Naquela sexta

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Posso dizer que sextou após a saída da escola. Eu particularmente sempre gostei bastante de fins de tardes em sextas-feiras, não importava se era um belo lusco-fusco após um dia ensolarado, ou então um dia nublado ou até mesmo chuvoso. Era sexta, nada mais importava.

Luisa foi embora junto com Fernanda, a Nanda. Provavelmente foi convencer ela à ir na casa dos horrores, cuja qual eu manti suspensa minha preocupação sobre. Por favor, isso não era hora para pensar mais. Eu havia passado por uma grande carga de estresse naquele dia, mal havia dormido e queria descarregar isso tudo através de um bom lanche, uma boa bebida, um doce beijo. Mas confesso que minha animação se dava por conta de uma mensagem que recebi mais cedo de Dani.

Eu não pretendia convidá-la, mas minhas pretensões reais deste dia eram relacionadas ao meu sono. Fiquei surpreso quando ela me convidou, pois havia algum tempo já, desde a última ficada. Ela era muito mais ocupada do que eu, entretanto. Era uma mina engajada em pautas sociais. Direto postava nos stories as atividades que fazia no movimento que ela participava. Ouvir ela falando sobre me deixava em queda livre diretamente para o papinho dela. Interprete a palavra em itálico não como flerte, pois ela (obviamente) não usava a luta social para isso, mas a interpretação se deve à minha baixa resistência a garotas inteligentes.

***

Enfim em casa, me arrumei ansiosamente. Tomei aquele banho gelado e gostoso, lancei umas borrifadas de um bom perfume (nada caro, mas a fragrância era boa), vesti as cores neutras mais quentes que eu possuía e fiquei pronto às dezoito. O encontro era às vinte. Eu mesmo não era disso, de afobação, mas a saudade que eu negava ter estava me consumindo legal.

— Vai sair com quem, garanhão? — perguntou mamãe , com ironia, quando acabara de chegar em casa.

— Com a Dani — respondi rápido.

Ela abriu um sorriso, enquanto guardava algumas compras. Eu fui ajudá-la.

— Eu gosto dela. Acha que eu seria uma boa sogra?

Minhas orelhas ferveram de vergonha.

— Ah, bem, sim?

— Pois também acho! — disse ela, animadamente. Indiretinhas como aquela eu vinha engolindo em seco desde a primeira vez que saí com Daniela. E eu ainda continuava tendo vergonha de tocar nesse assunto.

— Que bom, mãe. E como foi seu dia? — mudei o assunto. Já havíamos guardado tudo, ela se sentou na mesa e comecei a preparar o café. Gostávamos de tomar café naquele horário, quando ela chegava.

— Um pouco agitado. As crianças não calavam a boca. Tudo dispersas, querendo badernar. Sabe, sextas-feiras. Loucas para ir embora. Mas foi bom, o dia. E o seu? Oh — ela se lembrou —, é mesmo! Onde estava pela manhã? Você disse que iria me explicar quando eu chegasse. Luisa disse que foram pra casa dela mais cedo, mas achei bem estranho, pra falar a verdade.

Mais cedo, eu pensei em contar à ela sobre a casa. O assunto estava mais fresco e eu, mais desesperado. Porém, agora parecia uma má ideia falar sobre isso. Como ela entenderia bem que seu filho saiu no meio da madrugada pra uma casa abandonada sozinho, perto de uns terrenos baldios por aí? Nem ferrando.

— Ah, é... É que Luisa passou mal. Eu não achei nada pra... Constipação. Ai fomos pra casa dela mesmo, lá tinha o remédio.

Minha mãe me olhou desdenhosa, e eu estava com um sorriso bem forçado, mas ela aceitou o fato.

Tomamos café, depois fiquei esperando ansiosamente dar a hora do rolê.


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