Capítulo 15

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Samuel

Já se passava das 2h da manhã quando eu cheguei em casa. Se é que eu poderia chamar esse lugar de casa. Eu odiava tudo o que ele representava, mesmo que soubesse que estava sendo apenas irracional. De qualquer forma, evitava esse lugar sempre que podia, mas, em algum momento, eu sei que deveria sair do clube e para ter um pouco de descanso.

Dentre todos os cenários que eu imaginei depois de alguns meses de casado, esse não poderia ser mais diferente.

Eu esperava que teríamos um casamento feliz, começaríamos a criar um lar aqui, mas a casa só parecia cada vez maior e mais vazia e um lembrete de tudo que deveria ter sido. Os poucos dias que Emma passou aqui foram o suficiente para que ela marcasse esse lugar, o que tornava viver aqui quase insuportável. Eu não conseguia entrar no quarto que deveria ser nosso sem me sentir oprimido, era como se o seu cheiro estivesse impregnando no ambiente, todas as superfícies tinham a sua marca de alguma forma e eu esperava, como um idiota, que ela fosse aparecer ali a qualquer momento. Eu me sentia amaldiçoado por ela e não conseguia esquecê-la nem por um mísero segundo.

Caminhei pelo corredor cansado, seguindo em direção ao quarto que eu ocupava por causa de alguma memória muscular. Parecia errado ocupar um quarto que deveria ser nosso, então eu estava dormindo em um dos vários quartos de hóspedes. Eu me odiava, mas não me torturaria a esse ponto. Tomei um banho demorando, tentando usar a água quente para liberar a tensão dos meus músculos depois de mais um dia exaustivo de trabalho. Meu pai continuava no comando da cidade, as decisões importantes deveriam passar por ele, no entanto, minha atuação nos negócios da Outfit foi aumentando ao longo dos últimos anos e boa parte do serviço pesado, que deveria ser do meu pai, passou a ser meu.

Os meses após a saída de Serafina foram horríveis para dizer o mínimo, entrei em um lugar escuro em que nada mais importava, muito menos meu lugar na Outfit. Eu culpava o meio que nós vivíamos pelo que havia acontecido com a minha irmã e por como nossa família havia sido destruída. Levou um tempo até que eu ficasse limpo e voltasse a ter a cabeça no lugar, e levou muito mais tempo para que eu conseguisse o respeito dos meus companheiros também. Ter ficado fodido da cabeça e abandonado minhas obrigações não foi um bom negócio para a minha imagem. Mesmo que jamais verbalizassem o que achavam sobre mim, afinal eu ainda era sobrinho do Capo e filho do Subchefe de uma cidade importante, sei que me julgavam, esperando algum deslize para apontarem as minhas falhas. Então, quando eu tomei consciência do caminho que eu estava trilhando, resolvi focar no meu trabalho em tempo integral, conquistar o respeito e a lealdade dos que um dia deveriam obedecer a mim não por ser filho ou neto de alguém, mas pelo meu próprio esforço.

O trabalho passou a ser uma segunda natureza para mim, trabalhei mais do que qualquer herdeiro, sabia exatamente como funcionava cada um dos empreendimentos que tínhamos, conhecia a cidade como a palma da minha mão. Focar em algo produtivo me ajudou a superar o que havia acontecido, nos momentos que eu sentia falta da minha irmã, me culpava pelo que havia acontecido com ela, eu trabalhava mais até que eu não pensava mais no assunto com tanta frequência. Agora, eu fazia praticamente a mesma coisa para não pensar em Emma e nosso casamento falido.

As notícias corriam, eu sabia que quando coloquei os pés no clube todos sabiam que Emma havia viajado, mas ninguém fez qualquer insinuação, ou qualquer comentário inoportuno. Talvez, por perceberem o meu humor, eles sabiam que não era uma escolha inteligente desrespeitar Emma, ou fazer alguma insinuação sobre o meu casamento. Como eu sabia exatamente o que acontecia na minha cidade, eu não era ingênuo ao ponto de achar que essa não era a fofoca do momento. A suposição mais leve dizia que nosso casamento era apenas para fins políticos e, em um acordo mútuo, concordamos em viver vidas separadas e Emma jamais voltaria. E óbvio, também haviam as histórias de que Emma não era mais virgem, talvez estivesse grávida de outro homem, ou a preferida deles, de que um homem como eu jamais viveria com uma "aleijada" como ela, que eu teria vergonha de aparecer em público com ela, de apresentá-la como minha esposa, então isso que teria me forçado a expulsá-la da cidade. Claro que fiz questão de aplicar uma punição exemplar em cada um que ousou difamar Emma de alguma maneira.

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⏰ Última atualização: Apr 07 ⏰

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