Feitiços contra a dor

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Deu tudo errado.

Eu não poderia imaginar, já que o dia começou tão tranquilo.
Acordei bem cedo, como de costume. Fiz o café da manhã, com chá, café bem forte e rosca de leite condensado com a receita da vovó.
Zoro acordou minutos depois, um pouco mais disposto. Tomamos café e eu saí pra desfazer o feitiço. Ele foi pra fora comigo, acho que estava curioso.

Desfazer um feitiço pode não ser tão simples assim. Mas nos últimos meses eu melhorei bastante meu controle de magia. Vovô João estaria orgulhoso.
Fui pra frente da minha casa, estendi meus braços e iniciei o feitiço.
- Finite Incantatem. Disse um pouco mais alto.
Esses momentos simplesmente me encantam, não importa quanto tempo passe, nem quantos encantamentos execute. Sentir a magia é uma experiência única em todas as vezes.

O vento soprou sutilmente diferente, a poeira da trilha se agitou e as flores desabrocharam nos vasos das janelas. O vento balançava meus cabelos e os pêlos do meu braço se arrepiaram. Fechei os olhos e respirei fundo. Muitos não sabem, mas a magia tem uma música, uma melodia sutil, como flautas e violinos, um coral, algo sublime, inefável. É maravilhoso.
E isso tudo com um simples contra feitiço. Imagine como é com encantamentos complexos?

Zoro parecia surpreso. Ele se mostrou muito sério, até estóico até aquele momento. Mas a magia o deixou sem palavras.
- Isso sempre acontece?
- Sim.
Respondo simples. De fato é verdade.

- A magia está em todas as coisas, tudo é mágico, a energia se move em tudo que é vivo, orgânico. Se você prestar atenção, vai sentir mais vezes.
- Eu nunca tinha visto essas coisas. Eu achava que já tinha visto de tudo.
- "Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia."
Ele ainda parecia surpreso, como se tivesse um ponto de interrogação em sua testa.
Depois disso, eu disse a ele que sairia pra procurar seus amigos. Pedi que ficasse a vontade, até que eu voltasse.

Agora que desfiz o feitiço precisava ser rápida pra encontrar os amigos de Zoro. Não peguei nada em casa, apenas chamei Pirata e segui rumo a trilha, floresta adentro.
Andei por algum tempo, mas não achei nada. Decidi me separar de Pirata e pedir a ele que procurasse em outra direção. Andei por mais duas horas, mas infelizmente não os encontrei. Decidi voltar pra casa, para que pudéssemos almoçar. Pirata não voltou comigo, deduzi que voltaria apenas quando os encontrasse.

Cheguei em casa e fui fazer o almoço. Encontrei Zoro cochilando no sofá, coberto pela colcha de retalhos que vovó fez pra mim. Assim que passei por ele em direção a cozinha, ele despertou.
- Pirata está procurando seus amigos, imagino que logo eles chegarão.
- O gato sabe procurar pessoas? Ele nem os conhece.
- Ele saberá, acredite. Os animais são muito mais inteligentes que nós.
- Eu tenho minhas dúvidas...
- Você está sentindo dor? Mudei de assunto, pois ainda estava preocupada.
- Só um pouco, mas é suportável.
- Deixe-me ver.
Disse, me levantando e aproximando dele.
Zoro me mostrou o ombro machucado, eu desfiz o curativo e observei.
- Vou limpar as ervas que coloquei aqui ontem, e fazer um feitiço contra dor, tudo bem pra você?
- Acho que sim.
- Limpei com o máximo de cuidado, mas ele fazia caretas de dor as vezes.
- Headlov. - murmurei. Seu ombro brilhou com uma fraca luz prateada. E percebi a expressão de Zoro relaxando aos poucos.
- Isso funciona mesmo.
- Parece surpreso. - disse divertida
- Meu ombro acabou de brilhar e a dor sumiu, não é algo que acontece comigo todo dia...
- Dói em algum outro lugar?
- Os cortes no abdômen e na barriga estão ardendo, mas é suportável.
- Você também disse que a dor no ombro era suportável...
- Acho que eu consigo aguentar esses.
- Nesse caso, vou só refazer os curativos.

Enquanto eu limpava os ferimentos e reaplicava a pasta de ervas, Zoro me observava com atenção.
- Você é algum tipo de médica?
Perguntou, por fim.
- Ah não, não. Eu não sou muito boa com magia de cura. Sei o básico do básico, apenas. Eu ainda estou aprendendo a controlar minha magia, tenho muito pra estudar.
- Como funciona isso? Você só fala e acontece?

Eu ri um pouco, toda essa experiência pareceu dar um nó no cérebro dele. Mas eu entendia um pouco. Em Pindorama a magia é algo normal, corriqueiro. Fazemos quase tudo com magia. Conforme fui crescendo, meus avós me ensinaram os princípios básicos de vários tipos de magia. Feitiços de ataque, de defesa, de proteção. Feitiços pra curar pequenos ferimentos, Feitiços de levitação. Eu não me aprofundei muito em nada, até os oito anos, que foi quando descobri o Chamado do Rio. Em Pindorama tudo é mágico.

- Bom, em tese sim. Mas você precisa saber o quê falar. E magia não é só Feitiços. Também existem poções, e canções mágicas. Dança também é uma forma de magia.
- Isso é bem confuso.
- Você só não está acostumado... Precisa conhecer Pindorama.
- Conhecer quem?
- Pindorama é minha ilha natal. O lugar onde nasci, e onde minha família mora. Tudo é mágico por lá. Você ia gostar, com certeza.
- Eu nunca ouvi falar dessa ilha, mas deve ser um bom lugar pra se viver. Você fala de lá com muito carinho.
- Realmente é um bom lugar. Muita gente não conhece, é meio difícil chegar até lá. E é um lugar muito diferente. A música, a comida, a bebida e a cultura, não se parece com nada das outras ilhas por onde passei. Você deveria ir no inverno, temos uma festa com comidas e bebidas típicas, com música e dança.
- Eu não sei onde minha missão me levará, mas gostaria de conhecer essa ilha tão diferente. Luffy com certeza aceitaria ir, se você disser a ele sobre a comida.
- Luffy é seu capitão?
- Sim, é inconsequente e por vezes parece uma criança, mas tem um grande coração e uma determinação muito forte, bem como um senso de justiça imutável.
- Parece uma pessoa muito decente e um bom capitão para seguir.

Zoro sorriu com a resposta. Foi a primeira vez que o vi sorrindo.
- Bom, eu acho que seus ferimentos estão se recuperando bem, você só vai precisar trocar os curativos, eu posso preparar as ervas para que você leve quando partir com seus companheiros. Vocês tem um médico no bando?
- Não temos. Somos apenas eu, a navegadora, o capitão, um atirador medroso e o cozinheiro tarado.
- Um bando peculiar... De toda forma, não é difícil fazer os curativos e logo você se recupera totalmente.

Nesse momento ouvi algumas conversas do lado de fora e saímos para verificar.
Pirata chegou com algumas pessoas, que pela recente descrição de Zoro, imaginei que fossem seus companheiros.

Cozinheiro E Bruxa - One Piece FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora