Os anjos descem na luz;
e a luz é o fogo."O número de pessoas internadas com problemas mentais era muito grande em asilos para lunáticos. Muitas pessoas foram mortas e veladas sem um enterro apropriado, alguns sequer tiveram um aviso para os familiares, seus corpos putrificaram debaixo da terra sem lágrimas para cobrir suas lápides. Diversas sepulturas não identificadas foram espalhadas pelo jardim, às vezes parecia que estávamos dando um passeio por um cemitério quando íamos para o lado de fora. O odor era forte mesmo a distância, mas era ignorado, ou talvez, apenas nos acostumamos com o cheiro podre da morte.
"Foi um dia agitado e com neblina quando o cadáver de Anninka se cobriu de terra ao lado do de Martha Ainsley. As pacientes se agruparam na janela para assistir o coveiro enterrar o corpo já pálido de Anninka, elas se moviam freneticamente, algumas pelo pânico, outras pelo frio. Eu não me esforcei para me encaixar no grupo de mulheres que observavam pelas grades da janela, era uma visão dolorosa, os lamentos eram altos e cansativo de se escutar.
"O sentimento febril da solidão se debruçava sobre todos que assistiam as lápides se cobrirem de gelo no inverno. A única coisa que os confortava, era pensar que a terra mantinha Martha e Anninka aquecidas agora. No futuro, as pessoas visitarão este lugar, deixarão velas que vão se apagar com o vento outonal enquanto pensam nas mulheres jovens que perderam suas vidas para a loucura e maus tratos de um lugar que sequer crescia flores do lado de fora.
"Não havia mais nada a ser feito. Anninka e Martha dividiam o solo agora, eu me perguntava quem seria a próxima da fileira.
"Tentar dormir era como viver em um pesadelo.
"Eu precisava fechar meus olhos, mas eles se mantiveram abertos encarando a escuridão. Às vezes, nas piores noites, eu conseguia visualizar o corpo ensanguentado de Anninka deitado ao meu lado. Sua voz era doce e pedia para que eu dormisse. Seus dedos macios se derramavam sob a pele do meu rosto, ela os movimentava levemente como se tentasse me acalmar, foi dessa forma até começar a me machucar. As pontas suaves de seus dedos se transformavam em um ferro quente, eu não me afastava, não tinha coragem. No fim, eu merecia aquilo, a sensação de ser queimada aos poucos, de sentir o cheiro de sua própria carne queimando. Eu suportava a dor até desmaiar com ela.
"Todas as manhãs eu me encarava no espelho, não havia vestígios da noite anterior. Nenhuma cicatriz que provasse que o que vivi foi real.
"Passei parte da minha vida morrendo, assistindo minha pele ser arrancada aos dentes sem marcas para serem deixadas. Este era meu destino, assombrações que não me deixavam dormir a noite com a mistura de todos os remédios que me faziam vomitar no início do dia.
...
"Na noite em que Anninka morreu, meu corpo estava gelado, meus olhos sequer conseguiam se fechar encantados e apavorados pela cor vermelha que se espalhava lindamente pelo chão branco. Uma sensação de euforia juntamente com medo cobria o meu corpo. O medo este que não parecia ter sido causado pelo fim das respirações de Anninka, mas o medo de ter me entregado aos meus desejos, como no dia em que a beijei pela primeira vez.
"Eu conseguia escutar as batidas do meu coração, o suor que descia lentamente pela minha testa causando terror, o sorriso de prazer que se formou e a doce sensação da angústia que percorria meu corpo a cada palpitação. Um gosto leve metálico de sangue se espalhava pela minha boca me levando a beira da insanidade, pensei que estava morrendo.
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The Bloody House (Romance sáfico +18)
Vampiro"Se o amor não machuca, então por que tenho cicatrizes por todo o meu corpo agora?" Ainda me lembro de todos os detalhes da noite em que eu a beijei. Suas mãos em volta da minha cintura; o nó em minha garganta; o medo que tomava conta do meu corp...