Ao completar 18 anos, Sarah Melnik da Silva foge do Brasil em busca de liberdade. Quando uma tragédia lhe oferece possibilidades nunca antes sonhadas, ela se transforma em uma nova mulher. Cerca de 10 anos depois, vivendo em Portugal, a antiga Sa...
Sarah deixou o hospital pelas próprias pernas. Caminhava lentamente, sentindo incômodo nas costelas, mas vestida e maquiada como se aquele fosse um dia normal. O visual foi cuidadosamente preparado não apenas pela própria vaidade, mas também porque, o crime contra a comandante de uma das maiores empresas de engenharia de Portugal levantara curiosidade e ela queria estar o mais apresentável possível caso fosse fotografada deixando o hospital.
Joana a ajudou em tudo, de lhe trazer uma muda de roupa confortável e bonita até lhe auxiliar no que mais fosse preciso. Sarah se sentia agradecida por ter a amiga em sua vida.
- Não quero atrapalhar a sua rotina, poderia ter ido pra casa de táxi. – Ela disse ao entrar no carro de Joana.
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- Não tem necessidade nenhuma, afinal, ainda ficarei uns dias afastada do trabalho. É praxe, quando se tem uma ocorrência que terminou em óbito, ainda mais quando o policial está emocionalmente envolvido, como é o caso. Ou seja, tenho tempo livre.
- Que bom que você tem tempo e aceita passa-lo comigo. – Sem pensar, Sarah respondeu.
- Eu senti um ressentimento nesse tom de voz? – Joana riu enquanto ligava o carro. – Se você está sentindo a falta de Thomaz, saiba que ele está na Monteiro, cumprindo a sua agenda. Mas que à tarde estará em casa. Nós combinamos assim.
- Ainda bem que à tarde eu estarei repousando no quarto e poderei ignora-lo, então. - Sim, ela estava decepcionada por ele não ter vindo. Afina, se estivesse tão preocupado, Thomaz estaria ali. - E vocês agora são amiguinhos e combinam coisas?
Joana apenas riu com a provocação e seguiu dirigindo. Logo as duas estavam ouvindo música e evitando assuntos difíceis. Para Joana, estava claro que aquele período vivendo na mesma casa faria Sarah e Thomaz entenderem um ao outro e talvez torna-los mais próximos. Talvez, mais próximos até do que Fernando pudesse ter imaginado.
- Você não me contou o que o testamento definiu sobre a Monteiro. – Curiosa, Joana lembrou a amiga. – Sabe que pode confiar em mim.
- Eu confio, não contei porque é absurdo demais, nunca eu e Thomaz poderemos cumprir o que Fernando nos exigiu. – Agora, passado tudo o que aconteceu nos últimos dias, até achava graça do pedido de Fernando. E resolveu contar à amiga. – Você consegue imaginar eu e Thomaz colocando no mundo uma criança e educando-a até que seja capaz de assumir a Monteiro?
- O que? – Joana se surpreendeu.
- Isso mesmo. Como se eu fosse carregar por nove meses uma criança na barriga, parir e criar. E de Thomaz, ainda por cima! Eu não sei como Fernando pode cogitar isso.
- Então você perdeu a Monteiro? É o fim?
- Não exatamente. Há um prazo legal para cumprirmos a exigência, por enquanto eu sigo na Monteiro e tento encontrar uma brecha legal para derrubar o testamente.
- E se não encontrar?
- Então a Monteiro será vendida e seu valor revertido em ações sociais. – Isso lhe doía profundamente. – E restará para eu e Thomaz seguir nossas vidas, cada um com suas ocupações o restante da herança que dividiremos.