Caminho

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Depois de ficar babando por horas na minha loja, entrando e saindo dos vestuários, olhando cada detalhe e peça comprada, finalmente fui ver a fachada, antes coberta, agora se iluminavam em um letreiro sofisticado, com as palavras bem espaçadas "Adamante" , é provável que eu tenha visto esse nome quando era criança, naquelas carta de Yo-Gi-Oh! , mas me fiquei encucada com aquilo e quando vi o significado sabia que queria aquele nome, segundo o Google é um material mitológico e fictício, da natureza e que tem a qualidade de ser indestrutível, quando solidificado, e era isso que eu queria pra minha marca, quase mitológica, algo que trouxesse as mulheres um mundo novo, algo diferente, incomum, único, assim como queria, é claro, que fosse uma marca forte, e prosperasse, e isso aconteceu e vem acontecendo.

Agradeci novamente ao Julian, anotando na mente de dar uma bonificação das grandes para ele, definidamente aquele homem merecia cada centavo que ganhava e talvez mais um pouco.

- Você sabe que não é nenhuma tortura trabalhar pra você, Amanda, tudo que eu quis foi te deixar mais tranquila, eu sei que essa viagem é muito esperada pra você e fico feliz que tenha ajudado. - Ele comentou enquanto me seguia até o carro, ele disse que veio com o empreiteiro e nem se deu conta de que precisava voltar, o mínimo que eu podia fazer era oferecer uma carona de volta
Com certeza a felicidade escorria de mim e o sorriso não saia dos meus lábios

- É muito bom ouvir isso, não é algo que todo patrão escuta - falei rindo, eu quanto entrávamos no carro.  - Mas você tem razão, me sinto bem mais aliviada agora pra curtir minhas férias no meu país dos sonhos.

Uma música baixinha tocava no rádio e eu aumentei um pouco, cantarolando "Dandelions" da
Ruth B., enquanto sentia o olhar do Julian sobre mim. Não era sempre que tínhamos esse tipo de contato, o trabalho terminava as 18:00 e dificilmente eu o pedia pra ficar além disso, e quando acontecia nosso contato era mínimo, uma viagem de carro é além do incomum, mas eu estava feliz demais pra pensar nisso ou em problemas por isso.

Olhei de relance pra ele quando o ouvi cantando também, chocada por ele gostar daquela música, ele riu da minha surpresa

- Que houve? - ele perguntou com sua voz grave e levemente rouca.

- Nada, só não sabia que você gostava dessa música, mas pensando agora, eu não sei muito sobre você, então... - dei um sorrisinho amarelo, ele só parecia ser do tipo que gosta de rock? Sei lá. Se bem que não precisa ter cara pra gostar dos estilos musicais, eu mesma amava um rock tb.

- Gosto, gosto da melodia, da letra, mas tenho que confessar que tenho um gosto musical muito eclético, acho que gosto de tudo um pouco.

- Sim, também sou assim.

Um silêncio caiu sobre nós por mais um tempo, a estrada estava tranquila e a playlist continuava a tocar, sempre me surpreendia quando ouvia sua voz rouca cantando as músicas baixinho, ele tinha uma voz linda a propósito.

Quando estávamos a 20 minutos chegar na cidade, percebi ele abrir a boca pra falar algumas vezes, sempre parecendo desistir, como nunca fui alguém muito paciente, perguntei qual era o problema

- Não é um problema, eu acho, bem, não sei. Eu fiz algo que talvez você não goste, eu, am... - Nunca vi Julian tão nervoso como nesse momento, gaguejando e falando sem parar

- Julian, respire! O que aconteceu?  - Fui diminuído a velocidade até parar o carro no acostamento porque não sou irresponsável e sei que sou dada a pequenos surtos.

- Eu, bem... Comprei uma passagem pra mim, pra ir à Escócia também. - Ele disse de uma vez e tão rápido que continuei piscado sem parar enquanto minha mente tentava processar

- Por... - Minha voz falhou e eu cocei a garganta - Por que você faria isso? - Tentei, tentei com muita força manter meu tom controlado.

- Eu tenho algumas razões, antes que você avance no meu pescoço - Ele disse passando as mãos pela calça, nervoso, definitivamente nervoso. - Primeiro, eu estaria perto de você, caso você tenha alguma emergência com as lojas.. - Abri a boca pra dizer que pra isso existia telefone e internet, mas ele me cortou - Eu sei que existe internet, mas eu estaria lá, poderia ajudar mais... Mas tem outra coisa, bem, eu não sei se você sabe, meu pai mora na Escócia, na verdade ele mora na cidade que você vai, Glencoe, é engraçado porque ele é um McDonald, e tem uma história por trás e... enfim! Eu queria aproveitar pra ir encontrá-lo - Finalizou com a voz mais baixa, menos firme.

Foram segundos, minutos, horas? Eu ainda o encarava meio de boca aberta enquanto tentava processar e raciocinar.

- Eu...você, eu, não entendi. - Pelo visto, não tinha conseguido raciocinar nem um pouco.

- Eu meio que não conheço meu pai, ele não sabe sobre mim, minha mãe engravidou quando viajou pra lá antes de começar a faculdade, foi um "amor de verão" e enfim, ela me teve e não quis contar a ele, ela me contou recentemente quem ele era e eu, eu queria encontrá-lo, dizer que eu existo, não sei. Eu não pensei direito. Desculpa, eu vou tentar cancelar a passagem, algo assim.

Minha mão foi parar automaticamente no coração ao ouvir seu relato, como filha única de uma casal extremamente apaixonado era difícil pensar em não ter um dos dois por perto, imagine não conhecer seu pai até a vida adulta?

- Não, não precisa, a gente pode ir junto, é claro! O avião é público, bem, não público, mas enfim, você entendeu. - Pensar por um segundo em viajar SÓ com ele me causava calafrios.

O sorriso reto brilhou novamente no seu rosto e uma emoção sem nome passou por seus olhos quase verdes, fiquei me perguntando o que passava nos meus, será que passava todo medo, excitação e desespero que eu estava sentindo?

- Eu não saberia como começar a te agradecer! - Ele suspirou, parecendo aliviado e então riu feliz.

- Vou pensar em alguma coisa. - Falei, apenas pra fingir que nada disso tinha me afetado.

E enquanto eu ligava o carro e pegava a estrada novamente eu senti, senti no fundo do meu ser que aquela viagem ia mudar alguma coisa, eu podia sentir minhas estruturas sendo abaladas.

Meu Natal InusitadoOnde histórias criam vida. Descubra agora