Da aurora ao crepúsculo

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Willie

O rapaz não conseguia dizer que estava surpreso pela reação da amiga, no entanto, desejava que ela fosse capaz de enfrentar essa dificuldade com a mesma garra que a fazia encarar todos os desafios, dia após dia. Willie podia ser pouco mais velho, contudo não gostava de ver sua garotinha sofrendo, isso também o afetava.

Pouco depois de Luke informar que iria procurá-la, o jovem viu Sir Mercer aproximar-se com uma cautela que encantou o chefe da guarda. Em um ato repleto de cuidado, Alex guiou o moreno até a sala de quadros para que pudesse espairecer, dar livre vazão aos pensamentos que ocupavam sua mente.

O loiro tomou a liberdade de acomodar-se ao seu lado e, em um ato quase involuntário, envolveu as mãos do jovem Ortega com um carinho perceptível. Naquele momento, era como se suas peles estivessem reconhecendo uma à outra, mesmo este sendo um toque novo.

- Posso não ter clareza do que está acontecendo, no entanto, sei que fizeram tudo que podiam para apoiar e acolher a princesa, mas ela precisa fazer escolhas por conta própria, Willie... E você, é evidente, está enfrentando coisas demais nos últimos dias, permita-se receber ajuda, meu caro...

As doces palavras de Alex são acompanhadas por uma leve carícia que, quase, é capaz de levar Willie de volta aos tempos de menino, no colo de sua mãe... Ah, que saudade dos concelhos de Olívia... O que aquela tão especial senhora estaria fazendo naquele momento? Seria possível lhe enviar uma carta?

Aos poucos, os ânimos foram acalmando-se e o rapaz sentiu profunda gratidão ao dar-se conta do que o outro fora capaz de fazer. Corrigindo a postura, Ortega pronuncia, castanho colidindo com verde, quando seus olhos se encontraram:

- Esse foi um gesto muito delicado de sua parte, Sir Mercer... Não imagina a importância de perceber que alguém que me conhece a tão pouco, consegue captar tão profundas sensações...

O jovem de loiros fios retém uma lágrima que traçava seu caminho pela face do moreno. Nesse instante, parecem notar a pouca distância entre seus corpos, porém não era algo que, de fato, incomodasse Willie. Palavras não eram capazes de traduzir a paz que corria por seu corpo, relaxando cada músculo castigado por anos de treinamento e responsabilidades.

Em um lapso de coragem, Alex envolve o rapaz em seus braços. Para alguns, um ato dessa natureza nada significa, no entanto, aqueles jovens conseguiam perceber quão íntimo e cuidadoso era o gesto. Willie se permitiu, repulsando o rosto naqueles acolhedores ombros, liberar o fluxo de lágrimas que vinha guardando para si desde a conversa com a princesa.

- Tranquilo... Não precisa se preocupar, tome seu tempo, estarei para ouvi-lo, quando quiser desabafar. Venha cá!
E, novamente, acomodando o rapaz no banco, Alex envolve os ombros para que recoste a cabeça...

Tendo o silêncio dominado o ambiente, Willie se põe a pensar: tudo que vinha acontecendo, a saudade de seu pai, a chegada dos novos guardas... Ainda não havia se dado conta de como tudo isso o estava sobrecarregando, até aquele momento.

Não sabia como explicar, contudo, a presença de Alex era fundamental e se, em outras circunstâncias, poderia estranhar todas as ações e, principalmente, as suas reações, com ele essa lógica não parecia funcionar. Seu corpo, seu coração demonstrava entender que aquilo era certo, que estava onde deveria estar.

Pensar sobre o papel que, aos poucos, vinha assumindo constantemente o assustava e deparar-se com um cenário como o daquela manhã punha a prova todo seu emocional. Isso, só agrega um simbolismo ainda maior ao fato de permitir-se sentir esse turbilhão perante o jovem de loiras madeixas...

- Obrigado por respeitar meu tempo, mas, principalmente, obrigada por estar aqui, sendo este amigo, este apoio incondicional... - Willie agradece após um longo período de quietude e introspecção.

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