Dívidas

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Aqueles criminosos eram mais organizados do que pareciam. Ivo a fez assinar um contrato de sigilo para que nenhuma informação acerca deles vazasse, havia uma cláusula até em caso de sequestro e tortura, tão bem escrito que desconfiava ter sido feito por um advogado. Cibele assinou, não tinha escolha já que mudar de casa estava fora de cogitação por um bom tempo.
À uma hora da tarde aqueles caras foram embora, sua porta foi consertada, suas coisas estavam novamente organizadas na sala, a louça sobrou toda para ela, já que lavou tanta coisa aproveitou a disposição e fez uma faxina também, às quatro da tarde, depois de um banho, sentou em seu colchão para retomar os estudos, três horas depois foi quando seu benfeitor apareceu, de banho tomado, perfumado, com um buquê de rosas azuis e brancas, acima de tudo uma garrafa de vinho espanhol cara e duas caixas de pizza. Ele usava terno e gravata, todo de preto, Cibele tinha que admitir aquele criminoso era muito bonito e charmoso, ainda assim ficou nervosa quando atendeu a porta, porque ele mexia com os nervos dela, mas de uma maneira muito ruim.

— Acho que errou de porta.

— Pra você. — Falou oferecendo o buquê e entrando sorridente.

Cibele fechou os olhos por uns segundos tentando se acalmar enquanto segurava aquele presente, era perfumado, um cheiro tão fresco e sútil.
Ye deixou as pizzas e o vinho ao lado da "cama" e foi para cozinha.

— Obrigada. — Agradeceu sem jeito.

— De nada, Cibele! — Gritou animado da cozinha. Ele voltou com dois pratos, dois copos, talheres. — Copos não são tão românticos como taças, sinto muito, prometo compensar no nosso próximo encontro.

Ela arregalou os olhos e sorriu nervosa.

— Não acha que está indo rápido demais?

— Não sou homem de perder tempo e enrolar. Gostei de você, vamos namorar, aqui está nosso primeiro encontro, aproveite. Comprei pizzas mistas, pois não sabia ao certo que sabor gostava, como é mulher o vinho é doce, tentei não errar.

Ye estava concentrado servindo os pratos, Cibele colocou a mão na testa, sentia-se zonza.

— Ye...

Ele olhou para ela com seu sorriso largo.

— Vejam, só, descobriu meu nome, ao menos parte dele. Viu? Já estamos fazendo progresso como casal.

— Ei, senhor bandido. — Cibele sentou de frente para ele. Ye não ergueu os olhos do que fazia para dar-lhe atenção, visivelmente incomodado com a forma que ela o chamou. — Ye... Eu... Eu não quero namorar com alguém tão... perigoso.

— Pra você sou inofensivo, pode ficar tranquila. Toma. — Entregou um prato com cinco fatias de pizza, coração, frango com catupiry, calabresa e bacon. —  Borda quatro queijos. — O estômago de Cibele roncou, com a cabeça baixa ela agradeceu sem jeito. O relógio preto no pulso dele era elegante, com tiras de couro e analógico. — O que estava  fazendo antes d'eu chegar?

— Estudando.

— Mas você já não é formada? — Ye fez um sanduíche com suas fatias, segurou-se como se fossem e abocanhou-as ao mesmo tempo.

— Pretendo conseguir uma bolsa em medicina no final do ano. — Contou olhando apavorada ele comer. — Fiz enfermagem porque não queria ficar desempregada e também porque não queria mais trabalhar no comércio.

— Que legal, minha garota é muito inteligente. Estou orgulhoso. — Falou olhando nos olhos dela.

O canto do lábio de Cibele tremeu.

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