Meu pai fora uma das únicas pessoas durante toda a minha que tentou me amar. É compreensivo não acreditar em minhas palavras agora, mas eu realmente o amei. Assim como amei minha mãe e amo minha tia e Lily.
Nos sábados quando eu frequentava a igreja, o padre sempre me dizia que algo ruim estava prestes a acontecer comigo. Antes de me transformar eu costumava acreditar que esta era a morte do meu pai, mas foi algo além disso. Em algum lugar na Romênia, uma família com sangue maligno assistia os meus passos nas noites mais escuras de Paris. E essa família, agora, estava na minha frente gargalhando enquanto o sangue do meu pai se derramava.
Em alguma parte dessa história, eu deixei Marie visitar os meus piores medos, é verdade. Também a deixei me usar da forma que quisesse, contanto que no final do dia, eu estivesse acordando ao seu lado. Eu a amaria pela eternidade e em troca, ela tornaria minha vida um inferno do qual eu jamais conseguiria sair.
Eu realmente acreditei que era melhor que os Ardelean em algum momento. Mas agora, com o cheiro do sangue doce escorrendo pelas minhas vestes, as lágrimas de arrependimento fazendo uma curva no meu rosto, eu percebi. Não havia seres bons que vivessem sobre as sombras.
Marie tinha me usado. O sorriso irônico que ela esboçava agora me falava toda a verdade que seu disfarce de amante tinha escondido. Ela se deitaria comigo, tiraria minhas roupas, bagunçaria minha mente e me convenceria que seu amor era real. Afinal, seres das trevas também tem a capacidade de amar. Eu não iria perceber até a cena repulsiva estar diante de mim.
Eu nunca me perdoaria pelas coisas que deixei Marie fazer comigo. Ao mesmo tempo, eu era uma viciada que jamais conseguiria me afastar de sua pele.
Eu amava a dor que Marie me causava, eu estava acostumada com ela. Na verdade, nunca entendi como o amor funcionava.
Dos tapas no rosto da minha mãe, da garrafa de vinho quebrada em sua cabeça, dos beijos roubados, da saia levantada sem seu consentimento. Tudo isso era amor, minha mãe acreditava nisso e me fez acreditar também.
Não quero que odeie meu pai. Nem mesmo a minha mãe o culpava.
Eu não me lembro de muita coisa dessa época, quanto menos o meu pai ficava em casa, mais as agressões por parte dele diminuam e por parte da minha mãe direcionadas a mim aumentavam.
Não estou pedindo para que me vejam como vítima. Eu conscientemente concedi que Marie me invadisse por inteira. Não sou inocente, eu menti, escondi meus piores pensamentos, isso talvez faça com que o leitor acredite que há mentiras nas minhas palavras.
Meus olhos estavam abertos e congelados no indecoroso cenário mórbido na minha frente. Eu não conseguia olhar para as minhas mãos, elas ardiam em vermelho.
— Você sabia... Você não estava se sacrificando, você sabia que isso aconteceria... — Eu disse sussurrando olhando para Marie. Dessa vez não havia lágrimas para serem derramadas.
Nós ficamos de frente uma para a outra. Os olhos de Marie brilhavam como o fogo do inferno, seu rosto impiedoso fazia minha cabeça girar.
— Você sabe agora. — Sua voz soa como uma calma melodia mas queima minha alma ao mesmo tempo.
— O quê?
— Você não é melhor que eu. — Marie disse parecendo ainda mais fria do que usualmente era.
— Você sabia que eu não te deixaria morrer! Você me usou, tudo isso para quê?! Para provar algo doentio que criou em sua mente?
— Você sabe que no fundo precisava disso.
As ligações com os humanos nos fazem fracos. Você nunca o amou...
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The Bloody House (Romance sáfico +18)
Vampire"Se o amor não machuca, então por que tenho cicatrizes por todo o meu corpo agora?" Ainda me lembro de todos os detalhes da noite em que eu a beijei. Suas mãos em volta da minha cintura; o nó em minha garganta; o medo que tomava conta do meu corp...