Antony
Me aproximei do escritório de Heitor, meu amigo do colegial. Percebi a agitação na parte dele da empresa e preferi não falar com muita gente para não piorar a situação.
Ajeitei Lucas no meu colo, ele se encontrava entretido com meu colar. O menino se recusou a ir com a mãe então tive que trazer para o trabalho. Aqui tem creche, mas não me importo de ficar com ele, principalmente porquê ele é extremamente calmo, então não atrapalha.
Coloquei a mão na maçaneta, pronto para abrir a porta. Parei quando meu instinto fofoqueiro preferiu ouvir o que rolava do outro lado:
- Ok, pai. Eu a busco. - essa era a voz de Nicolas. - Ela já chegou?! Hm... Pegou o avião de madrugada... Talulah sempre foi teimosa. - deu risada.
Quê? Talulah? Avião? Madrugada? Chegou?
- Tá, pai. Eu busco já tô indo buscá-la. Tchau... também te amo. - se despediu do pai.
Talulah tá voltando?
Bati na porta, coisa que nem pensei em fazer antes. Ouvi um "entra" e assim o fiz.
- E aí, cara. - falei, me aproximando de sua mesa e fazendo toque com ele.
- E aí. - respondeu e bagunçou o cabelo de Lucas.
- Tá indo onde? - perguntei ao ver ele pegando as chaves do carro.
Ele respirou fundo. Parou por uns segundos e me encarou. Olhou para o chão, depois para o lado, e novamente para mim. Pareceu analisar a situação. Mas, cara, é Heitor, ele com certeza não analisou nada.
- Minha irmã tá voltando, Antony. - falou, na lata. - Na verdade, ela já até desembarcou.
Então a confirmação veio. Talulah estava voltando. O amor da minha vida estava na mesma cidade que eu. O erro que cometi anos atrás me inundou. Senti meu peito apertar, minha respiração falhar. Eu não conseguia realizar o ato mais simples da vida humana: respirar. Levei a mão até a gravata e puxei com força. Eu estava mal. Senti minhas forças irem embora, a dor que eu causei às pessoas que amo e a mim mesmo retornou. Retornou mais forte.
- Mano, você tá bem? - ouvi uma voz distante.
Abri a boca para responder, mas nada saiu. De repente senti um pesinho ser tirado dos meus braços e ouvi um choro infantil. Lucas.
- Cara, descansa aí. Eu fico com Lucas, tenta se recuperar. Vou falar pra Sandra trazer uma água. - ouvi a mesma voz novamente.
Assenti devagar, me apoiei na cadeira e sentei. Senti todos meus ossos fadigarem, senti meu pulmão doer a cada inspirada. Senti tudo de uma vez. Ouvi a porta bater e o choro da criança se afastar. Deduzi que Heitor havia levado meu filho para longe do pai em crise.
Talulah
Sentei na frente do aeroporto esperando pelo meu irmão. Aparentemente meu pai estava ocupado e, como eu não tinha avisado que estava vindo, não teve como se programar para me buscar. Eu insisti em pedir um táxi, mas o senhor Eliot insistiu que eu e Nicolas não conhecíamos mais nada da cidade.
Alisei os cabelinhos ralos de Knight. Ele se encontrava no sono mais sereno da vida em meu colo. Agradeci a todas as forças superiores por esse momento.
- Estou nervoso. - Nico desabafou, tremendo uma perna.
- Quê? - reagi genuinamente.
- Seu pai não parece ser muito meu fã. E se seu irmão for na onda? - questionou receoso.
- Para, Nic. Meu pai ama quem me faz bem. Ele gosta de você sim. E Heitor é o homem mais sociável que eu conheço. Arrisco dizer que ele é o melhor de nós três. Minha família te conhece e eles gostam de ti. - tentei tranquilizá-lo.
- Vida, eles me conhecem por chamada de vídeo. - argumentou e limpou a garganta. - Mas, espero que estejas certa. - forçou um sorriso.
- Relaxa, Nico. De verdade? Acho que eles vão gostar mais de você do que gostam de mim. - dei um sorriso.
Essa minha fala o fez rir, então deduzi que funcionou. Mas mesmo assim coloquei minha mão em cima da dele, fazendo carinho. Senti alguém se aproximar, então virei o rosto. E lá estava ele. Heitor. E eu posso confessar que o tempo o fez bem.
- Pimentinha. - me abraçou quando levantei. - Eu estava com saudade.
- Eu também, Thor. - não o apertei por causa de Kni que estava em meus braços. - Esse é Nicolas. - apresentei quando me afastei de meu irmão.
Heitor o julgou. Olhou de cima a baixo para analisar. Deu um sorriso travesso e estendeu a mão.
- Então, tu és o famoso? A lenda? - Heitor brincou.
- Não mais que você. - Nicolas sorriu, apertando a mão do cunhado.
Depois dessas apresentações e perguntas irrelevantes, decidimos ir para o carro.
- Tulah, podes ir na frente com Knight? - questionou, percebi seu receio.
- Não trouxeste a cadeirinha? - perguntei.
- Trouxe. Mas é... Calma. - suspirou, percebi as engrenagens de seu cérebro queimarem. - Antony passou mal hoje. - segurou a respiração. - Ele estava com o filho no colo, tive que tirar, caso contrário o menino cairia. Aí agora ele está dormindo na cadeirinha.
Ok. Eu sabia que iria acabar encontrando com Lucas. Mas agora? No momento cansativo do pós voo?
- Deixou ele sozinho no carro? - ouvi Nicolas perguntar.
- Pedi pra uma moça que trabalha no aeroporto olhar de vez em quando.
- Vamos logo. - Falei, cortando esse assunto.
Chegamos ao carro e fiz como Heitor sugeriu. Fui na frente com meu filho. Não espiei para trás para olhar o menino. Não tive coragem. E se ele parece com Luca? Eu nunca seria forte para essa situação. Senti a mão de Nicolas em meu ombro, vindo do banco de trás. Coloquei minha mão sob a sua e me concentrei nesse toque.
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Inacreditável
RomanceInacreditável: a traição não começa no beijo A vida de Talulah muda completamente ao se deparar com seu namorado, Antony, traindo-a com sua melhor amiga. Em uma noite desesperadora, ela compra uma passagem para o exterior e não se importa com o qu...