Capítulo 4 - Arcília

54 14 73
                                    

Os recém nomeados dias se passavam rapidamente pelos meus olhos e Hérberus parecia querer procriar desesperadamente. Eu me encontrava grávida novamente, o meu terceiro filho seria nomeado Nerélio disse ele, na hora não gostei muito, mas aceitei pois sabia que era importante para ele.

Nos últimos tempos estava tendo previsões do que viria a seguir, primeiro pequenas coisas como Alitrus e Leonida se ajudando, depois viu bestas de fogo vindas de suas estrelas, viu um pequenino menino caído ao chão.

Eram coisas insignificantes pensou, entretanto continuo tendo esses sonhos e por fim decidi escrevê-los nos pergaminhos, quando paro para olhar vejo o salão de pó cheio de pergaminhos, cada um continha o que viria a ser chamado de profecias de Arcília.

Não sei mais o que fazer, penso diariamente , não sei como escapar desses sonhos sinto que estou presa em correntes que não existem.

-Querida, finalmente achei você. Não devia estar escrevendo, devia na verdade dormir para que o bebê possa se desenvolver bem. –Disse ele, sua voz já estava se tornando insuportável aos meus ouvidos, ele me tratava agora como um objeto no qual ele enfiava seu pau periodicamente e ganhava uma criança de presente, e continuava a falar e meus sonhos não me deixavam em paz também. Leonida e Alitrus se coroaram Princesa do Dia e Príncipe da Noite, dei meu aval e se tornou oficial, ambos então passaram a criar os mais diversos planetas possíveis por todas as estrelas.

-Venha querida, vamos voltar ao quarto. Você precisa dormir. –Disse ele com aquela voz forçada, como pude me deixar levar por ele assim, sou condenada pelo meu coração a amá-lo. Ele pega em minha mão e atrela seu braço ao meu e começamos a caminhada do salão do pó até o quarto, um caminho difícil para uma gestante devo afirmar.

-Chegamos meu coração, deite-se e durma bem. Vou tratar de minhas criaturas depois me deitarei com você e poderemos talvez fazer amor. – Diz ele com um olhar de desejo a mim.

–Está bem, querido. –Digo com um sorriso falso no qual ele entende como um verdadeiro. Fecho meus olhos e pego no sono com a esperança de não sonhar.

–Diga-me irmã, você realmente pensa que isso é um sonho? –Pergunta a voz misteriosa.

–Não sei, apenas não sei o que é. Por que você não me diz o que é isso? –Pergunto a ele que continua a me observar, porém não o vejo, há apenas o nada, o branco infinito do início de tudo. Minha vida parece presa ao nada, estou à deriva da segurança do chão.

–Irmã querida, não tema a mim, não quero seu mal. Quero na verdade seu bem, sua afeição. Você escolheu nosso irmão, mas não há problema. Eu estava em outras ocupações naquele momento, entretanto querida Arcília, guarde minhas palavras de que um dia irei reivindicar o que é meu! –Sua voz ecoa fortemente como se passassem a estar em um salão tão próximos que eu até poderia sentir sua respiração. Na verdade eu senti, ele estava a me olhar, apreciar calmamente, mas eu não o via.

–Diga-me então o porque não posso vê-lo? –Questiono indignada e irritada por estar aparentemente falando com o absoluto nada. –Diga-me! –Grito com raiva, me sinto enclausurada.

–Querida... você se impede de me ver, sua cegueira chega a me entreter, brinco na sua frente e você escolhe não ver. –Ele respira profundamente em meu ouvido, posso sentir seu hálito próximo a minha boca.

Arfélis: As Crônicas da CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora