Raios de sol atravessavam o vidro da janela da sala e pousavam sobre o rosto de Sanji que acordou incomodado e um pouco confuso. Jurava que estaria num banco de uma praça, mas ainda estava naquele apartamento com um cobertor cobrindo o corpo e a cabeça pousada num travesseiro fofo.
Levantou-se e notou que vestia um pijama que não era seu. Alguém o despiu? Ficou nervoso, mas sentiu uma presença se aproximando e ergueu os olhos na direção do corredor.
— Bom dia, sobrancelha enrolada! — Zoro, o homem, saiu do corredor carregando uma mochila, provavelmente estaria indo para faculdade. — Já que está de pé, será que pode me fazer um café da manhã?
— Ham... claro... mas eu jurava que tinha ido embora...
Sanji piscava os olhos, ainda se sentindo confuso e não sabendo dizer algo melhor que aquilo.
Zoro sorriu com o seu jeito atordoado. — Ontem pelo visto ficou tão cansado em arrumar a bagunça minha e de minha irmã, que caiu no sono. Quando voltei pra casa, decidi que você poderia ficar aqui por uns tempos.
— De graça?!
— Não, terá que fazer comida e limpar a casa para nós.
Mais uma vez sorriu, deixando Sanji estático por alguns segundos. Aquele homem exalava ternura por incrível que pareça, algo que só sentia em mulheres até pouco tempo. Mas de alguma forma, Sanji ainda não se sentia preparado. Cedo ou tarde, o homem iria decepcioná-lo.
Zoro notou o cenho enrugado de Sanji e bagunçou com a mão os seus cabelos volumosos. Na sua mente passava o pensamento de que devia ter acontecido algo ruim para aquele rapaz pálido deixar o seu lar.
— Não fica encucado, sobrancelhas. — Disse depois do loiro afastar sua mão dos cabelos dele, muito enfurecido. — Te levarei mais tarde para o Baratie. Um dos meus bicos é trabalhar como segurança por lá.
Sanji ajeitava o cabelo para seu penteado usual, mas parou quando ouviu tais palavras. — Me levar pro Baratie?
— Sim, Perona me disse que quer trabalhar lá, certo?
Estava chocado por ter arrumado alguém que tivesse contato com o restaurante tão rápido. — Sim, mas...
— Mas o quê?
— Eu não gostei de você, quer ainda me ajudar?
Zoro gargalhou e o rosto de Sanji se avermelhou por conta da súbita raiva, mas também porque o sorriso do homem era bonito e se odiava ainda mais quando lembrava que estava caçoando dele. — Mas não está morando aqui na minha casa? Por acaso tá pisando no seu orgulho só pra não dormir na rua?
Definitivamente era um homem desprezível como todos os outros. — Ainda não disse se vou morar aqui ou não!
— Ora, para com isso! Tenho essa carranca, mas sou gente fina. — Pousou sua mão grande no ombro de Sanji, que levou um susto por achar que mexeria no seu cabelo novamente. — Portanto, esteja preparado para irmos essa noite no Baratie.
Novamente aquele sorriso tenro que queimava suas bochechas, Sanji deu um passo pra trás um pouco atordoado. Zoro parecia outra pessoa naquela manhã, talvez seja por causa delas...
— Okay, estarei te esperando, marimo.
— Marimo? — Perguntou sem entender.
A noite chegou e Zoro passou no seu apartamento para buscar Sanji antes de ir no restaurante. Vestiu seu uniforme de segurança, fazendo-o ficar mais másculo. Sanji o observou, mas não sentiu nojo como provavelmente sentiria se fosse o dia de ontem e nem mesmo relacionou o esverdeado com seus irmãos. Naquele momento, pensou que Zoro estava muito bonito. O uniforme caíra muito bem nele.
Eles deixaram Perona e estavam no trem quando Zoro quis falar algo.
— Você pode sempre contar comigo e com a Perona, enquanto ajeita sua vida aqui.
Sanji pensou que ele falara aquilo para fazê-lo ficar ciente de que poderia morar ainda com eles caso não conseguisse o emprego. O homem era prestativo, além de gentil.
— Okay.
Chegaram no restaurante luxuoso e com um peixe gigante esculpido no teto. O restaurante conhecido no mundo todo e o responsável por fazer Sanji continuar a seguir em frente, ainda que tivesse uma vida dolorosa por conta de sua família.
Se Zoro não tivesse provado a comida de Sanji, muito provavelmente convenceria o garoto a voltar pra casa e esperar alguns anos para realmente poder trabalhar ali. Porém, como já sabia que o garoto cozinhava muito bem, achou melhor ele se arriscar, embora fosse muito novo.
Era somente o segurança do restaurante e por isso Zeff — dono e chef —, não deveria saber quem era ele. Mas mesmo assim se esforçaria para chegar até o velho e mostraria Sanji pessoalmente.
Os dois rapazes estavam parados em frente a porta dupla da cozinha.
— Eu não posso entrar ai. — Disse Zoro, quebrando o silêncio que se apoderou entre eles. Sanji até se assustou, estava muito ansioso e ouvir o tom grave do marimo subitamente lhe fez dar um salto. — Mas vou entrar mesmo assim. — Cerrou as sobrancelhas determinadas e pegou na mão pequena de Sanji, a fim de puxá-lo para dentro daquele cômodo.
Sanji ficou vermelho com o toque e pensou se o marimo não tinha medo de perder o emprego. Mas achou injusto sentir medo e impedir tudo, quando aquele idiota se esforçava para ajudá-lo. Por isso seguiu igualmente determinado e os dois logo se esbarraram justamente com o chef daquele restaurante.
Perona estava em casa, observando o relógio pendido na parede super aflita. Roía as unhas, enquanto pensava que os meninos estavam demorando muito, queria saber se Sanji conseguira o emprego. Ela também pensava que não esperava que Zoro fosse tão prestativo, definitivamente mudou de opinião em relação ao loiro depois que disse que ele havia abandonado sua casa e que queria trabalhar no Baratie.
Como já dito, Perona já tentou fugir de casa uma vez e naquele tempo Zoro ficou muito preocupado com ela. Ele pensou que seria melhor Sanji ficar num lugar seguro, assim como desejou quando Perona desapareceu.
Mas Perona não devia ter um motivo tão forte quanto o de Sanji. O que eram aquelas cicatrizes que ela vira quando seu irmão trocara a roupa de Sanji por um pijama?
Os rapazes estavam no trem voltando para casa. Por causa do horário, havia vários assentos vagos e se sentavam ao lado do outro. Porém, Zoro estava achando Sanji muito quieto, quando conseguira com sucesso trabalhar no Baratie. Zeff pediu para que o menino fizesse um prato dificílimo que Zoro não fez questão de guardar o nome por achar que não entendia nada daquelas frescuras, mas ele conseguiu entender que Sanji agradara o chef e que ainda conseguira um trampo, mesmo que fosse apenas um ajudante.
— Não está feliz? — Perguntou e notou um sorriso triste tomar os lábios do sobrancelha enrolada.
— Hoje acordei com um pijama... foi você que trocou minhas roupas?
— Sim.
Sanji deu uma pequena gargalhada, mas seus olhos lacrimejavam. — Então, você viu...
— Sim. Perona também.
Ficaram quietos, ouvindo o chacoalhar do trem até descerem na estação.
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Only (reescrita)
Teen FictionSanji foge de casa com apenas 16 anos, carrega consigo uma mochila com o básico para sobreviver e um coração descrente das palavras mais tenras. zosan reescrita