Capítulo 6 - Alitrus

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 Sentia o calor do sol no meu rosto e a brisa do planeta entrando pela janela e balançando as finas cortinas. Leonida de habitual já não se encontrava ao meu lado, a gravidez estava a deixando bem mal, toda madrugada vomitava, durante a manhã não conseguia mais comer seus pratos preferidos, á tarde se sentava no pátio e observava a imensidão desértica, ao entardecer escrevia e à noite simplesmente dormia.

Me sentia preocupado com ela, eu sabia o que nosso pai estava fazendo com nossa mãe e ela também sabia. Foi quando foi chamada de louca por ter tentado ajudar mamãe que decidiu falar apenas o estritamente necessário, nada a mais e nada a menos. Vivia em sua cabeça e conversava com seus passarinhos que lhe confessavam segredos e depois ela os escrevia e então escondia o que escreveu.

–Bom dia, majestade! –Entram três criadas pálidas, com vestidos brancos e um pano em sua cintura preto, seus cabelos eram escondidos por um chapéu preto. –Já está pronto seu banho, a vossa graça, a sua esposa já tomou o banho e está a seu aguardo. –Diz uma delas com a cabeça baixa ao falar comigo.

Hérberus havia colocado elas em todos os lugares, eram criadas e também espiãs, como os passarinhos de Leonida, elas contavam tudo que fosse suspeito a ele. Caso algo fosse ameaçador, o indivíduo seria chamado de louco e tomaria o mesmo remédio que Arcília estava a tomar.

–Obrigado senhoras. Gostaria que trouxessem minha esposa até a banheira. –Digo isso e elas se encaminham em busca dela, eu me dirijo a banheira, abro as portas do quarto e me deparo com o mesmo cenário habitual das paredes de arenito que foram criadas para resistir pela eternidade, entro na sala de banho e me encaminho para a banheira me despindo.

O som dos passos se torna mais próximo e as portas são abertas e seis criadas entram acompanhadas dela, minha majestosa e perfeita deusa, dona do meu coração.

–Bom dia querido! Podem se retirar. –Diz ela com sua habitual e gentil voz apesar da tristeza que ela vem carregando em seus ombros, sua pele branca e cabelos negros como a escuridão com delicadas mechas brancas encarracolados, seus olhos me encaram com seriedade.

–Bom dia meu amor! –Digo saindo da banheira já limpo e ela logo me alcança uma toalha evitando dar chance a minha nudez para evitar o que venho tentando fazer a algum tempo. –Você está melhor? –Pergunto recebendo um olhar reprovador da mesma.

–Querido, não estou em condições de fazer isso. E já que estamos nesse assunto, gostaria de lhe informar que Âminda será nossa última. Me tornarei incapaz de engravidar após o parto da mesma. –Ela diz isso tão calmamente que parece sentir prazer nas palavras, sei que ela está mal, mas como ela pode simplesmente presumir que nunca mais terá crianças.

–Tem certeza disso que você afirma? Foi um daqueles sonhos? –Questiono falando bem baixo para que as criadas não escutem e contem ao nosso pai.

–Receio que sim meu amor. Saiba que amo nossos filhos apesar de não parecer, me encontro sem esperanças devido as atitudes Dele. –Diz bem baixo e gesticulando aspas com as mãos na última palavra.

–Eu sei, mas isso acabará um dia, quando nosso tio voltar como prometeu para nossa mãe em seus sonhos, ele salvará a todos. Mas por enquanto devemos manter o silêncio para evitar uma guerra. –Digo a ela repetindo essa mesma frase que venho dizendo há alguns anos sem se tornar realidade.

–Acho que irei dar a luz junto com a mamãe. –Diz ela com certo brilho nos olhos por tudo que passa de bom em sua cabeça, porém dura pouco e logo ela volta a sua feição de silêncio. –Vamos anunciar o casamento de Estrélio e Syraxys, Carmi irá anunciar o casamento de Darfeytcus e Andressany, de Érlica e Arthules, e creio que ela também anunciará uma nova gravidez. –Diz ela já se retirando e me deixando sozinho para me trocar.

Arfélis: As Crônicas da CriaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora