Capítulo 7

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Quem convivia com Thomaz e Sarah percebeu que eles estavam diferentes naquela segunda-feira. Logo no café da manhã, Antônia achou seu menino menos cabisbaixo. O relógio marcava pouco mais das 7h e ele já havia corrido 7km, tomado banho e se arrumado.

- Está muito sorridente e perfumado hoje. Não sei o que é, mas sugiro que repita. – Ela lhe disse, oferecendo uma xícara de café fumegante acompanhado de bolo com calda de frutas.

- Quero aproveitar o dia de hoje bem, já que amanhã será conturbado. – Ele respondeu, sem dar detalhes.

- Conseguiu falar com a menina Sarah ontem? – Antônia arriscou.

- Consegui sim. E vou vê-la amanhã. – Então ele ficou um pouco menos animado. – E depois de tudo isso resolvido, eu e Evelien temos de voltar pra Holanda. Já estou há tempo demais aqui. E eu adoraria levá-la comigo, Antônia.

Ela lhe sorriu, como uma mãe faria.

- Eu sei, querido. Mas como deixarei a menina Sarah sem meus pastéis de nata? – Sorrindo, a antiga babá lhe respondeu. – Além disso, não me leve a mal, mas, sua futura esposa não esconde o fato de não gostar de mim. Eu não me sentiria bem assim.

Thomaz pensou em lhe dizer que Evelien se tornar sua esposa parecia algo cada vez mais distante. Fosse pelo pensamento constantemente preso em Sarah ou pelos comportamentos injustificáveis da noiva, ficava mais claro a cada dia que não poderia se casar com alguém como Eve. Calou-se por precisar resolver aquela situação antes de comunicar à Antônia ou qualquer outra pessoa.

- Eu entendo e vou resolver isso. Para um dia você pelo menos ir me visitar. – Ele lhe beijou o rosto e a abraçou. – Eu vou sair e Evelien ainda está dormindo. Se ela perguntar, diga que não volto para almoçar.

Thomaz não tinha compromissos naquela manhã. Apenas, amanheceu com tanta disposição que não se sentia bem em ficar em casa, assistindo sua vida passar. Visitou duas empresas jovens que atuavam, em Lisboa, com o mesmo segmento que ele em Amsterdã. Iniciou conversações para estabelecer parcerias comerciais e tecnológicas.

Quando um dos empresários lhe questionou sobre voltar a estabelecer-se na terra natal, ele, pela primeira vez em tantos anos, pensou que a ideia já não era tão impensável. Foi para afastar-se do pai que deixou Portugal. E Fernando não existia mais. Essa ideia permaneceu em sua mente por toda a tarde. Por mais feliz que tenha conseguido ser na Holanda, seu lar sempre seria em Portugal e essa passagem por Lisboa estava lembrando-o que aquela terra seria sempre sua. O pensamento foi deixado de lado apenas quando uma ligação vinda do Brasil lhe surpreendeu.

- Eu achei que havia sido claro o bastante, Ramón. Nosso contato se dará exclusivamente por meio de Duarte. – A ligação do detetive fez seu bom humor desaparecer instantaneamente. Preferiu não chamar Dante pelo primeiro nome, para manter um afastamento. Ramón não deveria saber da sua amizade com o advogado.

- Sim, mas eu tenho algo tão relevante para lhe dizer que intermediários são desnecessários. – O homem sabia que não era bem-vindo, mas importava-se pouco com isso.

- Fale. Rápido, por favor.

- Estive com Otávio Vilela na manhã de hoje, ele realmente acredita que sua antiga noiva morreu ao tentar fugir do casamento. Não faz ideia que ela é uma rica empresária em Portugal e, bastaria um breve incentivo para levá-lo a Lisboa.

- Eu dei ordens claras para que esse homem não fosse contatado por você, Ramón. – A irritação crescia em Thomaz. – O que me garante que esse homem também não passará a nos investigar? Não quero enlamear o sobrenome de minha família e é exatamente isso que ocorrerá se descobrirem que a bonequinha de Fernando Monteiro foi amante de outro velho rico quando ainda era menor de idade.

Fugindo do destino: eles escolheram outras vidasOnde histórias criam vida. Descubra agora