Capítulo 2

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Talulah

Ligação On

- Ei, Sweet. Como vocês estão?

- Estamos bem. Vim avisar ao senhor que devemos chegar no Brasil essa semana. Ainda estamos comprando as passagens.

- Você vem, querida?! - pude sentir a felicidade no tom de voz do meu pai.

- Vou sim, papai. Não perderia sua vitória por nada. - dei um sorriso, mesmo sabendo que meu pai não conseguia ver.

- Meu neto também vem? Como ele está? Vovô tá morrendo de saudades.

- Sim, ele vai. Knight já cresceu bastante desde a última vez que o senhor o viu.

- Sua mãe vai surtar. - respirou fundo. - Vou avisá-la! Nossa, seus irmãos... eles vão ficar tão felizes!

Suspirei.

- Pai, estou com medo. Tu sabes o quão próximo Heitor é de Antony. Ele vai ao casamento?

- É, filha... Acho que Antony vai estar presente. Sua irmã não gostou da ideia, mas Heitor pediu para chamar. Você sabe, seu irmão mudou muito com ele depois do que aconteceu. Mas eles não podem parecer inimigos para a mídia. A empresa seria afetada.

- Eu sei, eu sei... Fico um pouco mais aliviada em saber que Nico vai estar presente.

Meu pai tossiu, ou pareceu engasgar.

- Seu... seu namorado... Nicolas vem? - gaguejou.

- Ele vai me acompanhar. Por quê? O que houve?

- Na..nada, filha.

- Papai? - insisti. - Fale logo.

- Tulah, querida, eu imagino o clima estranho que vai pesar em ambas comemorações. Antony deve trazer qualquer piranha, seu filho... O clima vai estar estranho dessa forma, imagina se você vier acompanhada...

Não consegui mais ouvir nada, meu pai discursou por um bom tempo sem que eu ouvisse nada. Aquela pequena frase estava ecoando na minha cabeça "seu filho, seu filho". Antony? Filho? Ok. Eu esperava. Terminamos. Eu terminei. Ele me traiu. Terminamos. Não temos nada. Eu estou em um relacionamento saudável. Nicolas me ama, ama meu filho, me apoia. Ele está sempre aqui.

- Filho? - interrompi meu pai, foi inevitável.

- Quê?

- Antony tem um filho? Você falou, papai. Você disse: Antony deve trazer uma piranha e seu filho.

- Querida... - tossiu. - Talulah...

- Antony tem um filho?

- Sim, Sweet. Eu sinto muito, não era pra você descobrir assim.

- Com Emily? - senti meu coração apertar.

- Sim. Antony e Emy tiveram um filho ano passado. Lucas.

Lucas. Senti meus olhos inundarem.

- Tenho que ir. Knight tá me chamando.

Ligação Off

Desliguei a ligação e joguei o celular longe. Abracei meus joelhos e chorei. Lucas. Até o nome do meu filho Emily foi capaz de tirar de mim. Não exatamente o mesmo nome, mas um S não é grande diferença. Chorei. Lembrei do meu bebê morto em meus braços. Lembrei que nunca ouvi seu chorinho, lembrei do banho o qual dei nele. Lembrei que nunca consegui dar de mamar, nem a ele nem a Kni.

Quando menos espero, Nicolas está na minha frente. Ele não fala nada. Apenas senta atrás de mim na cama e me abraça. Consigo sentir seus batimentos pela minha costa. Ele coloca seu rosto em meu ombro e deposita um beijo. Eu tremia, e Nico me abraçava forte.

- Ele teve um filho... - murmurei em meio às lágrimas.

Senti o braço de Nic perder parte das forças. E ele percebeu. Então, logo voltou a si e abraçou como abraçava antes da notícia.

- Ele deu o nome de Lucas. - falei depois de um tempo, quando o abraço borboleta de Nicolas ja havia me acalmado.

- Eu sinto muito, vida. - ele me girou de leve, para eu ficar de lado para ele, entre suas pernas.

Sinto muito. Essa foi a frase que ouvi do obstetra e de Nicolas no dia do nascimento e morte de Luca. Dolorosa fala.

- Você ainda quer ir? Tenho certeza que seu pai e sua irmã vão entender... - interrompi Nicolas apenas com uma olhada.

- Eu vou. Antony ferrou com minha vida. Ele não vai fazer isso com o dia do meu pai e da minha irmã também.

- Tudo bem, Tulah. - colocou uma mecha do meu cabelo para trás. - Queres ir quando?

- Hoje. Se possível. - falei e enxuguei o rosto. - Ficamos no apartamento do meu pai. Ele vai aceitar, tenho certeza.

- Ok, baby. Vou comprar as passagens.

•••

- Passageiros do voo 828, coloquem os cintos de segurança e desliguem os celulares. O avião está andando na pista para decolagem. Repito, vamos decolar em poucos minutos. Saindo de Toronto, Canadá, para o Rio de Janeiro, Brasil.

Ouvimos a aeromoça anunciar. Chequei o cinto de Knight, o meu e o de Nicolas. Ele sempre foi desastrado com pequenos detalhes.

Poucos minutos depois da decolagem, os dois dormiram. Incrível. Mesmas manias. Parecem até pai e filho de verdade. Dei um sorriso vendo a cena. Mas não deixei de pensar que era pra ser Antony.

Eu sei, pareço escrota ao falar isso. E me sinto assim. Mas não consigo deixar de imaginar. Passamos cinco anos juntos. Planejávamos casamento, filhos, o nome do nossos filhos... Seriam um casal, Luca e Beatriz. Talvez mais alguns depois de um tempo, mas inicialmente esses dois bastavam. Eu o amava, talvez ainda o ame.

Talvez eu o tivesse superado se aceitasse conversar com ele naquela época. Ou talvez eu voltasse, e isso seria desprezível.

Nicolas Bragança é o contrário de Antony Hoffman. Enquanto Tony sempre teve tudo, pais ricos e dinheiro para iniciar uma empresa, Nicolas cresceu no subúrbio do Rio, tentou medicina no seu terceiro ano e, infelizmente, não conseguiu. Ele conquistou sua vaga após um ano estudando e trabalhando para ajudar nas contas e não passar fome. Formou-se passando por vários tipos de adversidades, tornou-se neurologista, mas antes disso, trabalhava na medicina de trauma. E foi assim que nos conhecemos.

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