O1 - Uma dose amarga de humor.

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Os raios de sol invadiram o quarto sem impedimento algum; as cortinas abertas, resultado de um cansaço que não podia esperar para fechá-las. Mas o que parecia um ato irrelevante, acabou tornando-se um tormento naquela manhã. O calor invadiu as cobertas, causando um desconforto em sua pele exposta. Não queria aceitar a dura realidade de ter que levantar, porém, o ardor em sua carne a fez abrir os olhos. Soraya resmungou para si mesma, suspirando pesadamente. Quando passou a dormir menos de cinco horas por dia? Era difícil dizer, na verdade, porém o trabalho carregava uma parcela de culpa absurda nessa história.

A loira arrastou o corpo preguiçosamente até a ponta da cama, sentindo um peso familiar sobre os ombros. Era uma sensação costumeira nas últimas semanas. Não dormia direito, ou sequer o suficiente para descansar a mente. A alimentação estava balançada, optando por fast foods ou simplesmente uma xícara de café. O tempo reservado para o lazer fora totalmente sugado pelo escritório, não tinha nem ideia de quando foi a última vez que saiu de casa sem fins profissionais. Soraya estava afundando naquele poço workaholic.

Seu humor era duvidoso, principalmente depois que o alarme tocou. O olhar para o aparelho carregado de indignação. Além de tudo ainda acordou antes da hora indicada para tornar o seu dia aceitável. O silêncio voltou a pairar no ambiente, deixando uma Soraya perdida em seu estresse matinal. Mais um suspiro pesado e uma onde de conformação, não tinha a opção de faltar com seus compromissos, poderia descansar no sábado.

— Até lá eu apenas existo.

O tom baixo e arrastado, reafirmando o cansaço constante. Bom, o sol que escapava pela janela indicava que, pelo menos, não teria que sair mergulhada em roupas de frio. Movida à esse pensamento esperançoso, ela caminhou até o banheiro.

Relaxou sob a água morna por longos minutos, como se aquele banho pudesse lavar seu esgotamento físico e mental. Não tinha tempo para puxar o nó do roupão e por isso agradeceu mentalmente. Morar sozinha dava-lhe essa liberdade: o corpo nu exposto, com o tecido branco sobre os ombros. Passou rapidamente para o closet, puxou as primeiras peças em seu campo de visão e voltou para o quarto. Odiava ter que lidar com esse cansaço, ter que levantar e enfrentar o dia, porém, odiava ainda mais estar atrasada. Ainda que a culpa fosse inteiramente dela.

Mesmo com pressa, a combinação das peças caiu perfeitamente bem. Uma camisa de seda preta e mangas longas com os primeiros botões abertos, uma saia midi lápis em tom branco e um característico louboutin pigalle follies escuro nos pés. Um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios.

Encarou a hora quando o alarme tocou mais uma vez, se não saísse em cinco minutos perderia os primeiros clientes. Deixou o quarto o mais rápido possível, ignorando, literalmente, o mundo lá fora. Porém, a natureza resolveu mostrá-la da melhor forma o que acontecia ao seu redor. Uma rajada de vento frígido fez sua pele arrepiar, enquanto as gotas finas e igualmente gélidas escorreram pelos seus braços.

— Mas que droga!!

Acabara de deixar a recepção do prédio e fora agraciada pela chuva. Por fim, chegou a conclusão que, mais que atraso e cansaço, odiava com todas as forças o clima de São Paulo.

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Soraya deixou o táxi e levou as mãos aos fios loiros, falhando miseravelmente na tentativa de não ser afetada pela chuva fina. Bufou em pura frustração, atraindo olhares curiosos na recepção do prédio. O sorriso mascarou os mais baixos xingamentos que gritaram em sua mente.

Não poderia ser diferente, a advogada sempre teve uma personalidade complicada, eram poucos os que desfrutavam de sua simpatia, e entre os não adeptos estava Simone Tebet. Para falar a verdade, a loira costumava ser indiferente à presença constante da mais velha. Ou pelo menos tentava, ao passo que era impossível ignorar seus feitos profissionais. A morena havia somado diversos clientes à lista da empresa. Uma concorrente à altura, pensava.

Lust - [ Simone x Soraya ]Onde histórias criam vida. Descubra agora