Capítulo 9 - Nattawin

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Era terça-feira à noite quando minha mãe ligou a televisão pra assistir o jornal. Ela era uma das únicas pessoas que eu conhecia que ainda era adepta ao convencional programa de notícias.

Notícias políticas era o que mais tinha, eu não ouvia falar de mais nada além disso, exceto a previsão do tempo.

— A tarde de terça-feira foi uma nuvem nublada por Bangkok. Ontem, segunda-feira, foi encontrado o corpo de Yiu Kompgat, uma mulher de quarenta anos que tinha dois filhos e um enteado. — explicava o âncora. Enxuguei as mãos depois de botar a última colher de louça lavada no escorredor e prestei atenção. — Na tarde de hoje a polícia descobriu que os autores do crime foram o enteado juntamente com namorada. Além de Yiu, mais quatro corpos foram deixados no rastro de Tan Kompgat, que se suicidou após o confronto com a polícia.

— Pelo Buda! — minha mãe exclamou com pavor.

— Entre eles estão o pai, os dois irmãos e a namorada. — cortou pra cena de uma casa com faixas de segurança e um furdúncio de pessoas.

— O senhor conhecia eles? — a repórter perguntou para um homem, na tela apareceu o nome e que era vizinho das vítimas.

— Eram meus vizinhos a mais de dez anos. Uma família prestativa e que sempre ajudava como podia, uma pena um doente como esse ter acabado com isso. Esse garoto parecia ser alguém bom. — disse o homem.

Cortou para a imagem da repórter na frente da casa.

— O assassinato da mãe foi descoberto após um dos investigadores conseguir uma imagem das fitas de segurança da casa da frente. Mais cedo, ele já tinha vindo aqui confrontar a família após acharem a faca usada para cometer o crime no banheiro de uma lanchonete que fica em frente à escola onde o garoto estudava. — a cada palavra dita, minha mãe arregalava mais os olhos. — Só descobriram sobre as outras quatro mortes quando invadiram a casa atrás do criminoso, que ameaçou os policiais com um rifle de caça e atirou na direção de um deles, que, por sorte, conseguiu ser rápido antes que a bala o atingisse.

Cortou para outra cena, quase engasguei quando vi Mile sentado em uma ambulância com o rosto ensanguentado e uma gaze pressionando o ferimento na cabeça.

— Como foi o processo de descobrir que Tan Kompgat era o autor de todos esses crimes bárbaros? — perguntou a repórter.

— No momento, não posso dar muitas informações. — dizia ele. — Entretanto não foi difícil, ele não podia se esconder para sempre.

— Vejo que ele tinha o senhor como alvo específico, tinha algum motivo pessoal? — Mile suspirou, cansado e provavelmente com dor de cabeça. Os braços aparentemente tinham escoriações leves, mas ele estava sujo de sangue então não sabia definir se era dele ou de outra pessoa.

— Provavelmente porque o confrontei pela manhã. Ele sabia que eu tinha descoberto sua faceta e que logo a casa ia cair. — explicou Mile na tela pra repórter.

Voltou para os âncoras e outra notícia começou a ser dada.

— Que coisa horrível, tenebrosa. — minha mãe disse. — Como um rapaz pode fazer coisas assim com a própria família?

— Não sei, mãe, as pessoas são loucas, outras mais do que deviam. — dei de ombros.

Mile quase morreu. Outra pessoa próxima a mim quase morreu.

Que sensação estranha. Eu já havia sentido isso antes.

É a mesma sensação que senti quando vi Mew no leito de morte. Medo.

Mas eu não sabia definir do que eu estava sentindo medo. Talvez um pouco de ansiedade.

— Argh. Vou trabalhar que é melhor. — murmurei pra mim mesmo e fui pra oficina.

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