Capítulo 2 - Brasas do Coração

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Os pequenos gêmeos cresciam lentamente, tão devagar que era quase imperceptível ao longo desse tempo Arcília e Hérberus haviam voltado a acender as brasas de seus corações um pelo outro.

Arcília estava sentada em um pequeno pátio com vista para o infinito universo criado pelo poder do amor entre ela e Hérberus, isso fazia um rio de memória passar diante de seus olhos, eram tão reais quanto o universo que ela via logo a sua frente. Pensou que fossem apenas memórias do passado, estava acontecendo coisas semelhantes desde que teve seus bebês, eram memórias completamente vívidas do passado, se perder suas cores, lembrava como se estivesse vivendo aquilo neste exato momento. Além disso, ela tinha memórias de coisas que ainda não aconteceram, ela se esforçava para convencer a si mesma de que eram apenas pesadelos ou sonhos.

De qualquer forma o futuro era incerto, ela sabia disso, os caminhos a serem trilhados mudam conforme suas escolhas, não são fixos. E isso a assombrava, ver coisas que não aconteceram ainda era uma dádiva e uma maldição. Arcília sabia que engravidaria de Hérberus novamente, sabia que algo terrível se aproximaria quando ela nascesse.

-Arcília! Tu estás bem, minha estrela? –Pergunta Hérberus com seus lindos olhos arregalados e assustados, com preocupação.

-Estava viajando por minhas memórias... querido. –Diz Arcília com uma pausa para pensar se deveria chamá-lo assim. O rosto dele ainda demonstrava preocupação, ela ainda estava de certa forma presa em seus pensamentos, seus olhos percorriam involuntariamente o rosto de Hérberus, seu rosto era tão pálido quanto uma anã branca, seus lábios eram quase roxos, seus olhos como sempre um violeta tão lindo e profundo. Ao olhar dentro de seus olhos, algo aconteceu, um sonho ou talvez uma visão.

Tudo ao redor de Arcília desapareceu, a escuridão pura. Então uma chama forte e grande, a escuridão começou a desaparecer, como se estivesse com medo do fogo. Mas então a chama foi diminuindo, era possível escutar sussurros, a cada sussurro a chama diminuía, e a escuridão se aproximava até engolir a chama, porém uma brasa se mantinha, como se fosse uma esperança, um amor. Um choro de bebê se torna presente e outro passa a o acompanhar, novamente a chama volta intensa, muito brilhante, porém não tão grande quanto a anterior. Uma pequena forma estava a se desvendar em meio à escuridão, o choro havia cessado e um pequenino bebê saiu das trevas, era o pequeno Alitrus. Em seguida uma estrela nasce em meio à escuridão, a chama acende mais forte, a estrela explode e do que restou da estrela a pequenina Leonida aparece e vai de encontro ao irmão. Nesse encontro de luz e trevas, as trevas recuam deixando a luz envolver os dois, nesse momento o fogo se torna tão intenso quanto o inicial, trocando de cores constantemente, ia de vermelho até o violeta de mesma cor dos olhos de Hérberus, quase que por um impulso Arcília toca na chama violeta, tudo ao seu redor se desconstrói e volta ao pátio, volta a encarar os olhos de Hérberus e vê seu próprio reflexo.

-Arcília tu estás bem? –Pergunta Hérberus novamente ao notar ela dispersa outra vez. Hérberus havia aparado seus cabelos brancos, estava encantador, querendo a atenção de Arcília para uma possível reconciliação.

-Sim querido. Apenas estava em meus devaneios sobre as crianças. Aliás teus cabelos... Estás diferente, tu cortaste os cabelos querido? –Diz ela com certo receio de chamá-lo de querido por causa do afastamento, porém agora havia algo diferente, seus gestos estavam delicados obviamente estava tentando seduzi-la.

-Vamos caminhar querida? –Pergunta ele com um sorriso do qual ela não via há muito tempo, algo realmente havia mudado, era como se Hérberus estivesse livre das sombras que o perseguiam nos últimos tempos desde que entraram naquele palácio que deveria ser o lar deles, uma batalha era travada dentro de Hérberus, Arcília não sabia, mas quando a escuridão prevalecia perante o doce e amável Hérberus do qual ela se apaixonou, ele perdia sua gentileza e se tornava um monstro.

-Claro! Só vamos levar os gêmeos para seus berços. –Diz Arcília animada por não estar brigando com ele, mas sim passando um tempo juntos sem brigar.

Arcília se levanta com Alitrus e Leonida em seu colo e prontamente Hérberus pega o pequeno menino para ajudar sua amada, ambos vão caminhando calmamente pelo passeio até chegarem a uma entrada grande com colunas adornadas com uma trepadeira de pequenas estrelas. Ao entrar se revelava um enorme corredor iluminado por luzes flutuantes no teto, as paredes um tom branco acinzentado, de um corredor vai a outro até chegarem a uma porta da qual abriga dois berços para os gêmeos, que são deixados lá e logo adormecem, os dois mais velhos partem para caminhar pelo imenso palácio o qual parecia um labirinto de portas e corredores, com salões espalhados por ali.

Os dois caminhavam pelos corredores e salões em um total silêncio, quase como se fossem fantasmas de si mesmo, nem os passos eram ouvidos no chão detalhado com diferentes cores formando lindas formas ainda não decifradas dos corredores. Havia sim muito assunto a se conversar, ao contrário do silêncio externo suas mentes estavam tão barulhentas quanto uma multidão enfurecida atrás de uma cabeça.

Eram tantos pensamentos desconexos, tantas tentativas de balbuciar um simples "oi", como se ao dizer oi suas línguas fossem cair. Até que Arcília reúne coragem o suficiente para dizer um simples oi.

-Oi. –Diz ela agora parando de andar e olhando nos olhos dele.

-Oi. –Diz ele olhando no fundo dos olhos castanhos cor de mel com tons em verde dela.

-Tudo bem? –Pergunta ela olhando cada vez mais fundo nos olhos violetas dele, ele se aproxima em silêncio até estar tão perto que ambos sentem suas respirações dançando uma com a outra, os olhos de ambos percorrem seus rostos até chegarem aos lábios, à distância entre ambos é encurtada dessa vez por Arcília. Um beijo é iniciado por ela e é correspondido de forma apaixonada e necessitada por Hérberus, ele vai tirando suas vestes, e diz:

-Posso? –Pergunta Hérberus se referindo as vestes de Arcília, ela apenas assente com a cabeça em positivo e ele, calmamente vai descendo o lindo vestido de cor azul ciano, até que ambos estão despidos, os beijos e carícias continuam, vão ficando mais intensos. Bem, vocês sabem o que deve ter acontecido depois.

Ambos já haviam acordado e apenas se olhavam, contemplando um ao outro, como se cada um guardasse em si a beleza da criação.

Mas aquela paz acabou-se quando a pequena Leonida apareceu na porta.

Mãe, pai, eu descobri uma coisa. –Diz a pequena com certa apreensão, como se fosse algo possivelmente ruim.

Arfélis: As Crônicas da CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora