Foram incontáveis as vezes em que Changbin se encontrou adoentado, com vários problemas no pulmão e uma falta de ar constante pelo péssimo hábito de fumar. Ele tinha asma, laringite, e não foram poucas as noites em que dormira mal por precisar usar sua bombinha de ar à cada meia hora.
Porém, em todos os seus vinte e quatro anos de vida, esse momento foi o primeiro em que sentiu a respiração engatar não por causa da asma, mas por conta de alguém.
Deveria ter esperado algo parecido quando decidiu ir para as aulas de pintura mais cedo naquele dia. No entanto, quando adentrou a sala colorida e mal iluminada, ele não contava com a sorte (ou azar) de presenciar uma cena que acreditava ter saído direto de um filme francês romântico.
Yongbok estava confortavelmente sentado no meio do cômodo, de cabelos amarrados e olhos cobertos de óculos, completamente concentrado no que Changbin descobriu, se aproximando, ser nada menos do que um torno. O loiro tinha os dedos cobertos de barro molhado e moldava o que parecia ser um um vaso de flor, de segundos em segundos pisando no pedal da máquina para não perder o impulso.
Como se o todo do trabalho artesanal já não fosse impressionante, o Lee usava nada mais do que uma camisa frouxa e bermudas na parte inferior do corpo — o que era justificável, pois fazia cerca de 30 graus — e suas pernas eram límpidas, quase lisas, se não fossem por alguns machucados na canela; o compositor pôde jurar (por mais brega que isso soasse) que o próprio menino havia sido esculpido na mais fina argila quando nasceu.
E Changbin sentia-se estúpido ali, parado na porta e fortemente agarrada a sua mochila, se esforçando avidamente para recuperar o ar que escapou dos pulmões, tão dificultosamente que pensou ter esquecido como a ação de respirar funcionava.
Sua situação não melhorou muito quando grandes olhos castanhos viraram em sua direção, o pé posicionado no pedal do torno parando ao que um grande sorriso enfeitou as feições sardentas.
— Hyung! — Yongbok expressou animado, limpando as mãos em uma toalha ao seu lado e ajeitando os óculos. A animação transformou-se em um franzir de lábios, porém, e uma ruguinha de confusão apareceu no rosto bonito. — Você chegou cedo ou eu que estou perdido no horário?
Changbin não respondeu, deixando uma risada afetuosa sair de seus lábios quando o mais novo cambaleou pela sala, atrás do celular.
— Eu que cheguei antes, não se preocupa — respondeu ao ver o menino conferir o horário, respirando aliviado. Tentou evitar que as pernas tremessem ao se aproximar, mantendo uma distância segura ao sentar do outro lado da máquina de argila, em frente à Yongbok. Perdeu-se brevemente no contraste da mão pálida no trabalho inacabado, antes de reunir coragem para iniciar algum assunto. — Não sabia que gostava de cerâmica.
— Não tanto quando pintura, mas é um passatempo — O loiro sorriu, umedecendo as mãos. — E faz parte do programa de aulas, então estou praticando.
O mais baixo cantarolou em resposta, meio perdido ao observar o Lee afundar os dedos curtos no barro para formar textura, mordendo os lábios em busca de concentração.
Changbin suspirou, exasperado, sentindo as palmas das mãos suarem.
— Você, huh, parece muito bom -ah, quer dizer, suas habilidades parecem boas — coçou a nuca, odiando o hábito de gaguejar. Deus, porque estava tão nervoso? —, apesar de ser só um passatempo.
O sardento riu alegre — como sempre — e ajeitou os óculos com o pulso limpo.
— Obrigado, hyung. Isso me deixa menos inseguro.
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Slump; changlix
RomanceChangbin amava compor, amava cursar música, porém descobriu que odiava seu professor. Lógico, normalmente qualquer um ficaria feliz - e muito - em receber as palavras "almas gêmeas" como tema para composição, mas Changbin não era qualquer pessoa. Af...