Avião

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Confesso que meu coração bateu um pouco mais forte, senti algo dentro de mim tremer e meu sangue correr mais rápido, sintoma de tesão, com certeza. Tratei de mudar de assunto e acabamos conversando sobre as lojas e os compromissos que teria depois que voltasse.

Eu tenho uma marca próspera e que pouco a pouco está entrando nos corações e nas casas das pessoas, mas ainda não alcancei aquele patamar dos CEO's dos livros, tenho dinheiro, bastante, tenho minha casa, meu carro do ano, os melhores cosméticos, roupas, bolsas, enfim. Me acho nova ainda, então sei que tenho muito mais pra alcançar. Decidi pegar o voo normal, classe executiva, porque não sou nem louca de gastar com jatinho e sei lá mais oque, talvez eu seja um pouco mão de vaca pra isso, ou seja porque ainda não sou tão reconhecida assim. 

Finalmente nosso voo foi anunciando e começou a fila de embarque, ainda esperamos um tempinho para entrar, mas tudo certo, encontrei meu acento, coloquei minha mochila no compartimento de cima e preparei os fones para enfim começar a viagem. 

Mas é claro, É CLARO, que Julian sentou do meu lado, eu esperei fortemente que não precisaria ter que lidar com a proximidade com ele por mais tempo, eu me sentia ansiosa, nervosa, o que era estranho já que em todos esse meses nunca tinha me sentido assim, respirei profundamente invocando todos os mantras pra manter a calma. 

- Então, não só pro mesmo destino, não só no mesmo avião, mas em cadeiras vizinhas? - Não consegui segurar e perguntei com um sorrisinho falso no rosto.

- Eu nunca voei pra tão longe, e tenho que confessar que não gosto muito, pensei que ter você por perto facilitaria. - Ele explicou enquanto com o rosto relaxado, mas um lampejo de nervosismo nos olhos. Hun, talvez ele não estivesse mentindo sobre isso. 

- Entendi... Como você conseguiu o acento ao meu lado? Tô vendo que está lotado. - Perguntei por pura curiosidade. 

- Você acreditaria que um dia antes de você me pedi pra reservar as passagens minha mãe me contou sobre meu pai? 

- Não, não acreditaria.

- Bem, foi isso que aconteceu. 

Abri levemente a boca, esperando que ele risse e dissesse que estava brincando, eu não era muito de acreditar em destino, mas tenho que reconhecer que foi um time bem preciso. 

- Não me olhe com essa cara, eu tô falando a verdade. Na noite anterior eu fui na casa dela, como sempre vou, e então ela decidiu contar tudo sobre meu pai, simples assim, despejou todas as informações sobre mim como se aquilo estive a deixando tão engasgada que ela já não aguentava mais. Eu não entendi a principio, fiquei olhando pra ela tentando entender aquela mulher que me criou e educou, me perguntando: por que agora? 

Apenas assenti, primeiro porque estava sem fala e segundo porque parecia que ele precisava desabafar, então eu permiti. 

- Voltei pra casa, ainda fervilhando, dormi mal, acordei pior. Remoendo aquela história, minha vida, minhas origens, eu sabia um nome, uma cidade. Nem passou pela minha cabeça ir até lá, sabe? Então você falou comigo, pediu pra ver os voos para a mesma cidade do meu pai, então achei que era o destino mandando eu fazer alguma coisa, e eu fiz, usei um dinheiro reserva que tinha e comprei a passagem junto com a sua. - Ele finalizou com a respiração curta, como alguém que precisava falar tudo de uma vez ou não conseguiria falar.

- Uau - Eu disse, porque era a única coisa que consegui pensar.

- Sim, uau. - Ele respondeu, rindo levemente. 

- Eu espero que dê tudo certo. Não sou dessas que acredita em destino, mas parece que no seu caso, é real. - Falei sinceramente, ninguém merecia uma viagem dessas pra não dar em nada.

Meu Natal InusitadoOnde histórias criam vida. Descubra agora