Dividimos uma dor

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Julie

A jovem, ainda muito abalada por todos os sentimentos que se faziam presentes e, não tendo encontrado a paz que buscava em meio aos jardins do seu amado lar, fez o caminho de volta ao grande salão. Nesse ponto do dia, a rainha estava em seus aposentos e Flynn havia sido designada para direcionar Sir Peters em uma função nos arredores da propriedade.

Julie seguiu até o ambiente que, para ela, era um dos mais acolhedores de todo aquele belo palácio: a biblioteca do Molina's Palace. Estando rodeada por coisas que, normalmente, aliviavam sua angústia, a moça questionava-se o motivo pelo qual, neste ano, a situação parecia mais difícil. Com todas as histórias vivas em sua mente, nossa princesa adentra as majestosas portas de carvalho e observa uma instantânea tranquilidade alcançar seu interior.

Ao percorrer aquelas prateleiras recheadas de contos antigos, Julie se permitiu sentir o que seu coração vinha tentando evitar desde o alvorecer. A moça olhava os títulos ali guardados, buscando respostas para perguntas que não tinha coragem de fazer. Inesperadamente, ao trocar de prateleira, a princesa encontra um título ao chão e, abaixando-se para alcançá-lo, depara-se com as orbes esmeraldas que vinham colorindo, de maneira involuntária, seus dias.

— Mil perdões, minha senhora! - Luke estava tão assustado quanto a moça, mas apressou-se em recolher o exemplar, sem perceber que suas mãos, novamente, encontravam-se entrelaçadas nas da dama que tanto lhe encantava.

— Não há problemas, distinto senhor! O que o trás a essa redoma de paz? - a princesa indaga, tentando se esquivar das armadilhas de sua própria mente.

— Hum... Após o café e a troca de curativos, precisava de um lugar para colocar os pensamentos em ordem...

— E o senhor alcançou seu objetivo? - indagou a moça com curiosidade.

— Em verdade, buscava essa luz, quando alguns dos exemplares chamaram minha atenção... Não pude resistir à tentação de passar os olhos por algumas páginas - confessou o rapaz.

Nesse momento, Julie percebe o título que ainda segurava junto com o rapaz. Seria aquela uma mensagem para a sua conturbada jornada? A princesa ainda não sabia...

— Venha, vamos nos acomodar mais adiante para que possamos conversar um pouco - sugeriu a moça ainda tentando escapar do peso das poucas lembranças.

Assim, os dois encontraram algumas poltronas naquela região do cômodo. Após estarem devidamente posicionados, com vista para um dos muitos jardins da propriedade, Julie mais uma vez sentiu-se quase sufocada por tudo que vinha tendo que enfrentar. A jovem só recobrou a atenção por perceber que havia voltado a chorar silenciosamente. No entanto, dessa vez, suas frias lágrimas eram enxutas por mãos firmes, porém delicadas...

— Alteza, peço desculpas pela intromissão... Mas, entendendo o que a senhorita está passando - disse o cavalheiro de forma gentil.

Quando menos esperava, Julie viu o rapaz abandonar sua poltrona e ajoelhar-se a sua frente para dizer:

— Esta é uma época difícil, eu imagino, deseja conversar sobre? - ofereceu com cautela.

A princesa levantou o olhar para encontrar o do cavalheiro, o qual transmitia toda a calma e compreensão que ela poderia pedir naquele momento. Foi dessa forma que a moça percebeu que, mais do que nunca, precisava desabafar e soube que poderia confiar no jovem à sua frente.

— Hoje completam exatamente dezessete anos... - a moça não conteve o choro mais forte ao externalizar o motivo de sua dor.

Apenas com essa frase, tudo fez muito mais sentido para o rapaz que lhe fazia companhia. Por isso, este puxou-a para um caloroso abraço. Somente após perceber que a moça estava um pouco mais calma, Luke sentiu que poderia afrouxar os braços que rodeavam sua cintura.

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