Capítulo 2 - O luto

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Soraya

Buda uma vez disse "Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim".

Adpatalibiidade, o quê isso seria quando não imaginamos nossas vidas depois de conhecer certas pessoas? Será essa aceitação do luto?  Tantas perguntas que eu simplesmente não sei responder. O domingo amanheceu parecer sentir  que uma pessoa tão especial quanto Lucero havia tirado sua vida, estava nublado, aqueles dias que se eu não tivesse uma perda terrível eu estaria em casa assistindo Moden family.

Moden Family, a qual ela me apresentou.

Estou em pequena igreja ao lado de Débora que mal foi pra casa, pela primeira vez vi ela sem assunto. Minha mãe na madrugada deu um desconto e disse que passaria o luto para conversamos, mas a questão é : quando o luto passará?

Tinha muitas pessoas vindo dar seu último adeus para Lucero, não por menos, ela era uma latina cativante que tinha um sorriso incrível, acho que qualquer um se apaixonaria por alguém como ela, inclusive eu, por isso está doendo tanto.

Não que eu tivesse qualquer malicia em relação a ela, mas a paixão ou amor vem de muitas formas, né?  Apesar de saber que tem anos que o coração da mesma já tinha dono. Mas prometemos que daqui há 30 anos, quando já estivéssemos velinhas e gagas, estivéssemos atoa por aí, a gente se casaria, só pra ela me fazer dormir cantando aquelas famosas músicas tradicionais mexicanas.

Caramba, como está doendo.

Há três anos atrás ela havia perdido totalmente o movimento das pernas, ela sofreu um acidente tão misterioso que até hoje a família dela esconde, mas ela seguia com o sorriso no rosto e dizia está apaixonada, qualquer um que tivesse a sorte de ter o coração dela deveria ao menos vim hoje aqui ou talvez se viesse teríamos mais um enterro e eu estaria presa, a carta deixada por Lucero diz que ela claramente se matou por amor, mas que amor? Seja lá o que ela tivesse sentindo por essa pessoa, amor não era, amor não fere a esse ponto. Minha vó sempre dizia que o coração dos outros é terra que ninguém anda.

— So, apesar de implicar com ela e sentir ciúmes de vocês juntas, eu gostava dela

— Quem não gostava dela, De? ela era incrível

— Acho que ela mesma, mas não deixou um segundo que descobríssemos

Aquilo me atingiu em cheio, me sentir responsável, eu deveria notar pelo menos um sinal, mas parece tão difícil com uma pessoa tão alegre como ela aparentava ser. Me calei, aquilo tirou todo o estoque de palavras que eu poderia emanar.

A despedida dela seguiu mais rápido que esperávamos. seguimos até o cemitério ouvindo palavras divinas vindo de um padre e ficamos pelo menos meia hora em pé ouvindo mensagens de despedidas das pessoas próximas, ao longo que o caixão ia sendo enterrado eu joguei a última rosa que eu lhe daria, a rosa amarela, eu dava uma pra ela sempre nas visitas, ela abria um sorriso e jogava alguma piadinha. E é um baque terrível saber que nunca mais lhe daria uma rosa.

Não consegui elaborar nenhuma mensagem de despedida para falar em público , acredito que nem Débora , ela igual eu, não parava de chorar. Talvez alguns dias eu possa falar pra ela, mas a sós, sem essa gente toda.

O enterro finalmente encerrou, Débora me trouxe em casa sem ainda falar nada, mas eu não contestei, era a forma dela está em luto. Durante um caminho me veio só uma música na minha cabeça, all want, assim como na tradução, Lucero tinha trazido o melhor de mim, uma parte que eu jamais tinha visto, vai ser realmente difícil encontrar alguém como ela.

Me despedir de Débora e passei o restante do domingo no quarto, perdi a quantidade de vezes que escutei all want, de ter revisto fotos e vídeos, infelizmente a vida tinha que seguir, o amanhã ainda viria e a rotina voltaria. Esse deve ser o bizarro de morrer, as coisas simplesmente não param de acontecer para outras pessoas.

Professora Tebet - Soraya e Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora