Prólogo- E ao se perder vai se encontrar

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Há memórias no lugar
Onde o vento encontrar o mar
Durma logo e verá
O rio te leva a se encontrar

Suas águas vão trazer
Os segredos que você não vê
Siga a sua intuição
Pra não perder a direção

A voz de longe irá soar
E te alcançar onde estiver
Não deixe o medo atrapalhar
Ao enfrentar o que o rio trouxer

Há memórias no lugar
Onde a mãe sempre vai lembrar
Lembre disso ao me chamar
E ao se perder, vai se encontrar

Vovó cantava pra que eu dormisse. Essa é uma canção muito antiga, tão antiga quanto o tempo, tão mágica quanto as fadas da floresta. E em Pindorama há muitas florestas. Todos conhecemos a canção, e também conhecemos a magia, que é tão presente em nossa vida quanto o respirar, ou o sol de verão.

Naquela noite eu não queria dormir. No auge dos meus oito anos de vida, queria passar a noite acordada ouvindo histórias. Minha irmã mais nova já havia dormido, mas planejava acordá-la para ir ao jardim fazer as flores desabrochar, e depois comer os biscoitos que vovó fez pro café da tarde. Mas vovó não era boba, ela já havia percebido minhas intenções.

- Não me faça cantar a canção do sono pra você, mocinha. Sakura já está dormindo, agora é sua vez.
- Mas vovó, eu quero ouvir outra história...
- Só mais uma então e você dorme. Vou te contar sobre o Ahtohallan, porque sei que é essa que você quer ouvir.
- Sim!
- Muito bem.
Vovó se acomodou melhor ao meu lado, na cama macia. Puxou os cobertores sobre mim, e começou a fazer cafuné em meus cabelos, enquanto contava, em sussurros a história que eu conhecia bem, mas ainda me fascinava.

- Muito tempo atrás, antes da formação das ilhas, antes da descoberta da magia, muito antes do século perdido, no meio de uma floresta mágica, entre as árvores anciãs, uma nascente brotava do solo rico. Era o Ahtohallan, a fonte da magia. É nele que nascem os sonhos. Suas águas guardam muitos segredos. A vida, a morte, a luz, a escuridão. Todo o conhecimento da humanidade. Suas águas escondem a fonte do poder e o espalham pelo mundo inteiro. Cada gota daquela água é rica em mistérios. Um dia, alguém vai descobrir o Ahtohallan. Alguém vai navegar pelos mares, todos eles. Vai conhecer todas as ilhas, vai aprender a magia antiga, poderosa e selvagem. Vai dançar com a lua, voar com o vento, coletar o brilho das estrelas. Vai completar a jornada e encontrá-lo. Quando isso acontecer, esse alguém vai dominar todas as áreas da magia e vai, de uma vez por todas, derrotar a ignorância dos poderosos, libertar seu povo e salvar nossa ilha. Essa pessoa vai descobrir a verdade sobre si mesma, vai alcançar uma compreensão maior sobre a vida, vai entender os mistérios que nos fazem ser humanos e vai compartilhar com todos. Assim as guerras acabarão, viveremos em harmonia com os outros e com nossa terra.

- Vovó...
- Mas você ainda não dormiu?
Apesar da repreensão, sua voz soou divertida.
- Eu vou encontrar o Ahtohallan. Eu vou descobrir onde ele está.
- É claro que vai. Mas só depois que você dormir.
- É verdade! Eu vou sair daqui e vou procurar por ele. Só vou voltar depois que eu o encontrar. Porque ele está me chamando.

Vovó me olhou com curiosidade e apreensão.
- Como assim, Saori? O que você ouviu?
- Uma música, mas eu não entendo a letra... Eu sei que vem de longe eu não consigo entender o porquê, mas eu sei que ela quer que eu a siga.
- Querida...
Vovó fez uma pausa, parecendo pensar com cautela no que diria a seguir.
- Agora não é hora de pensar nisso. Amanhã conversaremos sobre. Tente descansar, porque se você realmente está ouvindo o chamado, deverá estar preparada.

E assim, naquela noite de primavera, eu entendi o que deveria fazer com minha vida. Eu não tinha compreendido a dimensão disso ainda, mas eu sabia que era algo grandioso. E antes de mergulhar em um sono profundo, pude ouvir vovó conversando com vovô:
- João... Ela ouviu o chamado.
Vovó disse sem rodeios.
- Cê jura? Eu imaginava que seria uma das duas mesmo. Elas tem seu sangue, afinal.
Em seguida deu uma risada divertida.
- Porque você está rindo? Isso é sério!
- Eu sei que é sério, Tereza. Mas o que você vai fazer? Trancar a menina em casa, pra que ela não saia? Arrumar um barco pra ela ir amanhã cedo? Vai inventar de ir no lugar dela? Cê sabe que nada disso adianta. Ela vai mesmo, quando for a hora.
- Eu sei, eu sei, mas eu não esperava.
- A Sakura tem os pés bem fincados nesse chão, mas a Saori tem a cabeça nas nuvens. Ela tem muita vontade de sair por aí.
- Mas ela é uma criança! Amanhã eu vou conversar com ela, vou falar q ela tem que esperar.
- Mas cê acha que a magia vai esperar?
- Pois ela que espere! Antes de ser bruxa eu sou avó! E eu sei que a mãe delas concorda comigo, onde quer que ela esteja.
- A Saori vai entender, essas meninas são muito boas, obedientes. São tão parecidas com a Diana. Tem o mesmo coração.

Vovó sorriu, nostálgica. Falar disso sempre trazia um gosto agridoce à boca. Eram lembranças de um tempo feliz, que deixou saudade.

Naquela noite eu sonhei com um mar imenso, a perder de vista. Não havia sinal de alguma ilha no horizonte. O céu noturno, salpicado por milhões de estrelas e uma lua cheia, brilhando em prata. Parecia uma pintura. A visão me tirou o fôlego. Um navio, solitário navegando naquele infinito. E eu sabia, de alguma forma, que aquele navio seria minha casa.
Ao longe, eu ouvia aquela mesma melodia me chamando. Um som de flautas e violinos, um coral com muitas vozes.

E eu respondi. Estou pronta, estou a caminho.

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Oi
Então, eu tinha começado a publicar essa história uns meses atrás, mas muitas coisas aconteceram e eu não conseguia mais escrever os capítulos. Então eu achei melhor retirar a publicação e adiantar alguns capítulos.

Eu amo essa história e quero escrever até o final. Ela é especial pra mim e eu espero que vcs gostem dela tanto quanto eu .

É isso, até mais.

Cozinheiro E Bruxa - One Piece FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora