Isadora
Fechei a porta sentindo o coração na mão, não acredito no que eu fiz.
- Qual é a parte de "fique longe do Russo", você não entendeu? - Layane disse encostada na porta da cozinha com um balde de pipoca nas mãos, corri até ela e a abracei.
- Eu vou queimar no fogo do inferno por isso, Lay? - choraminguei e ela deu risada, me puxando pro sofá.
- Claro que não mona, quem nunca deu pra pessoa errada, tá tudo bem. - arregelaie os olhos.
- Eu não dei pra ele! Nós só nos beijamos! - afirmei em desespero.
- Foi só uma express...você beijou ele?! - perguntou enquanto deixava pipoca cair da boca, arregalando os olhos.
- Ahm.. sim. - confirmei tímida, observando sua expressão de indignação.
- Ruiva... se tá podendo, em. - nos cobriu com a mantinha.
- Porque? Hoje mesmo vi ele com mais duas meninas..
- Russo não beija ninguém, pode até comer 15 guria por dia, mas nunca fiquei sabendo de beijo, única pessoa que ele beijou que eu saiba foi minha irmã, e a muito tempo atrás.
Me encolhi no sofá, ainda sentindo minha calcinha úmida pelas cenas ocorridas a alguns minutos.
Deitei minha cabeça no ombro de minha amiga, que começou a tagarelar sobre como havia sido a transa de hoje dela, com Galego.
A verdade é que ele é apaixonado por ela, mas ela é uma pessoa difícil, não assume que sente o mesmo.
Em pouco tempo, peguei no sono, no meio do relato sexual de minha amiga, babando em seu ombro.
[...]
Pela manhã, tomei um banho rapidinho e me arrumei pro meu primeiro dia de trabalho na padaria do Sr. Quinzin, coloquei uma calça jeans branca cintura alta e meus tênis brancos, estavam surrados mas ainda dava pro gasto.
Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e coloquei uma blusinha branca, Layane se vestiu e descemos o morro indo até meu novo local de trabalho.
Assim que chegamos lá, Fátima me recebeu; ela era a esposa de Sr. Quinzin, não parecia ter gostado muito de mim.
Fora eu, trabalhava mais uma garçonete lá, a filha deles, que também parecia não ter ido com minha cara.
Coloquei meu avental e um sorriso no rosto, indo para a atividade.
[...]
- Você tá surda, garota?! Já te falei que se serve com a mão direita! - Yasmin disse batendo a bandeja de ferro no balcão, fazendo-me assustar.
Engoli seco, essa havia sido uma das décimas reclamações.
- Yasmin, peço perdão, mas eu sou canho.. - ela me interrompeu.
- Desse jeito não vai durar uma semana aqui, vai vendo. - debochou e jogou o pano de prato em meu rosto.
Esfreguei meus olhos com as mãos e fui até o banheiro, sentei na privada e passei as mãos sobre o rosto, segurando a vontade de chorar.
Custava ser um pouco mais gentil?!
Voltei para o balcão, aqui não tinha muito movimento, mas pelo fim da tarde começaram a aparecer muita gente, uma rodinha havia se formado.
E nela estava Russo, com sua cara fechada e rosto inexpressivo, ao seu lado alguns caras e Paola, Camila e Milena estavam na rodinha também.
Engoli seco, tudo que precisava pra piorar meu dia, ótimo!
Você consegue, Isadora.
Caminhei até a mesa e segurei a caderneta com minhas mãos trêmulas.
- Boa tarde, oque desejam para hoje?! - perguntei com um sorriso nervoso no rosto.
- Duas Itaipava e uma porção de batata. - Galego disse ascendendo um, e logo anotei seu pedido.
- Mais alguma coisa?
- Vou querer o mesmo, e acrescenta mais uma cerveja. - a voz grossa de Russo se fez presente, bambeando minhas pernas.
- Você tá no cardápio, Ruiva? - Fininho perguntou me lançando um sorrisinho.
Abaixei a cabeça sem graça e engoli seco, não sabia oque responder então apenas ignorei.
Por um instante meu olhar se encontrou com o do homem que esteve em minha casa ontem, que estava com o maxilar travado e me olhava como se eu fosse sua presa.
Talvez de fato, eu fosse.
- Mais alguma coisa? - todos negaram e eu dei as costas, indo de volta para a cozinha.
Assim que os pedidos ficaram prontos, equilibrei tudo na bandeja esperando não derrubar e fui até a mesa, começando a servi-los.
- Aqui está o pedido de vocês, obrigada. - dei um sorrisinho e coloquei as coisas na mesa, e quando fui servir o pedido de Russo, caminhei até seu lado da mesa, mas senti algo bater em meu pé esquerdo.
Vi a bandeja voando alto, e as cervejas caírem todas em cima dele.
- Me-meudeus... e-eu sinto muito! - peguei o pano de prato em meu ombro e tentei limpa-lo, mas o mesmo negou meu toque.
Meus olhos arderam, merda.
- Eu sinto muito mesmo, eu devo ter tropeçado em algo e... - escutei risadas vindo das três, e me toquei no que tinha acontecido.
Camila havia colocado o pé pra mim tropeçar, e meu dia estava cada vez pior.
- Tô de boa Ruiva, mete o pé. - disse seco, tentando se limpar e eu engoli seco mais uma vez, sentindo a vergonha me consumir.
E foi assim, meu primeiro dia de trabalho, uma tragédia.
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Entre linhas [F]
Novela Juvenil+16 | 𝕮𝖔𝖒𝖕𝖑𝖊𝖝𝖔 𝖉𝖔 𝕮𝖍𝖆𝖕𝖆𝖉𝖆𝖔, 𝕽𝖎𝖔 𝖉𝖊 𝕵𝖆𝖓𝖊𝖎𝖗𝖔. Russo nunca pensou que alguém fosse conseguir dominar seus pensamentos, até sentir seus olhos brilharem ao conhecer a ruiva das bochechas coradas.