À deriva

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JUNGKOOK

Imerso em trevas, era como eu me sentia agora. Olhos vermelhos me observaram, não importava para que lado corresse, o lobo que sempre esteve comigo espreitava para me engolir.

O coração apertado, uma dor como nunca experimentei antes, sabia que nada era capaz de apaziguar tamanha agonia, o vazio.

Não consegui abrir os olhos por um tempo, a imagem do corpo sendo atirado ao fogo se repetia na mente em um ciclo tortuoso.

Comecei a vagar em minha própria consciência que, pouco a pouco, se esvaiu.

Era impossível controlar a transformação, cada vez menos humano. Os pés seguiam sem rumo, atingindo o que estivesse pela frente. Vozes distantes surgiram e sumiram depressa.

Eu estava completamente sozinho. Meu lobo interior não me dava ouvidos, sequer me esforcei para manter a razão.

Até que uma pequena luz apareceu, e foi crescendo. Quando dei por mim, estava parado no meio de uma floresta familiar.

— Jungkook — as vozes me chamavam, todas misturadas.

Procurei em volta, tentando focar em alguma delas, vi a mulher de cabelos dourados sorrindo.

— Dormindo embaixo da árvore outra vez — ela sorriu, parecia aliviada.

A mulher de longos fios claros e ondulados, as orelhas felinas alerta para qualquer ruído, era minha mãe. Mas, ela não se dirigia a mim. Era uma lembrança.

Leona segurava um pequeno adormecido, reconheci a mim mesmo sendo ninado em seus braços. Estávamos na floresta do sul.

— Ele se perdeu novamente, e veio parar aqui — outra mulher falou, Catarina um pouco mais nova, mas não menos ranzinza apontava para uma árvore jovem.

— Deve ser aqui que a alma dele pretende descansar.

— Esta é uma tradição do nosso povo, não deixarei que escreva o nome de um lobo em uma árvore sagrada — Catarina deu as costas à irmã.

— Ele tem meu sangue afinal, sua alma também merece repousar em paz. Eu gravarei seu nome em uma dessas árvores no próximo verão...

— Não vou permitir! — a loira resmungou.

— O que vocês estão fazendo? — uma terceira mulher se aproximando. As híbridas observaram Lisa com o rosto sempre jovem sorrir.

— É Catarina, implicante como sempre — acusou a mais nova. — Ela devia aprender um pouco mais sobre o mundo com você, Lisa.

— Impossível — respondeu a bruxa. — Ela nunca sairia dessa montanha ou do sul, é uma cabeça dura, igualzinha a você.

Catarina revirou os olhos.

— Bobagem... o que está esperando? O bando partirá para o oeste pela manhã, finalmente nosso amado sul estará livre desse cheiro de cachorro molhado — comentou.

— Não... — tentei me aproximar, agitado. Mas, recuei com o olhar de Lisa em minha direção.

— O que foi? — Catarina a chamou.

— Nada — a bruxa disse, desviando a atenção para a híbrida. — Tive a impressão de ter visto algo.

— Não se preocupe conosco — Leona falou ao ver o semblante sério da irmã. Ambas conheciam as premonições de Lisa.

— Nunca me preocupei com um lobo, mas você... devia desistir de ir ao oeste, fique no sul, que é a sua casa...

— O meu lar é ao lado dos lobos e do meu filho, uma família de verdade não se abandona.

Welcome to the JungleOnde histórias criam vida. Descubra agora