11- Sacada

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O relógio marcava exatamente dez e quarenta da noite.

Eu estava lendo um dos livros que peguei hoje, até ouvir alguém chamar meu nome, me fazendo tirar os olhos do livro em seguida.

Porém, ao não ouvir novamente voltei meu foco para o livro. E ao ler uma frase ouvi barulho de algo acertando a porta que dava acesso a sacada.

Me fazendo levantar e ir em direção a ela.

Vendo uma bolinha, um pouco maior que a de ping pong, parada na minha sacada.

E ao olhar para a frente, lá estava Marilia.

Com aquele sorriso no rosto, e dessa vez com um cigarro entre dedos.

- O que você quer essa hora? - Peguei a bolinha, jogando na sua direção em seguida.

- Sei lá, eu vim aqui fora e lembrei de você - Ela sorriu - E cheguei na conclusão que não sei como que você reclama do barulho, pelo jeito é bem surdinha, eu te chamei duas vezes e você não ouviu.

Revirei meus olhos.

-Eu estava concentrada fazendo coisas que iriam agregar no meu dia a dia, que vão ser produtivas, ao contrário de estar aqui agora.

-Então conversar comigo não é fazer algo produtivo? Pensa por um lado, você está deixando de ser anti social na minha companhia, olha que evolução.

-Vai se foder, Marilia.

- Ou então, se quando você está comigo não faz nada de produtivo - Ela me olhou por uns dois segundos - Podemos passar a fazer - Ela falou num tom baixo, colocando a mão no bolso.

Esse jeitinho dela colocar a mão no bolso quando ficava "tímida" ou "com vergonha" era tão bonitinho.

- Isso é cigarro mesmo ou está chapada? - Perguntei assim que percebi o que ela havia dito.

- Cigarro. Não gosta?

- Olha bem para a minha cara, Marilia.

-E?

- Preciso responder?

- Ok, você não gosta - Ela apagou em seguida.

- Não, não precisava ter apagado por causa de mim -Falei em seguida.

- Relaxa - Ela colocou dentro de uma caixinha ao lado da porta - Não vou te incomodar com esse cheiro.

-Mas agora você vai deixar de fazer algo só porque eu não gosto?

- Não, porque infelizmente você não dita as regras, mocinha - Ela se apoiou na grade da sacada - Mas é só um cigarro, não vai fazer diferença na minha vida.

-Então para de fazer esse barulho diário que você costuma fazer, acredito que também não iria fazer diferença e meus ouvidos teriam paz.

-Então você também para de ler, e me poupa de caminhar com você até a biblioteca.

- Mas eu não te obriguei a ir comigo até a biblioteca.

- Assim como eu não te obrigo a ouvir o barulho que eu faço.

-E como eu não vou ouvir? Eu sou tua vizinha, Marilia.

- É só você colocar um fone de ouvido com alguma música calma que vai conseguir seguir sua leitura em paz, não acha?

- Você é insuportável - Revirei meus olhos.

-Talvez um pouco - Ela sorriu, me olhando - Mas é meu jeitinho - Soltou um riso - Mas olha só, e

- E eu gosto desse jeitinho - Sussurrei, ao sem querer pensar alto, vendo ela me olhar em seguida.

-Eu te atropelei, desculpa, pode falar.

- É... Eu odeio esse seu jeitinho - Falei a olhando.

-Eu sei - Ela sorriu.

Me olhando por alguns segundos.

-Vem aqui comigo - Ela falou em seguida.

-Não, eu não vou sair de casa agora, meus pais estão dormindo.

- E daí? Você é maior de idade, poxa.

-Mas Marilia...

-Sem mas, eu vou fazer um chocolate quente agora, vem beber comigo. E pode vir de pijama mesmo - Apenas a olhei - Vem, Maraisa.

Revirei os olhos, entrando em seguida.

- Maraisa? - Ouvi sua voz enquanto eu pegava meu caderno e uma caneta.

Escrevendo numa das páginas.

"Caso eu não estiver em casa pela manhã, não precisa se preocupar. Estou aqui do lado com a Marilia"

Arranquei a folha em seguida.

Eu iria deixar em cima da mesa da cozinha como um aviso para os meus pais.

- Maraisa? Por favor.

-Eu já estou indo - Falei assim que apareci na porta novamente.

Apenas vendo um sorriso nascer nos lábios da mesma.

[...]

Amor de Inverno |adpt malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora