Sherk

62 8 1
                                    

Ivo dividiu seu grupo de trinta para que cercassem a casa, ele tomou a frente com cinco dos seus oferecendo cobertura.
Ao entrar a primeira coisa que reparou foi nos tênis de Cibele, os únicos que ela tinha, no chão da sala uma mancha de sangue que começava próxima à janela, seguia até um longo corredor e terminava em um quarto.
O traidor fez sinal para que os outros ficassem do lado de fora, entrou sozinho sorrateiro, a porta do banheiro estava aberta e de lá vinham gemidos e choro. Ivo sentiu-se tonto e enjoado, aqueles sons lhe transportando ao seu passado sombrio, balançou a cabeça para afasta-los e continuou.

O mundo se calou, apenas imagens piscavam diante de seus olhos, imagens de homens e mulheres lhe abusando quando era um menino, Ivo já havia visto e vivido aquela cena diante dele vezes o suficiente, mas ainda ficava paralisado sempre que tinha que enfrentar tal coisa novamente.

— YEEEEEEEEEEEEEEE - JUN!

Ye soltou Cibele e saiu dela, mas a manteve ainda contra a parede atrás dele. O maldito estava apavorado, nem todo pó do mundo poderia mantê-lo inabalável diante de Ivo colérico.

Ivo estava com o rosto e orelhas rubros, ele soltou o revólver, avançou em Ye como uma fera, agarrou-o pelo pescoço e o puxou para fora do banheiro.

Cibele chorou aliviada e assustada, Ivo gritava coisas desconexas era impossível entende-lo. Dolorida, machucada, com a dignidade em pedaços, pôs o pé para fora da banheira, quase escorregou ao sair seu corpo tremia fraco, pegou uma toalha para cobrir seu corpo e chegou até a porta do banheiro onde apavorada assistiu Ivo e Ye desferirem socos que pareciam capazes de quebrar rochas.

De repente tiros, Cibele se agachou encostada no batente da porta com as mãos nos ouvidos. Eram muitos barulhos ao mesmo tempo, de tiros, gritos, chingamentos, espancamentos, Cibele sentia-se a beira de um colapso.

Ye assoviou e quando ele fez isso dois Rotweillers agressivos entraram avançando Ivo que sacou uma faca e degolou um (golpe de sorte), ele estava apavorado, visivelmente abalado, se levantou afobado com a faca apontada para o outro cachorro que rosnava ameaçando ataca-lo. Cibele sabia onde aquilo acabaria se não fizesse algo para ajudar; Ivo entraria em crise, a postura trêmula e defensiva, o olhar assustado, tudo nele era familiar.

Ye riu, se levantou com o rosto inchado e ensanguentado, ficou parado contemplando a miséria daquele que um dia foi seu parceiro.

Cibele se forçou a reagir, destampou as orelhas, se apoiou no chão para levantar, foi quando encostou em algo, quase pulou assustada, mas virou para olhar onde sua mão estava e paralisou encarando o objeto.

— Você... — Respirou ofegante. — Tinha que se meter, né? Ji - hoon... — Engoliu a saliva ofegante. — Isso não pode se espalhar ou vou me complicar com o Max, você vai ter que morrer aqui.

Um tiro e uma fincada na cabeça como se alguém tivesse lhe dado uma pedrada. Ye virou devagar para Cibele, ele estava em choque, colocou a mão na cabeça imediatamente sentindo algo molhado e depois tirou mantendo ela erguida frente ao rosto, sangrava, a visão ficou turva, as pernas bambas, abriu a boca, mas não saia som.

Cibele mantinha o revólver firme e apontado para Ye, olhando nos olhos dele atirou novamente dessa vez no peito do criminoso que tombou no chão. Ela sentia suas forças se esvaindo, mas fez sua última contribuição para por um fim naquilo atirando no cachorro. Tinha que admitir, matar o cão foi mais doloroso do que o humano porque o cachorro não tinha culpa no que fazia, mas seu dono sim.

Ivo demorou uns segundos para voltar a si, quando isso aconteceu correu até Cibele, ela virou o rosto e abraçou a si mesma.

— Não, olhe pra mim, não olhe pra mim.

Marginais Onde histórias criam vida. Descubra agora