Sorrow

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Acordei mais tarde do que de costume. Eu escutava vozes que vinham da sala, parecia com a voz da minha tia e de seu marido, isso significava que eles tinham chegado de viagem. A notícia era boa e me deixava um pouco mais animada que o normal, tão animada que eu nem tinha percebido que a janela do meu quarto estava aberta.

Até mesmo minha mãe ficou feliz com a notícia de que tia Emma tinha voltado. Desde que ela se fora, ficamos sobrecarregadas, eu ficava todos os dias no bar e ela cuidava da casa e de Lily.

Minha mãe não parecia tão feliz com o fato de que agora, eu passava mais tempo no bar do que ela, mesmo que ela fosse a pessoa que me mandou ir em primeiro lugar. Mas existia uma razão em especial para que eu fosse com tanta frequência. Marie. Ela ia todos os dias sem falta, eu sempre a esperava antes de fechar, ter uma amiga era algo que eu sempre desejei, eu falava sobre quase tudo com ela, mesmo que ela ficasse calada e não dissesse muita coisa, eu sabia que ela tinha muito o que dizer. Na verdade, eu não sabia se ela confiava em mim ou apenas preferia guardar suas coisas para si mesmo e em ambos os casos, eu conseguia entendê-la. Falar sobre seus sentimentos abertamente com alguém fazia com que você parecesse frágil para aqueles que te escutam, não tem porquê reabrir feridas já cicatrizadas.

- Tia Emma! - Eu corri para a sala a abraçando e ela sorriu dando tapinhas leves nas minhas costas depois se afastando.

- Como você está?

- Estou bem. Estou feliz que estejam de volta.

- Também estou feliz em vê-las novamente, querida. Tem ido na igreja?

- Sim, o padre Antonie tem perguntado sobre você.

- Irei com você essa noite antes de você ir para o bar. - Minha mãe revira os olhos enquanto escuta a conversa.

Tia Emma fez questão de me levar até o bar depois da missa. Ela me deu um terço e disse que aquilo conseguiria me livrar de coisas ruins, mesmo que eu não acreditasse que isso fosse totalmente verdade, eu ainda o coloquei no meu pescoço e pedi para que realmente me protegesse.

Já se passava da meia noite e Marie ainda não tinha chegado no bar, fiquei me perguntando o que tinha acontecido por um tempo, até desistir de esperá-la e finalmente fechar. Isso também havia acontecido nos últimos dois dias. Eu não tinha nenhuma notícia de Marie, não sabia onde ela estava, o que estava fazendo ou se simplesmente tinha ido embora. Eu já sabia que ela não iria ficar tanto tempo na França já que era como um ser nômade e se mudava todo o tempo, então, não seria nenhuma surpresa se isso realmente tivesse acontecido. Pensar nessa possibilidade por algum motivo me deixou angustiada, eu sabia que ela não me devia nenhuma explicação sobre sua vida, mas eu queria saber se ela estava bem, onde ela tinha andado por aqueles dias ou que ao menos tivesse me avisado para não passar tanto tempo esperando por nada. Fui para casa sentindo o frio da noite em meu rosto, eu sentia a falta de ter alguém para andar pelas ruas mal iluminadas do bairro ao meu lado.

Acordei na manhã seguinte sentindo uma terrível dor de cabeça, pensei muito antes de sair da cama mas já parecia ser tarde e eu tinha planos para ir à igreja com minha tia.

Me levantei e abri a janela. Era a primeira noite que ela não amanhecia completamente aberta, provavelmente a ventania tinha sido pouca nessa noite.

- Você parece ter se virado bem aqui, Eva. - Diz minha tia enquanto caminhávamos de volta para casa depois de passar a tarde na igreja.

- Nem tanto...

- Eu admito que não acho que um bar seja um local adequado para uma moça como você, mas de qualquer forma, você tem feito as vendas crescer. Só não se esqueça, trabalho é trabalho, não deixe que isso faça com que você perca sua fé em Cristo, nunca desvie do caminho da igreja como a Amélie fez.

The Bloody House (Romance sáfico +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora