Capítulo 18: A Separação

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      Como estava previsto, a chuva chegou no início da caminhada, tão forte que fizeram com que eles tivessem que parar, conseguiram achar uma caverna para se protegerem da forte chuva, decidiram ficar ali até que ficasse mais tranquilo para retomar a jornada.  Como estava frio, e as roupas muito molhadas, fizeram uma fogueira para se esquentarem e secarem suas vestimentas. As horas se passaram e a chuva continuava forte, por conta disso acharam melhor dormir, assim aproveitariam o tempo que estavam impossibilitados de prosseguir para  descansarem e se preparam para a longa caminhada que teriam até o Reino Baturin. Enquanto um dormia o outro íria ficar de vigia, depois trocariam, assim os dois poderiam descansar com um pouco mais de tranquilidade, sem preocupações com o que pudesse acontecer enquanto dormiam. Clarice se ofereceu para ficar de vigia primeiro, e assim foi, Grizeld foi dormir e ela se sentou na entrada da caverna.
 
   A chuva continuava forte, os ventos sopravam violentamente as árvores, isso dificultava a visão e a audição de Clarice, seria difícil perceber algo se aproximando, mas ela tentava ficar mais alerta possível, mas nada estranho aconteceu enquanto ela vigiava. Após um período de tempo Grizeld trocou de lugar com ela, e nada aconteceu também enquanto ele estava de vigia. A manhã veio trazendo um fim a toda aquela chuva, o céu agora se encontrava em um lindo azul, com pequenas nuvens espalhadas, o dia estava perfeito para voltarem a prosseguir. Antes deles retomarem a caminhada, Grizeld alertou Clarice dos perigos que logo teriam que enfrentar.

—Preciso te falar algo muito importante—Disse Grizeld em um tom preocupante—Não muito longe de onde estamos, vamos passar por entre um agrupamento de grandes montanhas, porém esse local foi enfeitiçado por um cinzento muito poderoso, que lançou um  feitiço mortal, eu já presenciei do que esse feitiço é capaz, é algo terrível. Assim que entrarmos nesse lugar, em hipótese alguma olhe para trás, você ouvirá vozes, sentirá como se houvesse alguma coisa tentando de atacar, o feitiço lançado ali fará de tudo para que olhe para trás, mas não faça isso, resista e não acredite em nada que ouvir, não é real, entendeu?
—Está bem, eu resistirei, mas o que acontece se olhar para trás?—Clarice perguntou curiosa.
—Os olhos começaram a sangrar muito, e nada é capaz de fazer parar, o sangue jorra até não sobrar uma conta dele no corpo.
—Uma forma bem triste de morrer, irei tomar cuidado—A jovem falou um tanto perplexa.
—Poderíamos dar a volta em torno das montanhas, mas isso demoraria muito, e acho que você quer chegar em Baturin o mais rápido possível, não?—Perguntou Grizeld já sabendo a resposta.
—Exatamente, não vamos dar a volta, quero chegar lá o quanto antes—Ela respondeu muito decidida.

    Não demorou muito para que eles chegassem no local enfeitiçado, Clarice nunca tinha visto montanhas tão grandes, ficaria mais tempo ali admirando elas, mas não podia perder tempo, antes de adentrarem a passagem entre as montanhas, a jovem já sentia algo estranho que fazia seu corpo todo arrepiar, e quando entraram, a sensação estranha ficou mais forte ainda, um leve medo começou a dominar ela, porém isso não a impediria de prosseguir, essa opção nem seria cogitada. Poucos minutos após iniciarem a travessia por aquele caminho enfeitiçado, uma opressão tomou conta de Grizeld e Clarice, sentiam como se algo perigoso e mortal estivesse bem atrás deles, isso já estava previsto, mas mesmo assim a vontade de olhar para trás era quase incontrolável, sentir que alguma coisa vai te atacar pelas costas e ter que permanecer olhando para frente, não era algo fácil de lidar, estava sendo muito difícil para eles.
 
   Mesmo com tamanha dificuldade estavam conseguindo se manterem firmes, porém vieram as vozes, começaram com sussurros que gradualmente foram se tornando falas mais definidas. Até então Clarice estava mantendo o controle, mas em um certo momento as vozes pararam e apenas uma voz se fez ouvir, era a do seu filho, ela nunca esqueceria a voz do seu amado filho, poderia passar o tempo que fosse, não iria esquecer. Ao ouvir o que seria seu filho chamar por ela, Clarice parou de súbito, uma convulsão de pensamentos se formou na mente dela, a voz estava tão real que ela começou a achar realmente que Merlin a chamava. Grizeld que estava a uns dez passos atrás, percebendo que Clarice viraria para para olhar, gritou para impedir que isso acontecesse.

—NÃO, NÃO VIRE, NÃO É REAL—Bradou Grizeld o mais alto que pode.
—COMO PODE TER CERTEZA?—Clarice chorando gritou em resposta—E...e se ele realmente está atrás de nós? Ele pode ter nos visto ao longe e só nos alcançado agora...
—Não seja tola, se fosse o seu Merlin já teria corrido para você, estaria te abraçando e chorando agora aos seus braços agora nesse instante, não parado, te chamando, esperando você olhar para ele—Falava Grizeld já bem próximo dela.
—Você não sabe como ele agiria! Acha que consegue determinar o que meu filho faria? NÃO, VOCÊ NÃO PODE!
—Calma...calma, não estou tentando nada disso, apenas lembre onde estamos, é o feitiço, por favor não olhe para trás, Merlin não está aqui Clarice—Disse Grizeld tentando fazer ela voltar a si.
—Você…você está certo, está completamente certo—Dizia Clarice controlando as emoções—Desculpa por isso, não queria ter agido dessa maneira, peço perdão.
—Não se desculpe, no seu lugar eu provavelmente agiria da mesma forma, apenas vamos seguir em frente e sair dessa maldito lugar.

    Seguiram caminhando por aquele trecho enfeitiçado que ainda tentava fazer eles olharem para trás, porém já suportavam com mais facilidade, até que conseguiram sair daquele local, mas só foram descansar da caminhada quando estavam bem longe daquele lugar. Pararam em uma colina que dava de frente ao lago não muito grande, havia nesse lago alguns patos que nadavam naquelas águas mansas, o dia ainda estava ensolarado, com uma leve brisa refrescante. Os dois se sentaram e permaneceram um tempo em silêncio, ainda estavam um pouco abalados pela experiência que tiveram mais cedo. Eles ficaram naquela colina por um pouco de tempo, logo após comerem se levantaram e partiram rumo ao Reino Baturin, que ainda estava longe. O caminho estava tranquilo para seguir, agora caminhavam por uma planície com lagos que variavam de tamanho, uns grandes, outros pequenos, um lugar maravilhoso de se estar.
 
   Metade da tarde já tinha passado quando Clarice e Grizeld se depararam com um rio que cortava o caminho que eles seguiam. Acharam que dava para atravessar a pé, não parecia ser fundo e a água não corria muito forte, decidiram então seguir. O início da travessia foi tranquilo, mas começaram a encontrar dificuldade em relação à força da correnteza e, para piorar a situação deles, descobriram que aquele rio era mais fundo do que tinham imaginado. Não demorou para que eles começassem a ser levados pelas águas, tentaram voltar mas já era tarde demais, lutaram o máximo que puderam, porém não adiantou de nada, já estavam sobre o domínio da correnteza. Em certo momento os dois se distanciaram, Grizeld tentou localizar Clarice mas já a tinha perdido de vista, o que tinha a fazer agora era achar alguma coisa para se segurar, uma pedra ou um  tronco de árvore, mas não encontrou nada que pudesse se agarrar.
 
   Ele foi levado rio abaixo sem conseguir parar, já estava começando a se afogar quando percebeu que ia em direção a uma cachoeira, não tinha como escapar dela, as forças lhe tinha esvaído, e até então não tinha nada para que pudesse se segurar, e ele caiu. Enquanto descia por aquela cachoeira, começou a escurecer, como se encontrava impossibilitado de ver o motivo, ele não percebeu que estava caindo em uma profunda caverna. Grizeld caiu em águas um pouco mais tranquilas, logo foi para a superfície e nadou para a parte seca daquela caverna que inusitadamente tinha um pouco de iluminação. Quando se aproximou mais de onde tinha claridade, se deparou com vários corregedores interligados com tochas para iluminá-los. Se não fosse pelas tochas, aquele lugar estaria em um completo breu, ele não iria ver absolutamente nada, a iluminação era algo muito bom para o momento, mas ruim também, pelo motivo dele não está sozinho ali, não tinha como voltar por onde ele veio, a única opção era tentar achar a saída por aqueles corredores, que eram um tanto pequenos para ele, o que vive ou os que vivem naquela lugar eram seres de baixa estatura, mas a questão era se seriam amigos ou inimigos.

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