha mãe, ficávamos encarando aquele prédio imponente e os carros
caros na frente. Imaginei várias vezes como seria lá dentro. Um dia, Kauã me mostrou uma foto da escola, e fiquei chocado. Minhas salas, por mais modestas que fossem, dão de dez a zero nas dele — sem querer me gabar.


***

No início de mais uma tarde, ele me levou para jogar buraco com as senhorinhas do clube que sua mãe costumava frequentar.

Esse foi um dos momento em que percebi que Kauã era único. O chamo de “Roberto Carlos moderno”, porque as senhoras fazem festa quando ele chega. Riem, abraçam, tratam como um neto favorito. Me apresentou para elas, e fui recebido com o mesmo carinho. Senhorinhas são sempre gente fina, ainda mais quando estão apostando balinhas Fini em uma mesa de buraco.
Kauã, às vezes, perdia de propósito. Outras vezes, era derrotado sem dó. Na última rodada, ele entregou um pacote de “bananinhas” como pagamento.
" É sempre bom apostar com vocês, meninas. "— disse, com aquele tom galanteador que fazia todas rirem e pedirem para que ficássemos mais.— " Hoje não dá", — ele respondeu, segurando a mão de uma delas com cuidado. —" Mas prometo que da próxima vez ficamos até o chá."

Nos despedimos com um aceno, e ele me levou até a piscina do clube. Sentamos na borda, os pés na água gelada, tentando nos refrescar daquele calor infernal. O som dos pássaros era forte, e o vento balançava as folhas. Fiquei olhando para a água, desejando saber nadar. Mas como não sei, me contentei em apenas molhar os pés. Estava com meu short curto e uma regata preta dos Beatles. O cabelo estava fresquinho, cortado há poucos dias. Deixei os lados curtos e o topo mais longo, uma tentativa meio desajeitada de ser estiloso.

Kauã & Hugo ( Romance Gay )Onde histórias criam vida. Descubra agora