𝗕𝗘𝗦𝗧𝗜𝗔𝗟 ; daemon t.¹ ✓

002.

    AQUELA DIA foi uma lição para muitos no local. Nunca tocar em Athena, a cria de Daemon, ou algo terrível poderia acontecer com você. Obviamente aquilo não impediu a garota de sair fazendo suas travessuras, ela estava crescendo e querendo explorar o mundo todo a sua volta, era algo normal para alguém de sua idade - ao menos era o que Daemon fazia todos ao redor pensarem. E Athena nunca estava sozinha, Ceix e Edyta estavam sempre ao seu lado, sempre um passo atrás da jovem garota.

"- O que faz aqui sozinha?" _ Daemon caminhou até a jovem garota sentada no telhado da enorme casa, as mãos atrás das costas enquanto se escorava na proteção em frente a menina. "Vai dizer ou vou ter que descobrir?"

"- Vai mandar Ceix me espionar novamente?" _ o encarou, Daemon inclinou a cabeça levemente, um sorriso suave nos lábios.

"- Ele só serve para precauções." _ balbuciou. "Diga-me. O que está te aborrecendo?" 

   Athena se arrumou no local, as mãos sendo postas por debaixo de suas pernas em uma tentativa de esquentá-las do ar frio, Daemon saiu de seu local e foi até a menina sentando-se ao seu lado.

"- As pessoas estão dizendo coisas ruins sobre mim." _ murmurou. "Eles dizem que eu... eu sou um aborto." _ engoliu o nó em sua garganta, ela encarou o homem ao seu lado. "Você acha que eu sou um aborto?"

"- Nunca!" _ passou a mão por entre os cabelos da mais nova. "Você é minha filha."

"- Não de sangue." _ bufou de forma irritadiça. "É só olhar para mim! Eles estão certos."

"- Eu estou olhando para você" _ Daemon passou o polegar pela bochecha de Athena, essa que sorriu levemente com o gesto. "E eu vejo a perfeição."

"- Você só diz isso porque é meu pai." _ rolou os olhos enquanto o homem a abraçava, seu rosto foi enterrado no peito do mesmo que selou seus cabelos. 

"- Eu digo isso porque é a verdade." _ sussurrou. "Você é um dos meus bens mais preciosos, Athena, e eu te amo."

"- Eu amo você também, papa." _ sorriu, fechando os olhos ela se aconchegou no homem.

    Os abraços de Daemon eram aconchegantes para a jovem garota, protetores e quentes, ela adorava ficar abraçada no mesmo, aqueles momentos eram os seus favoritos.
   Abrindo os olhos a menina encarou a vista em sua frente, ainda nos braços do homem que lhe salvou anos atrás. A vista da praia era algo incrível, de longe ela podia ver Vhagar - o dragão de Laenor - e Naberius - o seu dragão - em um sono profundo na areia, de onde estava eles não passavam de duas grandes montanhas adormecidas.

"- Nós vamos para a ruinas hoje" _ Athena saiu do abraço e encarou o mais velho, um sorriso divertido nos lábios.

"- Não vão muito longe." _ o homem apontou. "Sabe que não posso te proteger de longe."

"- Eu sei pai." _ se levantou. "É melhor eu ir, eles podem ficar bravos comigo."

"- Hey!" _ Daemon exclamou, algo que fez Athena para seus passos e o encarar. "Não esqueceu de nada?" _ a menina sorriu e correu até o homem lhe dando um leve beijo na bochecha. "Agora você pode ir."

"- Te vejo mais tarde, pai."

"- Te vejo logo."

       Athena e Edyta correram por entre as ruas da cidade rumo a casa do ferreiro, as mãos estavam entrelaçadas juntas e os sorrisos eram largos. Assim que pararam em frente a ferraria elas puderam ver a silhueta de Ceix atrás do fogo, ele estava fazendo uma ferramenta com as instruções de seu pai.

"- Boa tarde, Amorin." _ Athena cumprimentou o homem ao ficar na entrada do local.

"- Olá meninas!" _ o homem sorriu e encarou o filho com as mãos na cintura, Ceix o encarou com um olhar de esperança. "Não volte tarde."

"- Obrigado pai!" _ Ceix tirou o avental de couro que tinha no corpo e correu até as meninas. "Vamos antes que ele mude de ideia."

"- É melhor corrermos." _ Edyta deu uma risada e eles partiram do local.

     As ruinas ficavam longe da praia e do povoado, antes era um enorme foço onde os dragões ficavam, mas o mestre da cidade achou melhor fazer o fosso mais perto do castelo, então, assim foi feito.
  Os três jovens estavam parados em frente ao fosso, algumas partes haviam caído e todo o complexo estava cheio de heras e folhagens que cresceram ao longo do tempo.

"- Não tem nada ali dentro... certo?" _ Edyta questionou um pouco receosa.

"- O que?" _ Ceix deu uma risada irônica. "Dragões?"

"- Não sejam bobos." _ Athena os encarou. "Vamos!"

"- O que?" _ Ceix a encarou. "Entrar ali?"

"- Você disse que não tem nada ali." _ Athena o encarou com um sorriso. "Por que tem medo?"

"- Eu não tenho medo!" _ se defendeu, porém, sua voz saiu mais fina do que ele esperava, as duas meninas se encararam com sorrisos e Ceix limpou a garganta. "Eu não tenho medo." _ arrumou a postura.

"- Ok!" _ Athena cantarolou. "Então... vá na frente." _ apontou.

"- Por que você não vai?" _ a encarou em um desafio silencioso. "Ou tem medo?"

"- Vocês são tão idiotas." _ Edyta falou passando por eles e indo até a abertura do local, ela parou e os encarou. "Vocês não vêm?"

"- Vamos." _ Athena puxou a mão do garoto e eles andaram atrás de Edyta.

    O local não era de total escuridão, algumas faixas de luz passavam pelas rachaduras ali encontradas, eles tinham sorrisos nos lábios de forma encantada, era difícil achar ruinas como aquelas, ainda mais vazias como essa que eles se encontravam.

"- É tão silencioso, não acha?" _ Athena os encarou, uma leve careta no rosto.

"- Eu não vejo nem um bicho rastejante." _ Edyta observou ao encarar o chão ao redor. "Nem uma espécie de animal."

"- Vocês não tão pensando no que eu imagino... certo?" _ Ceix olhou ao redor, sua mão se moveu para a espada ao lado de sua cintura.

"- Não seja estupido." _ Athena o encarou. "Eles tiraram todos os dragões."

"- Fossos também eram feitos para guardar ouro." _ Edyta fez uma observação. "E tem um dragão... o dragão de Cólquida, que era usado para proteger esses tesouros."

"- É só um mito." _ Athena murmurou para a amiga ao seu lado.

"- Mito ou não" _ Ceix suspirou. "Eu não gosto desse silencio."

"- E... a cidade é rica" _ Edyta voltou ao seu pensamento. "Então..."

"- Não tem dragões aqui." _ Athena a encarou. "É bem improvável que..." 

"- Que?" _ Ceix fez um gesto com a mão para ela continuar falando. "O que está olhando?" _ se virou.

    Atrás deles, bem, agora em frente deles, havia uma enorme sombra de escamas verdes, Ceix tirou a espada da bainha e apontou para o animal, enquanto Edyta segurava a mão de Athena fortemente.

"- Corram!" _ Ceix exclamou. "CORRAM! VAMOS!"

    O garoto saiu empurrando as duas meninas, essas que correram ainda mais para as profundezas do fosso, os passos rápidos, mas não rápidos o suficiente para se defenderem do dragão que os seguia, seu enorme corpo batendo nas paredes fazendo o local tremer e algumas rochas caírem em algum ponto.
   Athena olhou para trás mais uma vez vendo a silhueta fazendo uma curva, braços fortes a puxaram para dentro de uma câmara e ela se encolheu na frente de Ceix e Edyta, essa que lhe abraçou fortemente o braço. O bufar quente do animal foi sentido, um sinal de que ele estava se aproximando, os jovens se encolheram no local, os corpos se conectando com a parede, naquele momento eles desejavam ser camuflados, Ceix tinha a espada levantada em frente ao corpo, as mãos tremendo levemente.
  O corpo esbelto do dragão parou em frente aos jovens, o olho azul gélido os encarou com uma fúria inexplicável, sua boca se abriu e um chiado conhecido soou pelo local.
   O fogo cuspiu no ar, assim como o grito de pavor dos três jovens destinados a uma morte dolorosa.

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BESTIAL; 18 novembro 2022