Sempre me perguntei como as histórias de amor aconteciam. Em quanto tempo o amor se estabelece? Como ele se desenvolve? Horas... dias... meses...anos...? Como alguém podia saber que estava ou não apaixonada por alguém? Era o coração palpitando, as mãos suadas, o frio na barriga?De certo modo, nos meus 29 anos de idade, eu nunca pensei que isso ia, realmente, acontecer comigo, veja bem, eu tive pais amorosos, comigo, e um com o outro, vi o amor agindo na minha frente, mas nunca realmente entendia sobre isso, por mais que minha mãe explicasse, por mais que visse os olhos dos meu pai brilhando ao olhar pra minha mãe, em experiência eu não sei realmente como funciona.
A adolescência passou quase batida pra mim, achava os garotos lindos, beijei muitos, fiz muitas amizades, mas nunca senti aquela palpitação. Namorei duas vezes, o primeiro, eu tinha 16 anos e durou 5 meses, e eu gostava dele, gostava de ver filmes e conversar sobre a vida, e ria de suas piadas, mas era isso, eu não sentia as mãos suarem, nem o coração palpitar, nem nada disso, então terminei, porque algo dentro de mim dizia que não era isso, algo me impulsionava a achar o que meus pais tinham.
Aos 22, quando estava na faculdade de moda, conheci um rapaz, do curso de direito, saímos algumas vezes antes de ser pedida em namoro, esse durou 12 meses, porque com ele descobri outros tipos de palpitações, descobri a excitação e o corpo quente durantes os beijos que ele me dava, me levavam a loucura, mas ele esperou mais de mim, ele disse "eu te amo" e eu não pude responder de volta, apenas porque não sentia o mesmo, com isso, acabei terminando o nosso namoro também. Porém ele serviu como uma porta para um mundo novo, eu não conseguia me apaixonar, mas podia dormir com os caras sem problema nenhum.
Aqui estou eu, no mês de dezembro, em uma correria louca pra dar conta das minhas lojas, sou CEO da minha própria marca, minha mãe me ensinou a costurar quando eu ainda era muito nova, e desde os 15 eu faço meus próprios desenhos, ao 16 fazia roupas únicas pras minhas amigas e aos 18 já vendia pra várias lojas, entrei na faculdade pra aumentar minhas técnicas e adquirir mais conhecimento, com ajuda dos meus pais abri minha primeira loja aos 20 anos, o tempo passou, uma coisa levou a outra e hoje tenho três lojas, duas na cidade onde moro e mais uma na cidade vizinha, estou em busca de abrir a quarta em um outra cidade também próxima, continuo fazendo a maior parte dos desenhos, apesar de precisar lidar com toda a parte burocrática que ser dona de um negócio envolve, isso é claro, dificulta ter uma vida social normal. Entre tentar cuidar da saúde e cuidar de um negócio ainda não houve tempo pra namorado e filhos, apesar de ainda ser um desejo, apenas não me vejo cumprindo tão cedo, como encaixar alguém nessa vida que levo?
Era dia 20 de dezembro, e eu sai praguejando comigo mesmo ao sair de casa e precisar ir pra outra cidade, porque diabos decidi abrir mais uma loja em pleno dezembro? Na época de maiores vendas no mundo inteiro, sendo que eu tinha uma viagem planejada pra outro país em busca de inspirações? Devia ser uma época feliz pra mim, uma viagem pra um lugar que sempre quis ir e finalmente ia conseguir, precisaria ir no dia seguinte e eu ainda tinha que ir na loja nova pois a maldita empreiteira estava com algum problema nos último retoques das obra, e óbvio, meu assistente, Julian, não conseguiu resolver, obviamente, OBVIAMENTE, sobrava pra mim novamente. Eu tinha certeza que tinha alcançado o pico do estresse quando cheguei a cidade de Linderle, que ficava a 1 hora de viagem da minha cidade natal, e adentrei na obra, pronta pra cuspir fogo no primeiro idiota que encontrasse pela minha frente, por sorte quem me encontrou primeiro foi Julian, com um copo grande de chocolate quente pra espantar o frio que estava sentindo.
- Eu sei que você deve estar querendo comer alguém de garfo e faca, mas por favor, respire, é algo que infelizmente eu não vou poder ajudar. - Meu assistente, sempre prestativo falou, respirei fundo pra tentar me acalmar.
- O que aconteceu dessa vez? - Perguntei mais calma e tomando um gole do chocolate.
- Você precisa ver, vamos entrar. - Ele falou calmamente apontando pra entrada ainda coberta com uma lona.
O segui pra dentro com passos lentos enquanto bebericava meu chocolate, tentando entupir meu sangue de açúcar pra me manter calma, mas nada me preparou para o que encontrei.
A loja estava pronta, simples assim, pronta, do jeito que eu queria que ficasse, com cada detalhe no lugar, as paredes tom de creme se erguiam altas, os detalhes do teto gesso estavam perfeitos e iluminados do jeito que sonhei, as araras espaçadas com algumas peças de roupas já expostas, espelhos em locais estratégicos que combinavam com o espaço e as cores do ambiente
Levei a mão a boca em choque, estava perfeito, simplesmente perfeito, mais do que sonhei.
Olhei pro Julian, só podia ter sido ele, aquele homem tinha uma forma misteriosa de ler a minha mente e antecipar minhas necessidades, ele sorria pra mim largamente, com aqueles dentes perfeitos e alinhados.Tá ok, tem algo que preciso revelar sobre Julian, ele é um lindo, lindo mesmo, sabe? O cabelo cor de areia tem um corte moderno, os braços são fortes e definidos que só faltam rasgar as blusas sociais que usa diariamente, coxa firmes e fortes - as calças sociais me permitem perceber -, bem mais alto que eu com seus 1,90 e poucos, sem falar no seu rosto, olhos cor de avelã quase verdes, nariz reto e firme contrastando com os lábios grossos, as sobrancelhas devidamente alinhadas, um rosto esculpido, definitivamente. Além, é claro, de ser uma pessoa boa, responsável, educado e até amável, eu via como ele agia com as pessoas ao nosso redor e nos corredores sempre ouvia maravilhas sobre ele.
Então você já dormiu com ele, Amanda? A resposta é: não. Ele é lindo, mas é um assistente ainda melhor, não correria o risco de perder ele por um caso nunca, soube muito bem como manter minhas saias no lugar, apesar de ter que admitir que alguns dias eram beem mais difíceis que o outro, como agora, que tudo que eu tenho vontade de fazer, é sentar na cara dele por ter feito uma surpresa dessas pra mim.
- Meu Deus , isso tá um sonho! - Eu falei enquanto levava a mão ao coração que batia desesperadamente, feliz demais, com as emoções acaloradas além da conta. - Como...
- Eu sabia do projeto e sabia que você precisava agilizar antes de viajar então fiquei um pouco em cima - Julian me cortou, explicando.
- Eu poderia ter da um beijo sabia? - Disparei indo ver de perto detalhe por detalhe, encontrei seu rosto por um dos espelhos, e meu Deus, ele estava corando, CORANDO, que homem cora em pleno século 21? Fingi continuar olhando tudo enquanto tentava esconder o sorrisinho e um suspiro que acabei exalando.
Minha mente estava disparada, eu estava feliz, tão feliz e em paz quanto não me sentia em um tempo, eu poderia viajar tranquila, graças ao meu lindo e fofo assistente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu Natal Inusitado
Short StoryÉ um conto sobre alguém que não conhece o amor, mas, que em um inusitado "acidente" pode conhecer, e até se encantar, por esse sentimento tão esquisito. Amanda é uma empresária de sucesso, dona da sua marca e de si mesma, realizada, porém, talvez, c...