Cena 6

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Sanji nunca pensou que trabalhar no Baratie poderia ser tão difícil. Na verdade, ele pensava sim, mas não daquele jeito.

Todos, sem exceção nenhuma, que trabalhavam na cozinha eram muito mal educados e grosseiros. Custava acreditar que refeições tão gostosas saiam das mãos daqueles cozinheiros muito difíceis de se lidar e no final da noite sempre terminava exausto.

Também começara a enfrentar uma crise de ansiedade por conta do terror psicológico de seu ambiente de trabalho com os cozinheiros assustadores e principalmente de seu chef, Zeff. Sanji já tinha uma ideia de que aquele chef tão prestigioso não seria fácil — ele dera um chute num entrevistador uma vez ao vivo na televisão — e, por causa do estresse, passou a fumar mais.

Zoro se sentia preocupado, notava que Sanji não estava agindo normalmente e queria muito conversar com ele, mas o esverdeado sentia um muro ao redor do cozinheiro que lhe impedia de se aproximar. Um muro que parecia ser feito pelo próprio.

No final daquele turno, Sanji fora o último a restar na cozinha e Zeff se aproximou.

— Aqui está sua marmita, berinjelinha.

Zeff tinha o costume de entregar para cada funcionário uma marmita com as sobras do restaurante, era uma forma de não haver desperdício de comida.

Sanji pegou a marmita encucado, não entendia por que Zeff sempre lhe chamava daquele jeito e resolveu perguntar.

— Por que "berinjelinha"?

O velho deu um sorriso afetuoso e que deixou o loiro mais aflito, quando via o velhote de merda sorrindo era de um jeito sempre irônico. Porém, agora estava dando um belo sorriso, algo muito incomum que deixou Sanji com um pé atrás.

— Porque você é ainda uma criança.

Sanji imediatamente se arrependeu da pergunta que fez. Ele se lembrou que dissera a Zeff que tinha a idade de Zoro. Era tão perceptível que não havia ainda alcançado a maioridade?

— Vai me demitir?!

Zeff deu uma gargalhada quando o viu perdendo a cor de sua pele já pálida.

— Para você estar trabalhando aqui, deve haver um motivo. Só te peço que retorne a estudar caso não esteja estudando. — Deu uma pausa e levou uma mão até a cabeça do loiro. — Você é autodidata, mas ainda precisa aprender muito.

Sanji deu um passo para trás a fim de tirar aquela mão de sua cabeça e encarou o velhote muito furioso. Só por que era jovem e sem certa vivência não poderia ser considerado bom? Porque fora a idade, não tinha nada de errado. — Como o quê?!

— Ainda desperdiça muita comida. Isso é um ato arrogante, faz parecer que não precisa da ajuda de ninguém. — Respondeu seriamente, deixando o outro chocado com a resposta, depois pegou da mesa outra marmita também com as sobras daquela noite. — Essa é para o segurança que te recomendou.

Sanji carregava as duas marmitas e resolveu deixar a cozinha para ir ao vestiário a fim de trocar seu uniforme de ajudante por alguma roupa que comprou com Perona sábado passado, mas Zeff lhe chamou quando estava prestes a empurrar a porta dupla.

— Quando estiver preparado para se abrir, se abra. — Deu mais um sorriso afetuoso que deixava Sanji nos nervos. — Pode até ser comigo, mas que jovem vai querer falar com um velho decrépito feito eu? Acho que o segurança é mais interessante.

O rosto de Sanji ficou rubro de raiva e deixou a cozinha imediatamente, mas também envergonhado. Que sentimento era aquele? E desde quando aquele velhote de merda vem o observando para saber que o marimo poderia ser essa pessoa?

— Que tanta comida é essa?! — Perona perguntou num suspiro, perplexa ao ver a mesa já posta.

— O velhote de merda deu uma marmita para o marimo também.

— Estou até agora chocado que ele sabe da minha existência.

— Mas é claro, foi você que recomendou Sanji para ele! E Sanji é um ótimo cozinheiro! — Disse Perona para Zoro num tom rabugento. — Por que não bebemos também?

— Ótima ideia! — Zoro concordou e foi buscar algumas cervejas da geladeira, depois as colocou sobre a mesa.

Sanji estava acendendo um cigarro, mas teve um pensamento ao ver a garrafa de cerveja tão próxima de si. Ele a pegou sem hesitar e virou goela abaixo.

Zoro e Perona se assustaram, nunca o viram beber antes, até porque aquela era a primeira vez que bebia.

— Vai com calma, cozinheiro.

— Não enche, não sou nenhuma criança! Até mesmo fumo!

Os dois irmãos se entreolharam e sem saberem o que fazer, acabaram deixando o garoto encher a cara.

Sanji ficou bêbado, mesmo só bebendo uma garrafa. Falava coisas desconexas do tipo "Baratie vai ser meu" e emendava "Só preciso do poder do afro" para terminar numa risada maléfica. Também dançava e os dois irmãos tentavam acalmá-lo.

Quando tudo parecia calmo, com Sanji dormindo no chão e seu rosto corado, Perona pensou em ir pro quarto. Contudo, notou seu irmão sentado no sofá um pouco impaciente por roer as unhas.

— O que foi Zoro?

Zoro piscou os olhos, como se estivesse voltando para o mundo e encarou sua irmã. — Perona... não sei como dizer isso...

A garota se sentou ao seu lado e pegou numa de suas mãos, sorria afetuosamente. — Você está preocupado com Sanji?

— É... — Seu rosto esquentou e Perona riu de seu jeito acanhado, era raro vê-lo assim. — Sinto que ele não está bem... aliás, ele nunca esteve...

— Sim, desde o início, até porque ele fugiu de casa, só estando mal pra tomar uma decisão dessas.

— E tem as cicatrizes... — Completou e Perona deu um aceno. — Mas não te incomoda ele não dizer nada? Não pedir ajuda ou se abrir?

Perona soltou a mão de seu irmão e ajeitou sua postura. — Bem, Zoro... eu acho que deve ser difícil pra ele... — Ela se levantou, colocando as mãos na cintura. — Vamos continuar fazendo nossa parte de mostrar a ele que somos amigos e que podemos ouvi-lo quando quiser. — Deu uma olhada em Sanji que babava no chão e riu. — Será que você pode colocá-lo pra dormir sozinho? Acho que ele não vai vomitar mais...

Zoro assentiu e sua irmã seguiu para o quarto.

Enquanto o colocava no sofá e o cobria, Zoro pensava que Sanji fora muito ingênuo por achar que aguentaria beber só porque fumava. Tal atitude infantil não era de seu feitio, alguma coisa aconteceu para que ele resolvesse beber.

Suspirou, não conseguia entender por que se preocupava tanto com um adolescente que conheceu há pouco tempo.

No entanto, assim que pensou em se levantar do pé do sofá, notou que Sanji chorava dormindo.

— Cozinheiro?

O rapaz não acordou, continuou a sonhar. Um sonho muito triste que o fazia chorar.

— Mamãe... — Balbuciou e Zoro pensou mais uma vez no muro ao seu redor. Um muro que reprimia todos os seus sentimentos dentro de si e que o esverdeado estava disposto a ouvir.

— Permita que eu alcance você. — Murmurou bem no ouvido dele, depois apagou a luz da sala e foi para seu quarto dormir. 

Only  (reescrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora