Capítulo 6

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LEIAM AS NOTAS NO FINAL!

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Emma

Eu não deveria continuar me sentindo tão estranha depois de tanto tempo, mas era algo que eu não conseguia evitar quando ele estava perto. Já fazia quase um ano desde aquela noite na casa do lago, um ano com aquela memória aparecendo na minha mente repetidas vezes, mesmo que eu lutasse com tudo o que eu tenho para esquecer a sensação das suas mãos no meu corpo, da sua boca na minha, de como foi bom me sentir desejada por Samuel.

Tive tempo o suficiente para me acostumar e aceitar a minha condição, embora nunca mais fosse vista como a princesinha que um dia eu fui e tivesse que viver com o preconceito quase diariamente, eu não odiava viver numa cadeira de rodas. Eu tive que me readaptar à minha nova vida e aprendi a amar exatamente do jeito que eu sou. Não significa que foi um caminho fácil, foi um processo longo e dolorido, mas eu consegui. Mesmo a Outfit sendo tão superficial e que me vissem como uma garota quebrada e imperfeita, eu havia feito as pazes comigo mesma e com o meu destino.

Eu estava perfeitamente satisfeita com o rumo que a minha vida estava levando, pelo menos até Samuel aparecer. Eu gostava de conversar com ele, seu senso de humor era incrível quando se permitia relaxar um pouco, algo que não fazia com frequência. Não estava esperando que nos tornássemos amigos, que uma simples troca de mensagens com ele fizesse eu manter um sorriso no rosto durante o dia todo. Samuel foi se tornando alguém especial para mim, pouco a pouco ganhando espaço na minha vida até eu não me imaginar sem conversar com ele todos os dias. Eu culpava minha imaturidade pelos sentimentos confusos que eu comecei a nutrir por ele e queria acreditar que em algum momento isso tudo passaria e eu diria algo como "hey, você acredita que eu já achei que estava apaixonada por você?". Então riríamos e tudo seria esquecido.

E, então, houve aquela noite, quando Samuel me deu a pulseira que era de Serafina. Eu sabia que aceitar aquele presente não era uma boa ideia, só ficaria mais incerta sobre como eu deveria me sentir sobre ele, ou sobre como que ele sentia por mim, mas eu também não podia dizer não. O sequestro da irmã e sua posterior deserção da Outfit abalou-o muito mais do que ele deixava transparecer, quando compartilhávamos nossas lembranças de infância, quase todas as suas histórias envolviam Serafina, direta e indiretamente. Samuel sentia falta da irmã e, nas vezes em que eu visitei Sofia ao longo dos anos, não havia nenhum traço de Serafina em nenhum lugar. Era como se ela simplesmente nunca tivesse existido. Provavelmente essa pulseira era um dos poucos resquícios dela na vida de Samuel e o fato de ele ter dado-a para mim poderia significar algo que eu ainda não estava totalmente preparada para contemplar.

Quando Samuel me beijou, eu senti como se tudo o que eu tinha feito antes fosse apenas para chegar àquele momento. Em seus braços eu me sentia livre e protegida, seu toque conseguia ser  carinhoso e desesperado ao mesmo tempo, gostei de sentir a força do seu desejo por mim, me senti orgulhosa por ter conseguido fazê-lo se sentir assim. Amei a forma como suas mãos percorreram o meu corpo e ele não parecia conseguir o suficiente, o movimento da sua língua e como tudo parecia perfeito perto dele. Certo. Eu queria mais, queria que ele me beijasse mais forte, que mostrasse como um homem desejava uma mulher, me perder em todas aquelas sensações, mas não podia. Não quando certas coisas nunca mudariam. Um homem como Samuel jamais sentiria atração por alguém como eu, não de verdade.

Talvez naquela cozinha escura ele não se importasse que eu fosse diferente das outras mulheres com quem ele já esteve, mas em algum momento a névoa de luxúria passaria e Samuel se arrependeria. Eu não poderia suportar o seu olhar de arrependimento, ou pior, que se sentisse que tinha obrigações comigo, por algo que eu queria, mas que talvez encarasse como um deslize imperdoável. Eu não suportaria que Samuel me visse como um fardo.

Nothing Without You • Emma & SamuelOnde histórias criam vida. Descubra agora