Tenho saudades do que era, do que sentia, do que vivia. E pergunto-me todas as noites se algum dia voltarei a ter o mesmo coração, os mesmos sentimentos, as mesmas sensações. Tudo parece tão longínquo que agora nada parece certo.Ao crescer sempre ouvi maioria dos adultos falarem entre si, e dizerem o quanto a tristeza era o pior sentimento que poderíamos ter. Agora, que pertenço a esse grupo outrora tão misterioso para mim, discordo totalmente. A saudade, essa sim é a pior coisa que podemos sentir.
Há várias "saudades". Há a saudade de momentos que inevitavelmente não se voltarão a repetir. A primeira ida ao cinema, o primeiro concerto, a primeira viagem. Porém, teremos sempre os "segundos", "terceiros", "quartos" momentos desses. Todos diferentes, mas cada um impactante à sua maneira.
Há a saudade de pessoas que não vemos há algum tempo. Os amigos que vão ficando com um interminável "temos de combinar um jantar!" ou "assim que conseguir vamos beber um café". Mas também isso pode ser combatido à distância de uma chamada, uma mensagem ou, efetivamente, um encontro.
E depois existe a pior delas todas. A saudade de quem já não está cá. A saudade de quem partiu demasiado cedo, e com quem ainda tínhamos 1001 cafés por combinar, e jantares por adiar. A saudade do abraço, do cheiro, da voz, do calor das palavras de quem já não se encontra entre nós. Esta sim, é a pior das saudades... porque não há como combatê-la. Ela apenas vai remoendo o nosso coração até nos habituarmos à sua dor eterna, apenas mais suportável.
Os primeiros tempos são de dor angustiante, de puro choque, e de completa tristeza. Parece absolutamente surreal que uma pessoa que fazia parte de nós, agora não esteja ali. E para superar convencemos-nos de coisas como a vida além da morte, um reencontro futuro que varia consoante o cariz religioso de cada pessoa, a teoria de que quem partiu se tornou um anjo da guarda eternamente condenado a vigiar todos os nossos movimentos.
Porém, quando a poeira assenta, apercebemos-nos de que a pessoa não está ali nem voltará a estar. De que viver a continuidade das nossas vidas em prol desse reencontro não acrescentará nada, nem diminuirá a dor e a saudade. Com este tempo vem também a realização de que enquanto não aproveitarmos o presente, jamais poderemos viver um futuro feliz. E que enquanto nos agarrarmos ao passado, perderemos o presente e consequentemente o futuro.
Após este tempo cada pessoa encontra o seu próprio modo de conforto com a inexplicável temática que é a morte. Pessoalmente, tenho um misto de sensações. Há dias em que sinto os mesmos sentimentos dos primeiros tempos de perda, e outros em que sinto os do período "pós-pós perda". Há também os dias em que não sinto nada.
Demorou a acontecer mas agora aceito que todos eles são válidos. Afinal, enquanto existir saudade as pessoas que partiram existirão para sempre connosco.